Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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8 de maio de 2014

TRÊS POESIAS NO FEMININO

 Ana Paula de Jesus Faria Santana nasceu a 20 de Setembro de 1960, em Luanda.
Completou o curso de Ciências Económicas na Universidade de Lisboa.
A poetisa publicou, em 1986, “Sabores, Odores e Sonho” .



Música Sanguínea


No cimo do tambor
continuar brincando, queria,
mas não,
Cantar o belo,
mas as mãos, os olhos, a carne?
(quanto sofre a carne inconformada)
ter olhos passando tempo
pelo imediato,
eu passo
por aqui, sempre
(como não encontro o infinito)
a angústia no caso
que não há.
Como romper, rasgar
para essa lua entrar,
que luz?
Aonde o sol
e o tempo para soltar a voz,
a fórmula do amar
à força de estar, quem entende?
Oh, discreto riso,
suave tristeza,
olho molhado, olhando-se,
amor fardado (falhado?)
o que será dessa
música sanguínea?


Ana de Santana


**


Ana Maria Branco
Ana Maria José Dias Branco, nasceu a 24 de Maio de 1967, no município de Lucapa, província da Luanda Norte. Obras Publicadas: «Meu Rosto e Minhas Magoas» (1997) e «A Despedida de
Mim»


Sétimo Poema


Dormitei na noite coberta de frio
Enquanto sonhava
Com a tempestade que me cobria
Quando subtilmente
Entreabri os olhos
E despertei sobressaltada
Ouvindo uivos e ganidos do vento furioso a lamentar-se.


Subi os degraus da solidão
E ouvi
O vento chamar por mim,
Como quem diz:
— "Sai, Sai, procura os filhos que pariste perdidos algures pelas savanas distantes das praias ensolaradas africanas".

O medo entranhou-se-me
Nas veias ensanguentas da carne
Estremecendo a medula dos cérebros
Que tão dificilmente carrego.
O vento estava furioso comigo
E a chuva castigava-me inocente.
Estava tudo coberto e enevoado,
A água escorria e encobria
Todas as portas dos vizinhos desconhecidos,
Nenhum som era desenhado na terra figura da chuva forte.



Ana Maria Branco 

**



Nasceu em Kwanza-Sul em 1968.
Obra publicada: "Os botões pequenos sonham com o mel" (2001).


Declaração


Nasci
No ventre desencantado da serpente
No leito guarnecido das sementes

Cresci
Nos trapos sujos do desespero da rocha
Encaracolado e desfeita pelo projecto do cão

Multipliquei-me
Na corrente do desequilíbrio cívico dos sinistrados
Como uma espécie de insecto que pernoita no zumbido
                                      da argola e do conto

Morri
Sem uma bela insígnia distinguindo minhas intimidades
Sem uma coroa bonita ao redor do meu sonho

Carla Queiroz

1 comentário:

António Eduardo Lico disse...

Belos poemas. Obrigado por partilhar.
Abraço.