(java)
MARIA JAVA
Mal os primeiros raios de Sol despontavam no caminho do
Leste, Maria Java já se estava banhando nas águas tranquilas do meu corpo. Não
era um banho comum, parecia era um ritual, um estranho cerimonial. Depois,
Maria dirigia-se para a Vila e por lá deslizava como se fosse um rio
atormentando os homens com a sua beleza provocante. Maria Java não fazia nada
para provocá-los, era simplesmente o seu modo de andar, a sua beleza que
embriagava os homens de desejos. Ao fim da tarde, quando o Sol ia dormir roxo
de cansaço, ela regressava ao ninho para voltar, na manhã seguinte, a cumprir o
mesmo ritual.
Com a chegada das primeiras chuvas, Maria deu à luz um
menino. Na primeira visita à Vila, as mulheres não aguetaram a curiosidade e
vieram, sem cerimónias, espiar a criancinha que, nua, dormia envolta em folhas
de bananeira. Houve logo ali mesmo alguém que traçou as parecenças da criança
com o Xico Camionista. A novidade correu como brisa no tempo das chuvas. Só a
mulher do Xico, claro, não gostou. Fez cara feia, muxoxou e foi tirar a prova
visual do ADN da criança. Quando viu o menino, os resultados da análise
saltaram com todos os cromossomas e também ela viu as trombas do mulato Xico
Camionista, seu marido, na face angelical do menino. Revirou os olhos, muxoxou
ainda mais, pôs as mãos na bunda e foi tartar do assunto com o Xico. Consta que
o Xico, mulato franzino, negou conhecer a Maria Java mas isso de nada lhe valeu
porque apareceu no Bar Esplanada com um olho negro, dizem, de um sopapo que lhe
deu a mulher.
Depois do nascimento do filho Maria Java passou
literalmente, para as mulheres da Vila, a ser uma pária, uma espécie de
enjeitada da sociedade. Ignorada pelas mulheres mas desejada pelos homens
enquanto deslizava pelas ruas da Vila, filho nos braços e os seios fartos de
leite. O tempo, mangonheiramente foi passando e Maria Java deixou de ser o tema de conversa
das mulheres. (...)
Namibiano Ferreira (final na próxima postagem)