Este artigo foi retirado do blogue Alto Hama, http://altohama.blogspot.com/ com a devida permição do autor do texto e do blogue, o jornalista luso-angolano, Orlando Castro.
Ele há coisas que um homem não pode calar... porque há dias que o poeta não é um fingidor e, muito menos, quando esse homem canta a sua terra e se diz porta-voz do seu povo. Não me interessa se o poeta é, literáriamente falando, bom ou ruim, o que me interessa é esta verdade que todos vêem e ninguém fala por medo, por interesse ou por outra coisa qualquer.
Perder a futura publicação de um livro lá na minha Banda? Bem, a minha consciência é mais importante... pelos que sofrem e por tudo que lhes foi prometido! O que é preciso é mais pão, mais saúde, habitação, educação e não tanta torre na marginal, tanta obra faraónica...
Enquanto os angolanos morrem à fome portugueses endeusam Isabel dos Santos
Segundo o português Jornal de Negócios, “Portugal tem muitas mulheres importantes, algumas são ricas, poucas são poderosas. Uma é as três coisas. Tem 36 anos e não é portuguesa. É a angolana Isabel dos Santos.”
Segundo o português Jornal de Negócios, “Portugal tem muitas mulheres importantes, algumas são ricas, poucas são poderosas. Uma é as três coisas. Tem 36 anos e não é portuguesa. É a angolana Isabel dos Santos.”
E acrescenta: “Isabel e José Eduardo construíram um poder tão ramificado em empresas portuguesas que só o Estado e Grupo Espírito Santo os ultrapassarão. Tanta concentração de poder é mais ameaçadora do que uma nacionalidade”.
Não dizem que em Angola a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, e que o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.
Não dizem que em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem e certamente amanhã, utilizada contra todos os que querem ser livres.
Não dizem que Angola disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos, e que este dinheiro não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.
Não dizem que em Angola 76% da população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.
Não dizem que em Angola o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Não dizem que enquanto a maioria (68%) dos angolanos nem fuba ou peixe seco tem, Isabel dos Santos e os restantes membros do clã adoram trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba, queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e vinhos do tipo Château-Grillet 2005.
Texto reproduzido na íntegra daqui: http://altohama.blogspot.com/search?updated-max=2009-12-22T19%3A37%3A00Z&max-results=10 , da autoria do jornalista luso-angolano, Orlando Castro.
Musseque (bairro-de-lata, favela) de Luanda, visto de satélite. A Luanda real, dos pobres, dos famintos, dos que não vêem os benefícios do petróleo, dos diamantes e das muitas outras riquezas...
A Luanda do futuro, dos dólares, euros, dos lucros dos petróleos, dos diamantes e das outras muitas riquezas... a Luanda dos poderosos vestindo seus obesos fatos engomados e gravatas de luxo. Projecto do futuro Shopping Kinaxixi, onde o povo dos musseques irá fazer suas compras de luxo.
E para terminar um poema do autor desta Ondjira:
LUUANDA
O vento de Luandino
deu berrida nas nuvens
e as folhas secas
todas da mulembeira
rodopiaram diásporas
pelo chão do musseque...
O vento assobiou acordando
a insustentável leveza do algodão
que trouxe a prata líquida
a cantar bagos de chuva
sobre o quotidiano pobre e sujo
das areias e vielas do musseque.
A água do céu e a lama da terra
conjugaram o vazio de políticas
amassando a pobreza esquálida
que se gruda aos olhos de quem passa:
homens, mulheres e crianças
são como seus casebres feitos de lama,
lama suja, lama triste do musseque
e a chuva-prata a cantar nos zincos
ghetto ghetto ghetto... denunciando
e a chuva gota após gota
cai sem lavar esta distância
sem purgar esta doença social
e a chuva gota após gota
cai raivosa sobre os zincos velhos
ghetto ghetto ghetto... chovendo
e a chuva passando com pressa
tem vergonha de chover aqui
cantando no seu gotejar:
ghetto gota ghetto gota ghetto!
Namibiano Ferreira
* Nesta nossa terra de Luanda, passam coisas de envergonhar...
(tradução livre de Namibiano Ferreira)
Mu’xi ietu iá Luuanda mubita ima ikuata sonhi...*
(de um conto popular)
In Luuanda – Luandino Vieira
O vento de Luandino
deu berrida nas nuvens
e as folhas secas
todas da mulembeira
rodopiaram diásporas
pelo chão do musseque...
O vento assobiou acordando
a insustentável leveza do algodão
que trouxe a prata líquida
a cantar bagos de chuva
sobre o quotidiano pobre e sujo
das areias e vielas do musseque.
A água do céu e a lama da terra
conjugaram o vazio de políticas
amassando a pobreza esquálida
que se gruda aos olhos de quem passa:
homens, mulheres e crianças
são como seus casebres feitos de lama,
lama suja, lama triste do musseque
e a chuva-prata a cantar nos zincos
ghetto ghetto ghetto... denunciando
e a chuva gota após gota
cai sem lavar esta distância
sem purgar esta doença social
e a chuva gota após gota
cai raivosa sobre os zincos velhos
ghetto ghetto ghetto... chovendo
e a chuva passando com pressa
tem vergonha de chover aqui
cantando no seu gotejar:
ghetto gota ghetto gota ghetto!
Namibiano Ferreira
* Nesta nossa terra de Luanda, passam coisas de envergonhar...
(tradução livre de Namibiano Ferreira)
4 comentários:
Nami,
BEM HAJAS por esta divulgação.
Não tenho nada a dizer... é demasiado obsceno o que se passa em Angola, onde há gente "daqui" que, entre outras coisas, se desloca de jacto privado a Roma, expressamente para comprar tecidos para estofar os sofás dum bruto iate recentemente adquirido.
Haja diamantes, haja torres... musseques, eles sabem lá o que é isso! Sabem inaugurar a maior torre em Luanda.
E o Presidente ainda há pouco tempo a falar de corrupção na TV!
Escândalo, meu amigo!
FELIZ ANO NOVO, se conseguires.
Um abraço
Namibiano,
passo pra beber das suas palavras e aproveito pra deixar meu abraço brasileiro.
Na África, no Brasil e em todo o lugar, viva a poesia.
Admiração do Roberto Lima.
Meg e Primeira Pessoa obrigado votos de um bom 2010
Kandandu
"Eu não sei se canto, eu não sei se choro"...
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