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Frente à minha casa de adobe
e telhado de zinco
estendia-se um areal sujo, já de muito uso,
onde passavam negros contratados,
negros de tristeza, negros de alienação.
Negros contratados de exploração
do Grémio de Pesca, da Conserveira...
que cantavam, que tocavam seus batuques
nas noites quentes de sábado,
embriagando seus sentidos e saudades...
mas impossível, impossível era esquecer o sonho,
o sonho de não mais vir no contrato,
de não mais ser negro contratado
xingado por toda a gente:
-Ó preto, ó preto, seu contratado!
-Trabalha preto malandro!
-Ó seu preto matumbo, faz isto, faz aquilo...
Frente à minha casa de adobe
e telhado de zinco
havia o Grémio e a Conserveira
viveiros de contratados
dormindo, comendo em negros fétidos quartos
repousando por breves momentos
seu corpo sugado e mirrado
em tarimbas de aduelas de barril
envolvendo sua negra miséria
em trapos rotos e serapilheiras.
Negros contratados como eu gostava deles!
E nas noites quentes de sábado,
entre cânticos e batucadas
choravam a olhos enxutos sua terra longe:
o kimbo, a família, a saudade...
e na condição de homens transaccionados, forçados
gritavam, ainda que baixinho:
-Aiuê, aiuê! liberdade, liberdade p’ra todo o gentêêee
e soprando, o vento Leste,
prometia e prometia um futuro diferente,
DIFERENTE..............................................................
Frente à minha casa de adobe
e telhado de zinco
estendia-se um areal sujo, já de muito uso,
onde passavam negros contratados,
negros de tristeza, negros de alienação.
Negros contratados de exploração
do Grémio de Pesca, da Conserveira...
que cantavam, que tocavam seus batuques
nas noites quentes de sábado,
embriagando seus sentidos e saudades...
mas impossível, impossível era esquecer o sonho,
o sonho de não mais vir no contrato,
de não mais ser negro contratado
xingado por toda a gente:
-Ó preto, ó preto, seu contratado!
-Trabalha preto malandro!
-Ó seu preto matumbo, faz isto, faz aquilo...
Frente à minha casa de adobe
e telhado de zinco
havia o Grémio e a Conserveira
viveiros de contratados
dormindo, comendo em negros fétidos quartos
repousando por breves momentos
seu corpo sugado e mirrado
em tarimbas de aduelas de barril
envolvendo sua negra miséria
em trapos rotos e serapilheiras.
Negros contratados como eu gostava deles!
E nas noites quentes de sábado,
entre cânticos e batucadas
choravam a olhos enxutos sua terra longe:
o kimbo, a família, a saudade...
e na condição de homens transaccionados, forçados
gritavam, ainda que baixinho:
-Aiuê, aiuê! liberdade, liberdade p’ra todo o gentêêee
e soprando, o vento Leste,
prometia e prometia um futuro diferente,
DIFERENTE..............................................................
Kimbo - aldeia
Matumbo - estupido
Namibiano Ferreira
2 comentários:
Muito lindo, saudosista e triste! Ajuda-nos a reconstituir aqueles tempos passados. Faz-me lembrar António Jacinto no seu melhor. E também o grande Aires de Almeida dos Santos, dois grandes expoentes da poesia angolana.
Obrigado pela comparacao, sinto-me muito honrado com ela...
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