Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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26 de agosto de 2009

NONKAKOS

Nonkakos (foto de Tonspi)


Era o tempo em que as acácias floriam garridas
cabeleiras sobre as longas avenidas da cidade
e havia a liberdade a despontar no céu da madrugada...


Eu trazia o tempo da nudez no chão da alma
e pisava o ventre da terra com a pureza do coração.
Minhas imbambas eram ventos do leste e sementes
armazenadas nos tijolos da liberdade e construção
do país novo a construir de mãos dadas com o povo...
e agora, aqui nestes corredores frios de civilização,
já não sei andar minha nudez com o chão da alma
sobre o ventre quente da terra rubra-negra.
Doem-me os pés se andar descalço! Civilizei-me!
– Dizem! – Civilizei-me no calçar de sapatos apertados
made somewhere in Global City e fabricados
por mãos humanas pagas com salários de coisa nenhuma.
Os pés da nudez, pedúculos de inocência e liberdade,
perdi-os, troquei-os por todas estas materialidades
que supostamente me deveriam fazer feliz...


Poderá a chuva – riso de Ombera – trazer de novo
a verdade nua de sentir a terra e o pó vermelho
dos caminhos a pintar telas, a tilintar horizontes?


Oh, meu povo Mukubal, guerreiros de liberdade!
emprestai-me vossos velhos nonkakos, como aqueles
que usei nos tempos de minha juventude...
sujos e gastos e cobertos com pó-vida do deserto.




Namibiano Ferreira



Imbambas – bagagens, pertences.
Ombera – chuva, em idioma Tchierero do povo Mukubal.
Nonkakos – sandálias usadas pelos mukubais.

8 comentários:

Rosita de Palma disse...

Boa querta feira.

Poema muito lindo...
Kandandu!

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Obrigado, Rosa. Um optimo dia para si também!!
Kandandu!

Ema Pires disse...

Viva amigo Namibiano,
Gostei muito da sua poesia e deste poema em particular que acabo de publicar no meu blogue.
Irei publicar mais, já que tenho a sua autorizaçao.
Um abraço

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

Ah! mano Namibiano, essa saudade da terra! Aka! Essa saudade assim bem bonita na mestria do poema, essa saudade dói o coração do leitor/poeta -também. Esses poemas assim, mano, um melhor que o outro que afinal já era melhor... esses poemas são frutas bem madurinhas duma infância distante.

Carmo disse...

Namibiano, mais uma vez vim visitá-lo e mais uma vez tive o prazer de ler um poema maravilhoso
Obrigada.
E um abraço


Carmo

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Muito obrigado, Ema. Sentir-me-ei bem no seu blogue, também gostei dele.
Kandandu

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Mano Décio, amigo e poeta, tuas palavras dao mais forca para contiuar...
Kandandu

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Carmo, como autor fico-lhe imensamente grato pelas suas palavras, retribuo o abraco,
Kandandu