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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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6 de maio de 2014

POETAS PÓS- INDEPENDÊNCIA 4: NOK NOGUEIRA

Nok Nogueira, (pseudónimo literário de Emílio Miguel Casimiro) nasceu a 24 de Dezembro de 1983, em Luanda. É jornalista de profissão e essencialmente poeta. Foi repórter e apresentador, em 2003⁄2004, do programa radiofónico Acção Humana, na Rádio Ecclésia, para além de ter tido uma breve passagem como repórter pelo já extinto Semanário Actual. Trabalha na Televisão Pública de Angola (TPA) desde 2004, produzindo e criando conteúdos para programas de Grelha.
Foi distinguido, em 2004, pelo Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD), com o Prémio Literário “António Jacinto” pela obra poética “Sinais de Sílabas”, Luanda. Irregularmente, publica textos poéticos e de análise crítica no suplemento do Jornal de Angola Vida Cultural.
Ricardo Riso, crítico literário e professor universitário brasileiro, considera-o como “um dos pilares da nova geração poética angolana”.

Obra Poética:

Sinais de Sílabas, Prémio Literário “António Jacinto”, pelo Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD), Colecção A Letra. Luanda, 2004.  
Tempo Africano, União dos Escritores Angolanos (UEA), Luanda, 2006.
Jardins de Estações, Nóssomos, Vila Nova de Cerveira, 2012
As Mãos do Tempo, Nóssomos, Vila Nova de Cerveira, 2012



Excerto do livro  Jardins de Estações

[…] aqui reside o sonho a chancela das rosas é um pretexto
para que a mão se deixe plena de pétalas policromas
enquanto vemos nascer o dia pelo ângulo do tédio
que nos deixara impotente diante do frágil nascer
da dúvida enquanto não víamos nova mente o regresso
de um pregresso legado que nos encontrasse diante
do tempo a colhermos frutos fora de ocasião
para aprendermos a reivindicar a gratidão dos dias
em que nada pudemos alcançar das mãos que apenas
nos podiam mostrar a idade de nossas petições
venha o verão por mais tarde que se faça outorgar-nos
uma versão elíptica do amor no entanto sabe-se ainda
o fruto maduro pela boca das crianças
ouvem-se novos acordes de viola hoje para amenizar
a exaustão a dor
o dia continua à paisana como se as chuva custassem
a chegar até nós
jamais constatei o silêncio com uma irrelevante noção
de queda tudo que se cala na superfície terrestre tem
uma voz que mantém vivo
tal é o silêncio de nossas falas é a voz do vento
agora que a cidade aguarda pela chegada do esvoaçar
das gaivotas
lembro-me de mim mesmo ao cruzar as encruzilhadas
dos caminhos e tudo me parece tão estranho
a seca esta já não a vejo mas uma triste ideia de fome
persiste engravatando meu canto de tão pequeno que é […]


Excerto do livro: As Mãos do Tempo

[…] corre o tempo em minhas mãos e a voz é a mesma que tece os limites do sonho
contida no gesto e na margem das palavras que não dizem o que vai em nós
e nova mente constatamos o silêncio em surdos lençóis sobre as nossas mãos
enxergamos o que nada vemos caminhamos quase indiferentes ante a miséria
dos dias que vestem de silêncio as ruas e as velhas avenidas tão iguais a elas
mesmas
trago entretanto um dia exposto sobre os meus ombros com a exacta sensação
de ter ganho uma nação inteira mente subjugada ao torpor de meus passos que
tímidos pisam o asfalto doentio de tanto me ver por aqui passar pesaroso
e olho as paredes tão iguais a mim tão frias e quietas tão fúnebres e sedentas
como se nada fosse o olhar das gaivotas pousando sobre as árvores que velhas
de um tempo vergastado pelo somar dos séculos deixam-se estéreis perante
o vagido de quem corre por entre as esquinas do desencanto  a ver com que voz
com que palavra conseguirá outorgar um novo e ledo caminho ledo à nação […]


O RIO
Quem ouve o silêncio de um mundo vazio ouve enfim a voz do vento. Lamentável fora a vida antes dela se tornar como tal, pois nunca a tivera visto como sendo um instante primeiro de que me devia ainda orgulhar. O que existe entre mim e o nada das coisas é exactamente este silêncio de que me detenho submisso desde que aqui me revejo como homem, como instante de vida humana. Antes de mim existira entre os homens um contíguo de pétalas róseas ao qual nunca se fizera comparação alguma. Hoje, o que restou de um milésimo de vida são apenas reflexos dos tempos que se não apagam, pois eles estarão sempre presentes, como as flores que hoje cravo nos lábios das mulheres que vejo passar em meus sonhos. Não vejo quantos ventos ainda hei-de de colher, vejo apenas a imagem de um rio que breve se me apresenta, fosse uma manifesta declaração de amor que a qualquer instante há-de chegar aos meus ouvidos.
Nok Nogueira

Rio, in. Pensamentos, blog do autor: http://noknogueira.blogspot.co.uk/

1 comentário:

António Eduardo Lico disse...

Obrigado por partilhar.
belas poesias.
Abraço.