Assembleia Nacional de Angola - Luanda
DISCURSO NO
PARLAMENTO
Um dia, encho-me
de coragem
E vou mesmo
discursar no parlamento
Confesso que fiz
juramento
De ir a pé até lá
De entrar naquela
sala,
Para discursar a
minha mensagem
Um dia, apareço
nas câmaras da televisão
Verdade mesmo,
não é ilusão
Apareço com o meu
rosto maltratado
Com o meu rosto
de drogado
Para pedir um
ponto de ordem
Aos senhores
deputados,
Eu mesmo que vivo
do outro lado da margem
Ja sei que vão
olhar com indignação
Para os meus pés
descalços
Para os meus
calções rotos
E para os meus
magritos braços
Já consigo
imaginar os vosso rostos
De indignação e
estupefacção
Mas mesmo assim
eu vou mesmo discursar
Em plena
assembleia nacional
Assim mesmo, com
este meu visual
De menino de rua
votado ao abandono
De menino de rua
cão sem dono
Eu vou à
assembleia nacional falar
Assim mesmo, sem
convite
E sem ser chamado
Eu, que não sei
falar português de escola
Vou entrar
naquela sala
Para falar com os
senhores deputados
Eu vou lá sem
convite, acredite!
E antes de me
porem andar à paulada
Antes de me
mandarem calar à porrada
Vou rasgar o meu
peito
Para vocês
escutarem o grito
De tanto
sofrimento vivido
De tanto
sofrimento bebido
E enquanto
estiver a ser arrastado
Para fora da
assembleia nacional
Eu, menino de rua
cão sem dono e drogado
Eu, menino de rua
marginal
Ainda terei
coragem
Ainda serei capaz
De trovejar a
minha mensagem:
POR FAVOR, PÃO,
TECTO E PAZ!
Não levem a mal
Mas eu vou mesmo
discursar em plena assembleia nacional!
Décio Bettencourt
Mateus
in "A Fúria
do Mar"
5 comentários:
Que poema maravilhoso!
Seria ótimo que todos os meninos de rua invadissem todos os parlamentos do mundo com o seu grito de revolta e indignação!
PARABÉNS pelo poema, Décio!
Obrigada pela partilha, Nambi
Kandandu
P.S.: Obrigada pela visita e pelo comentário, o poema que leste no 'cirandeira' é de minha autoria
Uma bela poesia para o dia da poesia.
Bom fim de semana.
Concordo com voces.
Um belo poema para o dia da Poesia.
Kandandu
MAGISTRAL!!!!! POESÍA MARAVILLOSAMENTE REAL.
UN ABRAZO
Mano, obrigado por me recordares o Discurso no Parlamento. Obrigado pela gentileza, assim como a dos que leram e comentaram.
Um kandandu.
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