Cicatrizes de guerra...
São estes haikais, ou tentativa deles, feitos no tempo da guerra. Daquela guerra... quando nada mais sabíamos fazer a não ser matarmo-nos uns aos outros num fraternal abraço guerreiro. Uns porque defendiam capitalismos, outros, diziam-se do ideário socialista ou social-democracia e os nossos, os que construiram a República Popular, acérrimos defensores do marxismo-leninismo, tudo pelo povo, nada contra o povo....
Creio que, com o passar do tempo de guerra, esqueceram-se dos brados de luta ...é o povo ...é o povo.
A guerra acabou, enterrámos as divergências, constrói-se o país novo e todos, TODOS somos, hoje, CAPITALISTAS, engordando. E o povo? O povo, esquecido que se lixe... pobre, roto, esfomeado alastrando musseques...
Mas tenho estes haikais do tempo da guerra (ou tentativa de haikais), nada mais do que ais – aiuês do povo – no choro da terra que os políticos não ouviram nos tempos da guerra, porque do barulho dos obuses e continuam sem ouvir agora, porque se fingem de SURDOS... talvez consequências nefastas do barulho (antigo) dos obuses...
E os Deuses? Não ouviram também e não querem ouvir. Dormem! Dormem há muito, porque cansados de aturar o Homem.
OS HAIKAIS (DO TEMPO DA GUERRA)
1
Um vasto pasto.
Arreganhando dentes
Hiena também ri.
2
Chegam kissondes.
A caminho da lavra
Perna perdeu pé.
3
Cantos tonantes.
O caminho vedado
Não impede kissonde.
4
Chão de riquezas...
Minha gente da terra
Fome e pobrezas.
5
Cantam cigarras.
Escondida na lavra
Morte rasteja.
6
Chuva dorida.
No ombro da estrada
Cruzes silentes.
Namibiano Ferreira
8 comentários:
Para um tema doloroso,
a boa técnica da
poesia haicai.
Com emoção.
kandandu/abraço.
Descobri este seu blog há já algum tempo, quando procurava informação sobre Angola, no caso - poesia - e me apareceu poesia de uma rara beleza estética de um poeta (que não se se sente, por enquanto poeta(!?)) que eu desconhecia por completo - Namibiano Ferreira. Residi em Angola, Luanda, durante cerca de 10 anos, lá trabalhei, amei, casei e tive um filho (o único que Deus me deu)! Quando agora aos 60 anos, após 40 anos de intensíssimo trabalho e trabalhos entrei na reforma, resolvi estudar Angola pois, a propósito de uma pequena ajuda que dei a um familiar sobre um trabalho que lhe foi proposto numa disciplina do 12º ano sobre Angola e, ao ter de pesquisar na net sobre os vários temas propostos, cheguei à tristíssima conclusão que, apesar de ter vivido 10 anos em Luanda, nada sabia dessa terra surpreendente que tanta felicidade me havia dado!... É que até bebi bastante água do Bengo e se, fisicamente regressei a Portugal, também nunca de lá saí... Tenho familiares muito chegados, já com numerosa prole nascida em Angola que aí estão há mais de 45 anos.
Mas voltanto ao que aqui me trouxe, primeiro para dizer-lhe que este seu blog foi do melhor que encontrei sobre Angola, poeticamente falando, vê-se que é feito por alguém que apesar de longe, está muito mais presente, conhece e ama muito mais a sua Pátria do que muitos que lá residem... Segundo, porque além da muita informação que dá do seu País aos seus leitores e seguidores assíduios, tem a generosidade de partilhar com eles algo de muito belo que é a sua Poesia!
Como lhe disse acima, resolvi estudar mais profundamente esse País, desde a sua história, povos,religiões, mitos, lendas, organização social, hábitos e costumes, arte, etnografia, dança, música, literatura (na qual se inclui a poesia), cinema, geografia, hidrografia, fauna, flora, desporto, economia e desenvolvimento,estrutura política actual... Este estudo é apenas para mim e quando muito para dar a conhecer a meu filho que nasceu em 1975, no actual Hospital do Prenda, então Clínica do Prenda e que, pelo facto de lá ter nascido, merece e deve conhecer a terra de onde é natural.
Assim, vinha pedir-lhe autorização para utilizar alguns dos seus poemas neste meu trabalho e que é feito, essencialmente, de recolhas feitas na net e transcrições de algunas passagens de livros que, entretanto, tenho comprado pois não sou pessoa abalizada em nenhum assunto sobre o seu País para fazer considerandos, sejam eles de que tipo forem. O estudo não será publicado, no entanto quando o acabar e já comecei a trabalhar nele há cerca de três meses, apenas o partilharei com o meu filho como lhe disse. Desejo voltar a Angola, agora para a visitar de Norte a Sul e ter uma ideia mais profunda do que é esse imenso, riquíssimo e misteriso País.
Agradecendo antecipadamente uma resposta sua ao meu pedido e pedindo desculpa por tão grande arrazoado, felicito-o e apresento os meus melhores cumprimentos.
Moacy, a guerra civil angolana foi uma enorme ferida aberta do tecido social, cultural e económico-político do meu país... ODEIO A GUERRA! Falo da guerra com mágoa, mágoa sofrida pelo povo, sofrido nos tempos coloniais e continuamente sofrendo numa época que deveria ser de Luberdade e Progresso... quanto aos haikais, foram estes os primeiros e os únicos que escrevi, tenho consciencia que nao domino a técnica, mas arrisquei.
Kandandu
Meu caro ogfs2008,
Gostei da sua longa mas agradável missiva... obrigado pelo carinho com que trata o meu blogue e sobretudo a minha poesia. O que precisar pode levar mencionando unicamente o lugar e o autor. Vejo a Net como algo a partilhar, dentro do respeito pela criacao alheia. A Net pode ser uma verdadeira globalizacao positiva.
Antes de terminar uma sugestao: porque nao publica no seu blog o trabalho que tem em maos??? Tenho a certeza que será muito bem vindo.
Kandandu!
Estimado Namibiano Ferreira,
Muito obrigada pela autorização que me concede para utilizar algumas das suas belas criações!
Quanto à sua amável sugestão para publicar o trabalho, não me sinto à vontade para fazê-lo, o que não quer dizer que seja definitivo este meu receio. Comecei hoje, pela primeira vez, a participar na blogosfera com um comentário e um pedido ao Senhor, portanto sou ainda muito "novinha" nestas andanças. Se arranjar coragem depois do trabalho feito, talvez siga a sua sugestão... Uma vez mais muito obrigada e um abraço.
Otelinda Serrano
Ok Ontelinda, seja sempre bem vinda a esta Ondjira.
Kandandu
posso tentar?!
Guerra passada.
Almas livres vagueiam
pelas estradas!
bjs e paz!
Soninha,
Haikai bem conseguido.
Kandandu
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