Foto: Jorge Coelho Ferreira

Ondjira - A Rota do Sul (o livro - compre aqui)

Ondjira - A Rota do Sul (o livro - compre aqui)
Click imagem!

POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA
Click na imagem!

1 de junho de 2013

TRES POETISAS ANGOLANAS

A CANÇÃO DO SILÊNCIO

A canção do silêncio é um poema ao suspiro
Mergulhado
Na profundeza do Índigo

O olhar de uma santa de barro

A linha do equador à deriva do pensamento
Gelo e sal e larva e mel

A canção do silêncio



Amélia Dalomba (nasceu em Cabinda, novembro de 1961)


PRELÚDIO    
  
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...

Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada...

Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...

Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.

É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...




Alda Lara (nasceu em Benguela, junho de 1930)



RAPARIGA

Cresce comigo o boi com que me vão trocar
Amarraram-me às costas, a tábua Eylekessa

Filha de Tembo
organizo o milho

Trago nas pernas as pulseira pesadas
Dos dias que passaram...

Sou do clã do boi —

Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
O sono profundo do deserto,

a falta de limite...

Da mistura do boi e da árvore
a efervescência
o desejo
a intranquilidade
a proximidade
do mar

Filha de Huco
Com a sua primeira esposa
Uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes

Ana Paula Tavares (nasceu no Lubango, outubro de 1952)


3 comentários:

António Eduardo Lico disse...

Belas poesias de três poetisas que tão bem cantam Angola.
Bom fim de semana meu Caro João.
Abraço.

Muadiê Maria disse...

poesias muito lindas.
em especial, para mim, Ana Paula Tavares.
Namibiano, perdi seu endereço, envia para mim por email: mgalrao@gmail.com
um abraço,

Martha

cirandeira disse...

Angola possui um belo celeiro de poetas, gosto muito!
Ainda não conhecia a poesia de Amélia Dalomba, mas já fiz postagens com poemas de Alda Lara e Ana Paula Tavares, que aprecio muito!

Beijo e
kandandu