Nonkakos (foto de Tonspi)
Era o tempo em que as acácias floriam garridas
cabeleiras sobre as longas avenidas da cidade
e havia a liberdade a despontar no céu da madrugada...
Eu trazia o tempo da nudez no chão da alma
e pisava o ventre da terra com a pureza do coração.
Minhas imbambas eram ventos do leste e sementes
armazenadas nos tijolos da liberdade e construção
do país novo a construir de mãos dadas com o povo...
e agora, aqui nestes corredores frios de civilização,
já não sei andar minha nudez com o chão da alma
sobre o ventre quente da terra rubra-negra.
Doem-me os pés se andar descalço! Civilizei-me!
– Dizem! – Civilizei-me no calçar de sapatos apertados
made somewhere in Global City e fabricados
por mãos humanas pagas com salários de coisa nenhuma.
Os pés da nudez, pedúculos de inocência e liberdade,
perdi-os, troquei-os por todas estas materialidades
que supostamente me deveriam fazer feliz...
Poderá a chuva – riso de Ombera – trazer de novo
a verdade nua de sentir a terra e o pó vermelho
dos caminhos a pintar telas, a tilintar horizontes?
Oh, meu povo Mukubal, guerreiros de liberdade!
emprestai-me vossos velhos nonkakos, como aqueles
que usei nos tempos de minha juventude...
sujos e gastos e cobertos com pó-vida do deserto.
Namibiano Ferreira
Imbambas – bagagens, pertences.
Ombera – chuva, em idioma Tchierero do povo Mukubal.
Nonkakos – sandálias usadas pelos mukubais.
cabeleiras sobre as longas avenidas da cidade
e havia a liberdade a despontar no céu da madrugada...
Eu trazia o tempo da nudez no chão da alma
e pisava o ventre da terra com a pureza do coração.
Minhas imbambas eram ventos do leste e sementes
armazenadas nos tijolos da liberdade e construção
do país novo a construir de mãos dadas com o povo...
e agora, aqui nestes corredores frios de civilização,
já não sei andar minha nudez com o chão da alma
sobre o ventre quente da terra rubra-negra.
Doem-me os pés se andar descalço! Civilizei-me!
– Dizem! – Civilizei-me no calçar de sapatos apertados
made somewhere in Global City e fabricados
por mãos humanas pagas com salários de coisa nenhuma.
Os pés da nudez, pedúculos de inocência e liberdade,
perdi-os, troquei-os por todas estas materialidades
que supostamente me deveriam fazer feliz...
Poderá a chuva – riso de Ombera – trazer de novo
a verdade nua de sentir a terra e o pó vermelho
dos caminhos a pintar telas, a tilintar horizontes?
Oh, meu povo Mukubal, guerreiros de liberdade!
emprestai-me vossos velhos nonkakos, como aqueles
que usei nos tempos de minha juventude...
sujos e gastos e cobertos com pó-vida do deserto.
Namibiano Ferreira
Imbambas – bagagens, pertences.
Ombera – chuva, em idioma Tchierero do povo Mukubal.
Nonkakos – sandálias usadas pelos mukubais.
8 comentários:
Boa querta feira.
Poema muito lindo...
Kandandu!
Obrigado, Rosa. Um optimo dia para si também!!
Kandandu!
Viva amigo Namibiano,
Gostei muito da sua poesia e deste poema em particular que acabo de publicar no meu blogue.
Irei publicar mais, já que tenho a sua autorizaçao.
Um abraço
Ah! mano Namibiano, essa saudade da terra! Aka! Essa saudade assim bem bonita na mestria do poema, essa saudade dói o coração do leitor/poeta -também. Esses poemas assim, mano, um melhor que o outro que afinal já era melhor... esses poemas são frutas bem madurinhas duma infância distante.
Namibiano, mais uma vez vim visitá-lo e mais uma vez tive o prazer de ler um poema maravilhoso
Obrigada.
E um abraço
Carmo
Muito obrigado, Ema. Sentir-me-ei bem no seu blogue, também gostei dele.
Kandandu
Mano Décio, amigo e poeta, tuas palavras dao mais forca para contiuar...
Kandandu
Carmo, como autor fico-lhe imensamente grato pelas suas palavras, retribuo o abraco,
Kandandu
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