Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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28 de abril de 2010

CHÁ DE CAXINDE - UNIR PELA CULTURA -

É uma das grandes instituiçoes culturais da Angola independente e com uma enorme projecção internacional. A Chá de Caxinde nasceu em janeiro de 1989 e passados 21 anos é uma grandiosa instituição que orgulha os angolanos.



UNIR PELA CULTURA

Em 1989, Luanda vivia num vazio cultural e sob o peso do recolher obrigatório resultante da guerra em que Angola estava mergulhada. A associação Chá de Caxinde foi criada nesse ano como resposta a este cenário. (...) Chá de Caxinde é não só um nome incontornável na cultura angolana mas também local obrigatório para quem quer respirar e fazer parte do que de melhor se faz em Luanda nos mais variados domínios das artes, do debate e da reflexão.
Hoje, recorda Jacques dos Santos, 64 anos, fundador da associação, Luanda é uma cidade com múltiplas ofertas culturais. Mas não era assim em 1989, quando, no dia 28 de Janeiro desse ano, reuniu mais oito pessoas, a quem chama de "grupo percurssor", e lançou as bases daquilo que é hoje o Chá de Caxinde.
"Não havia uma editora - hoje existe uma com o nome da associação - não havia livros nas livrarias, teatro, dança... o recolher obrigatório limitava e muito a vida das pessoas. A 28 de Janeiro de 1990, foi assinada a Acta de Proclamação da associação, subscrita por 100 pessoas", lembra Jacques dos Santos, que é escritor e deputado do MPLA.
Actualmente a associação tem 600 sócios, entre estes os escritores Pepetela, criador da frase que serve de azimute ao Chá de Caxinde, "Unir pela Cultura", e Luandino Vieira, que desenhou a "bandeira" da associação. Um dos últimos nomes a entrar para a lista foi o de Marcelo Rebelo de Sousa.
O debate e a reflexão estão também no centro das actividades do Chá de Caxinde. As discussões em torno do arrojado e luxuoso projecto arquitectónico em curso na Baía de Luanda foram ponto alto na vida da associação.
"Somos contra, fomos contra e os nossos debates tiveram importância ao ponto de o projecto inicial ter sido alterado. Para nós, tudo aquilo que descaracterize Luanda é um erro e dizemos sempre o que pensamos", garante.
Mas nem tudo são rosas, ou folhas de caxinde, a planta que permite o chá com o mesmo nome, que, além das suas propriedades relaxantes, simboliza em Angola, onde esta beberagem é consumida de Cabinda ao Cunene, a sabedoria.
E Pepetela, numa curta declaração durante a festa do 19º aniversário da associação, deixou um recado claro: "Aqueles que querem que o Chá de Caxinde acabe, esqueçam. Desistam eles antes porque nós vamos continuar".

(Texto em itálico retirado de: http://tv1.rtp.pt/noticias/)
 
Nota: o chá de caxinde (Cymbopogon citratus) é o que em Portugal se chama chá príncipe e no Brasil capim-limão ou capim-cidreira.

23 de abril de 2010

FERNANDO CATERÇA VALENTIM - PINTOR




Valentim, é o nome artístico do angolano Fernando Caterça Valentim. Nasceu na Gabela, província do Kwanza Sul, no dia 5 de Maio de 1950.
Valentim foi aluno do pintor angolano Luzolano João de Deus, desenvolveu a sua arte mostrando a paixão pelos motivos angolanos. É membro da UNAP – União Nacional de Artistas Plásticos – desde 1977 e da Sociedade Portuguesa de Autores, em Portugal.
Valentim luta pelo crescimento da sua arte e da sua expressão artística, aprofundando os seus conhecimentos técnicos também, sendo referido no catálogo da IV Bienal da Arte Bantu, realizada em Libreville-Gabão pelo CICIBA, como um dos grandes pintores angolanos.
Está presente em várias exposições nacionais e internacionais, como é o caso de França, Inglaterra, Portugal, Itália, Argélia, Brasil e Egipto. Em Angola, a sua obra já viajou por Benguela, Huíla e Luanda. Em 1985, esteve presente na Exposição Internacional de Arte Bantu, organizada pela CICIBA.
As suas obras mais emblemáticas e de maior expressão mediática são “Lágrimas da Negra” e “O Sol Negro”. A primeira foi doada à galeria de pintura Naif Podgorica – ex-Titograd – e representou Angola na Exposição de Arte dos Países Não Alinhados, no Cairo - Egipto. A famosa tela, “O Sol Negro” encontra-se no Museu da Torre Nabemba, em Brazzaville, na República do Congo.

A sensibilidade artística conduziu-o à publicação do livro de poemas “Sentimentos” em 1993.
Em Julho de 1994, Valentim é o vencedor do grande prémio Presidente da República do Congo, na V Bienal de Arte Bantu Contemporânea, realizada em Brazzaville e promovida pelo CICIBA, com a sua obra “A Aurora”.
Multifacetado, o pintor frequentou também o curso de pintura de azulejos, na escola Inatel, nos anos de 97-98. A exposição “O Paraíso das Pérolas”, dedicada aos azulejos, desenhos e à pintura de Valentim, foi um êxito em Portugal, no Lagar do Azeite em 1998.
Durante vários anos, foram muitas as exposições nacionais e internacionais, que deram e dão vida à arte de Valentim, «…que é hoje um dos grandes pintores angolanos».

12 de abril de 2010

PORQUE OS RIOS...

Rio Cubango (foto net)


                                                        A partir de um comentário de Cirandeira:
"Águas não têm cabelos", dizem em minha terra.


As águas não têm cabelos
são pranto brisa canto
uma líquida clepsidra
solta arrastando tempo
corpo, mistério de Kianda.
As águas não têm cabelos
são a Kianda em si mesma
penteando a cabeleira
ao longo do rio a passar
e as águas não têm cabelos
são mosto a lançar uanda
no feitiço a fluir novelos
a boiar sortilégios e mitos
porque os rios... as águas
dos rios não têm cabelos...

Namibiano Ferreira

Kianda - divindade das águas.
Uanda - rede de pesca.

5 de abril de 2010

A PALAVRA NAMIBE



A palavra Namibe, segundo uns deriva do idioma falado pelo povo Khoi, um povo não-bantu da África Austral. Namib, significaria, na sua língua, “deserto” ou “lugar sem gente”.
Para outros, a palavra tem origem no idioma de outro povo não-bantu, os dâmaras, povo que habita a Namíbia e significaria “imenso”, “enorme”.
Seja qual for a sua origem etimológica, o Namibe é um dos mais antigos desertos do mundo e que se mantem em condições áridas ou semi-áridas há mais de 80 milhões de anos.
Namibe, é o nome da cidade angolana capital da mesma província. Foi aí, na cidade de Tômbwa, o meu local de nascimento, como já estão fartos de saber os frequentadores assíduos desta Ondjira.
Muita gente tem aqui chegado pensando que o meu pseudónimo, Namibiano, tem a haver com a República da Namíbia, país que se situa ao Sul de Angola. Não, puro engano, o nome foi escolhido quase instintivamente no primeiro poema que fiz há quase 33 anos, não sei a data certa e nem esse poema existe mais. Intitulava-se o poema: “Sou Namibiano”. Assim era por ser natural da província do Namibe. Ainda me lembro do final do poema, mais ou menos assim: “sou namibiano e trago no peito/ uma welwitschia a sangrar”. Lá por volta de 1980 ou 82 comecei a assinar todos os meus textos com o meu actual pseudónimo. Portanto, muitos anos antes da independência da Namíbia e que nessa altura se chamava Sudoeste Africano e estava sob a administração do regime raciasta da África do Sul, o Apartheid.
Pinda - Namibe (Angola)

Namibiano é uma homenagem à terra natal e ao povo mas é também uma espécie de pacto escrito no pergaminho invisível do tempo que me mantem preso a uma das maiores aventuras desta minha vida: ter nascido em África, Angola.



REGRESSAR DE NOVO

Partir no rio de Kalungangombe*
e, depois, quando voltar de novo,
hei-de vir montado na garupa
viva das boiadas andarilhas
pele a cantar ngomangombe**
levantando no peito do ar
um mar de poeiras a festejar
e eu, calçando meus nonkakos,***
serei um pastor Ovakuvale****
conduzindo meus bois
na árida oferta da terra Namibe.




Namibiano Ferreira
 
* Aglutinação de duas palavras: kalunga + ngombe (boi). Neste sentido é um ente espiritual que acolhe o espírito dos mortos no outro mundo.
** Ngoma (tambor) e ngombe (boi), aglutinacao feita pelo poeta.
*** Sandálias feitas com pneus de automóveis e usadas pelo povo mukubal e outros do deserto.
**** Povo (mucubal, kuvale) do deserto do Namibe do grupo etno-linguístico dos Hereros/Helelos.