Chegas sempre com as marés do final
da tarde. Uma canoa solta nas águas
salgadas.
Primeiro são os olhos que se recusam
ancorar
em ti, mas depois os dedos remam devagar
sobre a água tépida que a tua pele
transpira.
Uma onda, duas, e o mar inteiro
desequilibra
o meu navio.
Acende-se ao longe um farol. Mas não
queremos um cais sereno, uma margem
tranquila
aonde chegar. O facho semeia promessas
sobre as vagas, promete a fuga à tormenta
que nos abala, que nos lança um contra o
outro.
Mas não! Que se apague o farol. Que
desapareça
o facho na escuridão letal.
São minhas as algas que te amarram o
sossego,
que te prendem a respiração. Mas são
nossas as velas
que se rasgam do mesmo vendaval.
Jorge Arrimar
2 comentários:
Há muito tempo que não lia um poema de Jorge Arrimar! Muito obrigado. Tenho um livro dele, chamado "Ovatyilongo", publicado no Lubango em 1975.
P.S. - A espetacular fotografia que encima o poema é daqui do Porto! É o chamado farol de Felgueiras, que assinala a entrada na barra do Douro. Atrás dele veem-se os novos molhes, construídos há poucos anos para impedir que o mar, em dias de temporal assim, entre pela embocadura do rio dentro e cause estragos nas ruas e casas ribeirinhas.
Gosto de Jorge Arrimar. O livro "Ovatyilongo" se nao é o primeiro livro do Jorge, será um dos primeiros.
Infelizmente, na actualidade nao sei onde comprar os livros dele.
O titulo é em Nhanheka-Humbi, a lingua dos Muílas. Nao sei nada desse idioma, quem sabia, segundo ouvi contar, era o meu bisavo paterno. O meu avo nasceu na Chibia, terra do Jorge Arrimar.
O farol, nao saia que era da Invicta, gostei da foto porque o mar é uma paixao e o farol rodeado de ondas apelava ao titulo do poema.
Kandandu
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