Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA
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29 de outubro de 2013

KIANDA


 
Imagem retirada de Malembe Malembe


Nua, vestida de vento e purpurina
a Kianda penteava o mar
nas tranças maresia do cabelo
e trazia pedacinhos de salsugem
no fogo pétala dos beijos.
Kianda nua, pele luzidia a cantaromar
a chuva mística do semba da lua
o meu corpo afagava e eu, quase a morrer,
desejava tocar seu corpo intocável e puro:

Kianda nua, vestida de vento e purpurina...


Namibiano Ferreira

24 de outubro de 2013

MUSANGOLA - TRIGO LIMPO

Para sacudir a poeira da bunda...





UM CAFUNÉ MÃEZINHA!


À memória de Luzia Bettencourt M., minha mãe.



Um cafuné mãezinha
Um cafuné na minha carapinha
Mimos e carícias nos meus cabelos
Numa brincadeira de assim
Meu cabelo ruim
E teu cafuné a embalar meus pesadelos!

Um cafuné na minha carapinha
Teus dedos mãezinha, rios
E estrelas nos receios
E caminhos dos meus cabelos
Teus dedos tranquilos
A me afagarem assim mãezinha!

Um cafuné a embalar meus medos
E o amor a brotar e a jorrar
Na minha carapinha
Que eu oiço a voz do luar
Mãezinha
Oiço o luar nos teus dedos!

Um cafuné e conta-me estórias
E sabedorias:
“Era uma vez, o coelho e o macaco…”
Uma estória de carapinha
A adormecer noitinha
E eu durmo o embalo do teu cântico!

Os caminhos do dia correm pantanosos
Os silêncios da noite misteriosos
Eu em medos e manias
À espera das tuas estórias
Teu cafuné mãezinha
A adormecer-me a carapinha!

Oh! A noite é dura
E eu durmo insónias na noite escura
A sonhar teu cafuné mãezinha
Minha carapinha castanha
Meu cabelo ruim
À espera mãezinha, num cafuné de assim!

Um cafuné mãezinha
Um cafuné na minha carapinha!

Luanda, 20 de Janeiro de 2007.

Décio Bettencourt Mateus

in Xé Candongueiro!




23 de outubro de 2013

MÚSICA DA DÉCADA DE 70 (TCHININA, PAULINO PINHEIRO, MILA-MELO & PRADO PAIM)




~



A MÃO DO VENTO NA SAVANA

Mais de três décadas depois de surgirem Vinte Canções para Ximinha, (1971) e Caderno dum Guerrilheiro, chegou a hora da republicação desta poesia de João-Maria Vilanova. Um acto de justiça elementar a um injustiçado poeta angolano da modernidade. A poesia de Vilanova pela mão de Luandino Vieira.

Poesia - João-Maria Vilanova
Edição/reimpressão: 2007
Editor: Editorial Caminho
ISBN: 9789722116220
10,90€




Que voz perpassa
em teu dorso quando
a noite
passos-de-onça
se aproxima?
Memória de areais
Negras falésias?
Se te escutando
paciente é o trabalhar
de onda.
Eflúvios frémito
um deus muíla que subisse
monandengue
só da raiz do sangue.


João-Maria Vilanova 

22 de outubro de 2013

QUEM MATOU SOFIA ROSA - ÁFRICA TENTACAO

Homenagem ao Sofia Rosa (assassinado em 1975, no Lobito) dos África Tentacao.



NO ÓVULO DAS CIDADES



Começaram as chuvas.
O dia caminha mole e cinzento
dentro da tromba do elefante.

Nosso rio estruturou no céu
seu caudal pleno de batuques e ferreiros.

Mais altas que o vento voam as mulheres
de seios sangrando o sono azul dos pássaros.

A cabeça da terra irriga os lábios da infância.
As madeiras suspensas da fala estão húmidas.

Amanhã vamos levar nossas enxadas e depor
uma lágrima de esperma no óvulo das cidades.


José Luís Mendonça

21 de outubro de 2013

QUERIDA ANGOLA - WALDEMAR BASTOS

POEMA DE JOAO-MARIA VILANOVA

Quimbo!
Foto: Nelson Viegas


Kimbo solitário coxilando
sob o lado oculto da Lua

Esse kimbo aí
não tem mais gente
nem bicho
pé da porta não
Ngulu que tu não
comeu
onça ela comeu
cabrito & sanji
que tu não
comeu
onça ela comeu
e povo do lá
e povo do lá
sem nadica do nada
para
comer
imabamba dele
cambeza dele
surruu
aiuê
na mata
quando que
sem galinha ciscando
sem galinha ciscando
galo negro
todo chapado em ferro
hela
ele chegou


João-Maria Vilanova


Sobre Joao-Maria Vilanova (texto retirado do site da UEA-Uniao de Escritores Angolanos)



João Maria Vilanova, poeta da geração de 70, é um nome que esconde o maior enigma da literatura angolana, um heterónimo que encobre muito bem o seu autor biológico-histórico, continua fictício até hoje.

Na linha do pensamento teórico que vai de Stephane Mallarmé a Jonathan Culler “interessa reflectir sobre a teoria da textualidade: a noção de que é a palavra que constrói a realidade, e, portanto, é responsável pela criação daquele espaço criador que é o autor. Nesta linha de pensamento, o autor desaparece para dar lugar a palavras, cuja acção não só cria a obra, mas também o próprio autor. Roland Barthes identifica esse fenómeno como o “espaço discursivo de individuação” o qual estabelece certa unidade textual que nos permite ultrapassar as contradições, nas quais se neutralizam os dados biográficos (Barthes, Roland, «Roland Barthes par lui-même», Paris: Seuil (1975)”, teorização desenvolvida pela ensíata Joanna Courteau (Ames), ler o texto intitulado «D´A varanda do frangipani à morte dos heterónimos», in Lusorama, nr. 50 (Juni 2002).

Jorge Macedo garante que conheceu o poeta quando esteve a trabalhar no Kuanza Norte, ou seja, suspeita que tenha sido “um juiz branco que gostava da poesia angolana, que conhecia as diversas propostas poéticas”. Muitos são os escritores dessa geração que lançam suspeitas para todas as direcções.

Galadoardo em 1971 com o Prémio Mota Veiga, atribuído a «Vinte canções para Ximinha», nunca apareceu para receber o merecido prémio. Mas não deixou de aparecer, em 1974, através da revista Ngoma, mantendo-se na mesma no meio de uma «grande nuvem». Em 1974, edita «Cadernos de um guerrilheiro».

João - Maria Vilanova é um poeta que usa o bilinguismo como seu recurso de escrita e por ser assim “marcadamente bilinguista, regionalista, vanguardista, intraduzível, e, portanto, inequivocamente pré-angolana, a poesia de João Vilanova paga o preço do desconhecimento mundial, enquanto a poesia de Agostinho Neto, retórica, grandiloquente, alegórica, aristotélica, aspirante ao universalismo, aufere fama de múltiplas traduções. Vilanova realiza na poesia algo como José Luandino Vieira na prosa: retira à História da Literatura Portuguesa poder de anexação”, são palavras do crítico Pires Laranjeira.

O ensaísta vai mais longe na sua análise estrutural quando afirma que “Não há recorrência ao empolamento do metaforismo e da ruptura abrupta da ritmia do discurso, como seria usual nas concepções poéticas latino-europeias. As rupturas e empolamentos situam-se em níveis do discurso diferentes da literatura portuguesa. A inovação é, por isso, de sinal radicalmente anticolonialista. O discurso não pode ser apropriado pelas instâncias colonialistas por se inscrever nos antípodas da sua boa consciência. A forma dialógica é também inalienável da condição de herdeiro da estrutura da narrativa bantu.”.

Pires Laranjeira não deixa de realçar na sua crítica o apuramento estilístico de Vinanova que foge do discurso directo: “A denúncia do paternalismo, como de outras sequelas do colonialismo, quase nunca se faz em linguagem expositiva, panfletária. A força, o propósito do discurso poético não é do mesmo género do discurso político.”

Os quimbos quietos pensados no silêncio (...) Da Envagélica os cânticos se derramando na voz do vento: povo

Excerto de um poema in Vinte Canções para Ximinha.

Para o professor Manuel Ferreira, o poeta anónimo "será o que mais conscientemente prolonga e renova as experiências dos poetas da Mensagem e da Cultura (II). Tudo leva a crer que Vilanova venha dos tempos da Mensagem, notadamente quando o seu enunciado é a expressão de um certo quotidiano povoado de rememorações; nelas e na narração evocativa um mundo de anseios e suspensões significativas nos povoa a imaginação".


Ainda segundo Manuel Ferreira, em Caderno de um guerrilheiro, o poeta elege como temática "o povo angolano crescendo na luta armada." e considera-o como o poeta do "rigor e da elaborada interiorização da gesta do povo angolano, com uma fala para cada tema, uma gramática pessoal na fusão de níveis e áreas linguísticas, mesmo quando o real é momentâneo e no seu verbo se trtansfigura e dimensiona". 

16 de outubro de 2013

POEMA DE NOK NOGUEIRA




se pudesse ainda colher de teu ventre a fragrância rubra das acácias
teria ainda benevolência para digerir o compêndio das frases
douradas
que cativam a orla do tempo
se pudesse ainda sentir em deitada areia brisa em cada instante de
amor
convocaria o surrealismo de meu âmago e deixar-me-ia
sequestrado
quiçá entorpecido na silhueta de teus lábios quão belos são meus
depositando flores e suores em teu prado por ti por mim por nós
e por vós
para que nossos dias forjassem um novo edifício no sémen da
Pátria


Nok Nogueira 

15 de outubro de 2013

A SOMBRA



[Tradição oral Nganguela, Angola]


A sombra
não é da minha família.

Porque será
que ela
me acompanha sempre?

 - A sombra do homem
e o próprio homem

são enterrados na mesma cova.


Zetho Cunha Gonçalves, in Rio Sem Margem, Poesia da Tradição Oral – Livro II

URBANO DE CASTRO (Kialumingu & Merengue Urbanito)




8 de outubro de 2013

MON'AMI (Meu Filho) - N'GOLA RITMOS

N'gola Ritmos e a voz da saudosa Tia Lourdes (Lourdes Van-Dunen)



MON’AMI

Talenu ngo! O kituxi ki ngabange?
Talenu ngo! Maka mami ma jingongo!
Ngexile kya ni an'ami kiyadi.
Nzambi k'andale. Ngaxala ni umoxi.
Ngibanga kyebye?! Ngaxala ngoe ni umoxi!

Ngibanga kyebi? O kituxi ki ngabangye?!
Mona wambote wajimbirila.
Ngidila ngoe! Ngibanza ngoe! Ay, mon'ami!


A tradução da minha (Fernando Ribeiro) lavra é como segue:

Vede só! Que pecado cometi?
Vede só! As minhas palavras de dor!
Já tive dois filhos meus.
Deus não quis. Fiquei com um.

O que faço?! Fiquei só com um!
O que faço? Que pecado cometi?!
Um filho lindo se perdeu.

Só choro! Só penso! Ai, filho meu!