A cerca de 130 km Leste da cidade do Namibe existe, na região de Kapolopopo, um morro que tem um nome verdadeiramente poético. Trata-se do Morro de Tchitundu-Hulu, que traduzido para português se chama Morro Sagrado do Céu. Neste lugar, existe uma gruta também conhecida por gruta Sagrada do Céu ou, gruta Sagrada dos Mukuísses. Porque os Mukuíssos, Mukuísses ou Ovakwissi, um povo do deserto, não bantu, a tem como lugar de veneração.
Tchitundu-Hulu reveste-se de uma grande importância para a História e a Cultura angolanas porque nelas existem gravuras rupestres pintadas em cavernas e ao ar livre. As gravuras são, na maior parte, círculos que se encontram, por vezes, ligados por um traço, existem também muitas figuras de animais e astros. O Sol (o famoso sol de Tchitundo-Hulu, de círculos concêntricos e com seus raios estilizados) e constelações, onde se podem distinguir Oríon e o Cruzeiro do Sul. Ninguém sabe ao certo quem foi o povo que fez estas gravuras, pensam os antropologistas que terão sido, muito provavelmente, os ancestrais do povo !khoisan e que em Angola se chamam Ovassekele ou Mukankalas (vulgo bosquímanes). Dizem os especialistas que estas gravuras rupestres têm mais de 30.000 anos.
No deserto do Namibe, em território angolano, existem outras construções pré-históricas, como círculos de pedra que lembram os monumentos megalíticos da Europa e também mais pinturas rupestres. Infelizmente estes lugares encontram-se pouco ou nada estudados e ameçados pelas amplitudes térmicas entre dia e noite que fazem estalar o interior das grutas, para além da actividade humana.
Tchitundu-Hulu 1
QUANDO PASSEI POR TCHITUNDU-HULU
Quando passei por Tchitundu-Hulu
tinham acabado de gravar as paredes.
Terminados os rituais de consagração, cá fora,
o povo mágico dançava, comemorando alegremente.
Depois, o povo mágico partiu subindo o Kane-Wia*
– a montanha sagrada onde Deus dorme –
e não mais voltou.
Entretanto, diariamente, sucederam aos dias
o veludo negro das noites
e, anualmente, os cacimbos trouxeram as chuvas
e as chuvas devolveram os cacimbos... sopraram ventos
ventando num dorido e constante lamento.
Houve chuvas ansiadas, esperadas em vão
no desejo árido do umbigo dos deuses e o Tempo,
vento de nada, passou leve e mangonheiro
inspirando o Infinito... expirando o Esquecimento
sobre as gravuras sagradas acabadas de gravar
quando por lá tinha passado naquele dia.
Tchitundu-Hulu rodopiou na bruma esquecida
no regaço do Tempo, encoberto e misterioso...
Um dia, no espreguiçar sem depressas, o Tempo
acordou os Kwissis e eles vieram e sem entender
ou perguntar o quer que fosse acreditaram
e adoraram a Gruta do Morro Sagrado do Céu
fazendo de Tchitundu-Hulu o mistério de sua Fé.
Namibiano Ferreira (In No Vento e No Tempo)
* O Kane-Wia é um outro morro do Namibe com uma história muito peculiar que brevemente trarei aqui para vocês conhecerem.
Tchitundu-Hulu 2
Sobre estas pinturas rupestres, existe um livro bilingue (portugues e frances) da autoria de Manuel Gutierrez: Arte Rupestre em Angola - Província do Namibe ISBN 978-284280-150-2
2 comentários:
Bela poesia.
Abraço.
Ferreira
Eu sou uma brasileira em visita aos blogs de Angola. Gostei muito de seu trabalho, muito comprometido com a história de seu povo.
Quero convidá-lo para conhecer o meu blog virusdaarte.net
Será um prazer recebê-lo, pois acho os angolanos maravilhosos.
Abraços,
Lu
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