Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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30 de setembro de 2008

QUITANDEIRA AO SOL



Foto Net



Passeio os olhos pela grande planície do sol ao meio dia.


As sombras não existem:

o sol cai a pique, diluindo-se em luz e calor.

São sinais tropicais, tangências equatoriais.

O mercado, imenso cambriquito, dorme no banho lavado de sol,

lençol estendido envolvendo cores, pregões e odores.

Uma quitandeira teima em apregoar milagres,

os milagres para todos os males... esperanças anseios e desejos

mas o seu pregão – prece chorada – não traz na voz

o milagre para grandes males; não tem na voz os milongos da Paz.



Namibiano Ferreira





















Porque hoje é dia das quitandeira em Angola!

26 de setembro de 2008

ESTÓRIA DA NOITE




Suku, meu Deus, também a noite é escura.



Havia o meu quintal
e para lá do velho quintal de brincadeiras
o mundo sem fim...
e a escuridão da Noite do mundo!


Lá fora a vastidão, o medo, a Noite...
E a Noite grudava-se na pele do meu amigo,
entrava no meu quintal despercebida.
Só mais tarde a pressenti
só mais tarde a percebi
e vi a Noite não era a noite da tua pele, amigo,
mas a escuridão da Noite,
a Noite escura do mundo;
a Noite feia dos homens.


Havia o meu quintal...
e para lá do velho quintal de brincadeiras
uma Noite a não querer ter fim
mas... há sempre um fogo brilhando
no alvor de cada madrugada:
e não há escuridão da Noite que não traga
no ventre um dia verde e maduro de Sol.




Namibiano Ferreira


23 de setembro de 2008

O SOL DE MBRUTUTU



Flor de mbrututu



O astro que ilumina

a minha alma

não é o sol.

O sol que ilumina

a minha alma

é uma árvore.

Como todas 

as árvores

é verde

e tem um sol

amarelo a vibrar

só uma flor

uma flor amarela

a despontar,

uma flor de mbrututu

a brilhar

amarela como tu, Sol!



Namibiano Ferreira

5 de setembro de 2008

MIRANGOLANDO

            
Mirangolos - Foto de Bembe                                                                                    


 Para Dinah

Mirangolando o rio nos olhos
perfumados do rolar dos mirangolos
tu és o rio onde me deito,
estrada que vem do oriente
correndo deleitosa para o mar.
Mais do que estrada, pareces um sol,
um sol fluídico a bailar Namibe
nascendo no lado do deserto
e, correndo, vem deitar-se prazeroso
na baía marulhar de minha infância
despertando a manta dos mirangolos
chovendo como pérolas de azeviche
sobre o leito rio promissor a passar
e onde me deito dongo flutuando
no rio manso, balanço de teu corpo
ximbicando o dongo sem o canto
me dizer se sou dongo, barqueiro
ou o próprio rio do teu corpo
mirangolando nas águas onde boiam
mirangolos pérolas e desejos
ansiados no cacimbo-néctar de teus beijos.






Namibiano Ferreira

King’s Lynn, 05/09/08
Mirangolos – fruto angolano de cor negra, parecendo cerejas.
Dongo – canoa, piroga.
Ximbicando – do verbo ximbicar, remar à vara.



4 de setembro de 2008

NUNCA ME ESQUECI QUE VIM DO SUL






Para o amigo Caio Eduardo (Brasil)



Vimos todos do Sul, de onde partimos
nesta aventura que é a VIDA,
roda a girar sem nunca parar...
Infelizmente há quem esqueça que vimos do Sul...
Todos do Grande Sul!!
Nunca me esqueci que vim do Sul,
meu kamba, nunca esquecerei
que vim do Sul, do Sul, além ao Sul do Sol
mar azul a rasgar a cantar calema
nu tecido molhado, alma de Kianda!



Namibiano Ferreira
(Depois de ler Flor de Milho de Jorge Arrimar)


Lynn, 04/09/2008


Kamba - amigo.
Kianda - divindade das águas, habitualmente traduz-se por sereia.


























3 de setembro de 2008

RUMO AO CUNENE - III RAID KWANZA SUL (A CIDADE, POEMA DE NAMIBIANO FERREIRA)






Igreja de Tombua

O III Raid TT Kwanza Sul, Angola, publicou uma revista, intitulada "Rumo ao Cunene" e na seccao dedicada ao Namibe, página 57, foi publicado o poema "A Cidade" de minha autoria.




A CIDADE



Da praia à Matábua
a Cidade é só areia,
mar, vento, sol e casuarinas.
E tem uma baía grande azul-feliz
que a terra abraça com vontade.

Dela só lembro a saudade navegando,
roçando seu ténue veleiro
por ventos e brisas
vingando rotas esquecidas
presas nas asas livres de gaivinas e garajaus.



Namibiano Ferreira, in revista "Rumo ao Cunene"

O meu obrigado ao Mário Tendinha de Luanda, que me avisou da publicacao e ao Admário que me facultou as imagens, para eles o meu muito obrigado!!!
Links sobre o raid: