Poema que se encontra há muito na Alma para ser escrito mas como outros, aguardam um determinado momento especial para nascer... ontem aconteceu. Onde tu estiveres Maria, minha irmã, que alguém te possa levar estas notícias... um beijo!
Rosa-de-porcelana
Para a minha irmã de criação que não sei viva ou morta.
da tua carapinha dura,
os teus olhos doces de gazela
o teu nome Maria Graziela,
os lábios pequenos, pétalas
suaves de uma flor inominável
e a tua pele, ébano-cetim,
onde o sol deixava indelével
beijos cegos de luminosas esferas
sobre o relevo macio do teu rosto.
Maria, tu foste tu és tu serás
a minha irmã, a mana mais velha
a irmã que nunca tive tenho terei...
Foi logo no burburinho inicial
dos ferros e das armas de fogo
quando nos perdemos um do outro.
Disseram-me tinhas ido no Huambo
seguindo a militância dos dias
eu fiquei no Namibe... esperando
vi os karkamanos chegar e partir
porém, só tu nunca vieste...
se por acaso fores viva, ainda,
que o sol te beije por mim
todos os dias a todas as horas;
se já viveste teu komba, então
que os anjos celestes te beijem
e ponham por mim pequeninas
esferas de luz divina em teu rosto.
Tu és a mana mais velha...
a irmã que eu queria voltar a ter.
Namibiano Ferreira
Karkamanos - nome pejorativo dado aos sul-africanos, hoje já nao somos inimigos.
Komba - Cerimónias fúnebres.
9 comentários:
Puxa, cara,
que bonito o seu poema.
Mas ao mesmo tempo triste,
ao revelar que sequer sabes
se a sua irmã de criaçlão continua viva.
Kandandu.
Um poema tão lindo, e "guardado" até agora!? Talvez um embrião que foi se desenvolvendo, crescendo,
crescendo, a dor aumentando, até o
momento que teve de sair, de nascer
e vir à luz! Belo e triste...Por onde andará Maria Graziela?
E por onde tem "andado" esse poeta,
que não me deu mais o prazer de sua visita?
Kandandu
Moacy, obrigado. Sim é um poema muito triste e que me faz ficar triste quando o leio...
Nao sei o paradeiro de Maria G. a última vez que a vi foi em Setembro de 1975. Vicissitudes da guerra.
Kandandu
Cirandeira, o poema quis sair várias vezes mas nao satisfazia a minha alma... o tempo esperou o momento certo!
Tenho muito pouco tempo para surfar, aliás tenho feito poucas visitas aos blogues dos amigos.
Kandandu
Pois, coisas tristes da guerra. A separacao de familias, etc. Vou ficar com o nome, quem sabe um dia cruze com Maria Graziela numa esquina perdida da nossa Angola. Um poema acima de tudo, tremendamente emocional.
bela homenagem, apelo da alma.
era o momento. boa sorte no reencontro.
Décio, coisas tristes da nossa guerra...
Vuajantes, talvez nao haja reencontro... se houver será maravilhoso!!
Obrigado e kandandu
Que lindo, Namibiano. Vc me fez chorar. Tomara, tomara mesmo que vc a reencontre um dia.
Um beijo
Martha, obrigado, seria muito bom, sim.
Kandandu
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