Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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28 de agosto de 2009

TATU – VI – AGENS

Ngoma


Kissanje





Nascer rasgando a carne
e morder o ventre da terra
no corpo nu que se entrega
ao sacrifício da vida.
Alma:
rosa de palpitar chuvas
kissanje a bailar povo.
Coração:
ngoma de cantar a terra
mulemba a falar da paz.
Corpo:
mafumeira de beijar Kwanza
ulungu a viajar Poesia...



Namibiano Ferreira



Kissanje – instrumento musical.
Ngoma – tantã, batuque.
Mulemba e mafumeira – árvores angolanas.
Ulungu – pequena canoa.


Ulungu

DESPERTAR

Para Dinah

Acordar
e ter um poema
para olhar-te
mordendo
a Primavera
na polpa
do morfema,
fruta suculenta
que me estendes
sobre a bandeja
d’alabastro
do teu corpo
puro desejo
que sacia
minha fome.





Namibiano Ferreira

26 de agosto de 2009

NONKAKOS

Nonkakos (foto de Tonspi)


Era o tempo em que as acácias floriam garridas
cabeleiras sobre as longas avenidas da cidade
e havia a liberdade a despontar no céu da madrugada...


Eu trazia o tempo da nudez no chão da alma
e pisava o ventre da terra com a pureza do coração.
Minhas imbambas eram ventos do leste e sementes
armazenadas nos tijolos da liberdade e construção
do país novo a construir de mãos dadas com o povo...
e agora, aqui nestes corredores frios de civilização,
já não sei andar minha nudez com o chão da alma
sobre o ventre quente da terra rubra-negra.
Doem-me os pés se andar descalço! Civilizei-me!
– Dizem! – Civilizei-me no calçar de sapatos apertados
made somewhere in Global City e fabricados
por mãos humanas pagas com salários de coisa nenhuma.
Os pés da nudez, pedúculos de inocência e liberdade,
perdi-os, troquei-os por todas estas materialidades
que supostamente me deveriam fazer feliz...


Poderá a chuva – riso de Ombera – trazer de novo
a verdade nua de sentir a terra e o pó vermelho
dos caminhos a pintar telas, a tilintar horizontes?


Oh, meu povo Mukubal, guerreiros de liberdade!
emprestai-me vossos velhos nonkakos, como aqueles
que usei nos tempos de minha juventude...
sujos e gastos e cobertos com pó-vida do deserto.




Namibiano Ferreira



Imbambas – bagagens, pertences.
Ombera – chuva, em idioma Tchierero do povo Mukubal.
Nonkakos – sandálias usadas pelos mukubais.

24 de agosto de 2009

BENGUELANDO


Otchingandji (Tela de Arlete Marques)


O que lembro de Benguela? Nada, mesmo nada! Uma ténue imagem: Kamunda!
Cabras, creio, pastando ou simplesmente vagueando. Mulheres negras puxando barris cheios de água, com o líquido batendo lá dentro a lembrar o enorme estômago de um Omakisi.
Os ritmos de otchingandji e nesse tempo se dizia era xingães.
Esta ténue imagem será lembrança real, lembraça lembrada ou colagem iconográfica de outros muitas lembranças?
Deus, de que são feitas as lembranças? Na Kamunda, eu era tão candengue mesmo.


Namibiano Ferreira


Omakisi – monstro
Kamunda - arredores de Benguela
Otchigandji – termo genérico para designar a máscara (Ocinganji – idioma umbundu). A população maioritária do planalto central é Ovimbundu, cujos ritos de iniciação masculina, evamba, envolvem as acções dos Ocinganji, respeitados e venerados pela comunidade. Como noutros povos que usam as máscaras, entre os Ovimbundu também proíbem a revelação dos segredos do mundo das máscaras às mulheres e aos não circuncidados, nem aproximar-se delas, pois podem eventualmente descobrir a voz da pessoa mascarada.
Candengue - crianca

19 de agosto de 2009

ECOLOGIA, IGUALDADE E GLOBALIZAÇÃO



"Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará."


Chefe Seattle (índio norte-americano)




Mete medo esta voracidade humana. Mete medo esta global aflição do mais forte comendo o mais fraco, num acto descarnado e antigo como a aurora do mundo e ferozmente permanente.
Mete medo esta desumanização que pulula no lombo morto dos caminhos. Tudo devoramos à nossa passagem, devorando o Futuro num acto consciente e egoísta mas confiantes na aurora dourada de amanhã.
Glorificamos, num global magnificat, o progresso, essa tão apregoada Globalização, que não reflecte, em coisa nenhuma, toda a nossa humanidade e em vez de uma franca e honesta solidariedade global assistimos ao alvorecer de uma pretensa nova era para a global humanidade mas que nos remete para a acidez de uma nova nomenclatura a rimar, sem disfarçar, com totalitarismo, exploração e colonialismo.
Confiantes, os senhores do politicamente correcto, os governantes dos países todos, glorificam a ecologia verde do dólar e azul do euro. E o povo? Deixem-me soltar uma franca e triste risada, o povo que se lixe e como dizia um famoso humorista* brasileiro: “o povo que se exploda!!”
Globalização? Sim, talvez sim mas não esta que segue por este caminho escuro e egoista. Vamos globalizar pela via do humanismo, da verdadeira igualdade, da paz, da solidariedade, da justiça, da partilha entre todos os homens de boa vontade em harmonia e sem superioridades mas mostrando as veias vermelhas da nossa humana e universal condição.


Namibiano Ferreira



*Refiro-me a Chico Anísio, interpretando a personagem do senador Justo Veríssimo.

RES NATA




Procuro os pequenos momentos
perdidos nos dias vazios de nada...
e vou pendurando missangas coloridas
nos cabelos invisíveis do tempo.


São pequenos momentos
pequeninos pólens, sílabas de nada
como sandálias de brisa sujas de pó
acariciando os pés descalços de um Deus
aprisionado na poeira sideral dos caminhos
quase pagão e de fraco panteão.


Namibiano Ferreira

6 de agosto de 2009

QUARTA ANTOLOGIA - Poemas Versos Crônicas -


Vou participar em mais uma antologia que sairá muito em breve na I Bienal Internacional do Livro de Curitiba – Brasil.
“Poemas Versos Crônicas – A Arte desafiando a Vida”, assim se intitula a obra, tem a chancela da Abrali Editora, sediada na cidade brasileira de Curitiba.
Nela participo com cinco poemas, um deles é o poema que dedico a Vó Mariana, uma mulher que realmente existiu e que foi minha conterrânea e vizinha, paz à sua alma.


Este livro pode ser adquirido online, siga o link: http://www.abrali.com/loja/



Bessangana - Tela de Neves e Sousa


Homenagem a Vó Mariana esposa do grande Soba Republicano da Cidade de Tômbwa .




Xé, miúdos da minha cidade!
É tempo de pôr rolha...
Vó Mariana espera os meninos todos
Envolta nos seus panos compridos
Descendo sobre o corpo esguio de velha sabedoria.

Contra o makulu não há rival
Sabe todos os segredos:
erva de Santa Maria
pau de kissékua…
Se o menino tem bucho virado
Vó Mariana sabe também
E na sua casa entram os miúdos todos.

É tempo de matar o makulu
vamos só na casa de Vó Mariana
pôr rolha e tomar kissékua…

O vento parou e o tempo teimou em passar.
Vó Mariana, provavelmente, já morreu
Só eu, tão longe, sismo em lembrar:
makulu, rolha, kissékua...
e Vó Mariana aberta num sorriso de marfim
vem recebendo, à porta de casa, seus netos todos:
meninos pálidos-negros-morenos.



Namibiano Ferreira




Pau de kissékua – casca de determinada árvore que se reduz a pó e com o qual se faz um medicamento tradicional (kissékua) contra os vermes intestinais.
Makulu – vermes intestinais, vulgo lombrigas.
Rolha – misturas de ervas esmagadas que se introduz no ânus das crianças como terapia contra o makulu.

4 de agosto de 2009

PRÉMIO BLOG DE OURO




Recebi este selo da amiga Graça Graúna http://ggrauna.blogspot.com/

Graça, muito obrigrado por este presente.
Para compartilhar, vamos às regras...
1. Exiba a imagem do selo “Blog de Ouro”;
2. Poste o link do blog de quem te indicou;
3. Indique 5 blogs de sua preferência;
4. Avise seus indicados;
5. Publique as regras;
6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo.
Eis os meus indicados:


Poesia Lilaz-Carmim