Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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31 de maio de 2009

MAIO PALUSTRE





A lagoa do meu kimbo
não reflecte a lua
mas a mágoa dos homens de maio.


À prata morta das águas
mordo as pitangas de maio
frutos túrgidos de sangue
sabor lacustre disforme palustre
de morte e esquecimento...



A lagoa do meu kimbo
não reflecte a lua
mas as máscaras gota a gota caindo
lágrimas no corpo morcego da noite
e dos ramos calcinados das árvores
libertam-se fantasmas aspros de veludo
amortalhando os meus olhos de maio
vestindo ébano coalhado de cadáveres
e perfumadas ptomaínas.



Namibiano Ferreira

25 de maio de 2009

DIA DE ÁFRICA - 25 DE MAIO

Tela de Eleutério Sanches





AVISO: ESTE POEMA É FICÇÃO



Arrastamos a nossa triste humanidade
pelos musseques da vileza e da miséria.
As dádivas do coração da nossa terra
são para nós virtuais a para alguns virtuosas...


Novos-ricos proliferam na razão directa dos musseques.
Ricos sadiamente opulentos e cada vez mais obesos
na fartança suína capitalista no acto quotidiano
e ainda há dois ou três dias, acérrimos marxistas...
defensores do povo e do poder popular.


Longe-longe e a cada luar minguado de prata
as riquezas do coração da nossa terra
vão para longes distantes, mercados globais,
estão para nós perdidas irremediavelmente perdidas
porque dólares e euros engordam mais
que gente rota famélica povo dos musseques.




Namibiano Ferreira



Musseque – Bairro de lata, favela.

23 de maio de 2009

ESTA É A MINHA TERRA: NAMIBE (ANGOLA)


NASCER EM NAMIBE TOMBWA MIRABILIS


Quando nasci em Tombwa
mirabilis flor de cacimbo
a velha casa de adobe
e telhado de zinco
não ouviu de imediato
meu primeiro vagido.
Houve um momento silente
perdido de quase morte
até que a alma cadente
cantasse chorando
a nova sorte.
E depois o abraço fraterno
um árido afago
no pacto eterno
riscado no chão de oferta
coração enorme a pulsar Namibe:


a duna queimada
foi meu berço;
o cacimbo rendado
o tule do enxoval;
o pungo do mar
foi meu sustento;
o areal dourado
a manta de brincar;
o Curoca da fartura
foi água do ritual;
a garroa e a calema
meu poema d’embalar;
o cântico das casuarinas
foi meu guizo de ninar;
o povo mukubal
meu mestre de versejar;
o guelengue elegante
–meu mágico companheiro alado–
foi pégaso de cavalgar
o dorso quente futuro de Poesia.



Namibiano Ferreira

O guelengue do deserto





A nobreza do grande povo Mukubal

A duna queimada

O exotismo da welwitschia mirabilis



Beleza da mulher Mukubal




19 de maio de 2009

CACIMBOS


Nos meus braços
tem cacimbos velhos
petrificados
sobre a pele da opressão
e na alma
-escrita a carvão-
o apego à terra
presa nas picadas
beijadas de verde,
no deserto quente
da welwitschia gretando
amor
nas manhãs em fumo
de junhos-cacimbos
infantis.



Namibiano Ferreira

12 de maio de 2009

POEMA PARA A MINHA AMADA




Para o aniversário de Dinah, a mulher da minha vida!!



Como se fosse uma geografia
quântica
o teu corpo é o porto
tempo onde floresço
açucenas
loiras acetinadas brandas
no templo da raiz dos teus lábios
carne
desejo carmim a sorrir.



Namibiano Ferreira

11 de maio de 2009

MAIOS...

Angola ( Namibe - Av. Bonfim) creditos foto: http://asviagensdealex.blogspot.com/
Esta avenida da cidade do Namibe foi a inspiracao para este poema.




Buganvílias



Maios quentes de flores de pinho e giesta...


Ah! Quem me dera outros maios...
maios de rosas-de-porcelana,
de buganvílias em flor bordejando a avenida.
Maios de calores tépidos, anunciando cacimbos de junho.
Ah! Quem dera outros maios, outras rosas, outros cheiros,
outro tempo-areal-vento,
outro mar, outro sol, um grande girassol florido
numa sangrenta verbena amarela
derramada pela avenida em espreguiçado declínio...




Namibiano Ferreira

Rosa-de-porcelana










6 de maio de 2009

CANÇÃO DE OMBERA

Tela retirada do blog http://casadeluanda.blogspot.com/




É no renascer do imbondeiro
que espero a chuva radiosa
aconchegando meu passos
sobre a nudez dos dias ouroverde
que hão-de pintar as telas de sonhos
e risos amenos de crianças felizes.
É no despertar da prata tamborilando
que hão-de soar múcuas ao sabor do suor
da chuva nova a cantar as canções de Ombera.

E, o arco-íris prometido, anda tatuado
nos dentes pútridos e gelados do cometa da desgraça...



Namibiano Ferreira



Imbondeiro – baobá.
Múcua – fruto do imbondeiro.
Ombera – chuva.