Baia de Tombua, vista de satélite.
1 –
Azul o céu
e o mar a desfraldar
seda, flâmula de garroa.
A
cristalina lucidez de pérolas
e calemas
bailam turquesas
nos dedos
marinhos do vento
e a minha
alma é um búzio
assobiando
um tempo perdido
a crepitar
pela baía lápis-lazúli
vogando
rendas e saudades do Sul
na asa e voo
livre dos garajaus,
lenços
mansos acenando gritos
enquanto as
toninhas dançam
na tarde
amena da baía azul
Tômbwa-Welwitschia
a crescer
vento,
peixe, mar e saudade
no peito,
coração dolente,
de um cabeça-de-peixe
ausente!
2 –
Eram as
tardes brilhando massembas
no crespo
bailado de diamantes,
safiras e
turquesas bailando...
e a baía
era uma caixinha de música
cantando
uma mística cantiga
abotoada de
mitos e silêncios
enquanto o
Sol, pitanga amadurecida
no quintal
da minha infância,
descia
mangonheiro até a tardinha
vestir
negros veludos sedosos
para depois
descançar no braço
prateado a
gritar na Ponta Albina
num
derradeiro abraço à cidade
das loucas
casuarinas baloiçando
um mar
verde sobre o deserto
árido de um
cacimbo cristalizado.
3 –
Rasgam os
ventos frios do Norte
esta
saudade quase de morte...
Rasgam os
ventos espúrios
perfumes
que o tempo não filtrou,
nem a alma
alguma vez esqueceu...
Azul, a
baía, de braço dourado,
braço dado
ao céu e ao vento
clamando o
beijo Kuroka ao mar
da mansa
fartura quotidiana.
Ah! O mar,
suave safira do sul,
aberto ao
Sol do deserto amarelo
e sobre as
águas traineiras a cantar
à
flor-renda hialina das manhãs,
de ventos
soprando leste ou cacimbos
mas sempre
o vento, filho do tempo,
a soletrar
o perfume de peixe
enchendo os
dias de tonalidades
ácidas de
um tempo-vida e felicidade.
Namibiano
Ferreira
3 comentários:
Bela poesia João.
Abraço.
Que poema lindo!, remeteu-me a um tempo longínquo, encheu meu peito de uma saudade tão profunda, que por um momento naveguei naquele barco que não tem retorno...!
És um poeta, e tantos, tantos!!!
Kandandu
Obrigado, meus amigos.
Humilde, o poeta agradece
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