O Pensador - Arte Angolana, Tchokwé
SÔ SANTO
Lá vai o sô
Santo...
Bengala na mão
Grande corrente
de ouro, que sai da lapela
Ao bolso... que
não tem um tostão.
Quando sô Santo
passa
Gente e mais
gente vem à janela:
- "Bom dia,
padrinho..."
-
"Olá!..."
- "Beçá
cumpadre..."
- "Como
está?..."
- "Bom-om
di-ia sô Saaanto!..."
- "Olá,
Povo!..."
Mas por que é
saudado em coro?
Porque tem muitos
afilhados?
Porque tem
corrente de ouro
A enfeitar sua
pobreza?...
Não me responde,
avó Naxa?
- "Sô Santo
teve riqueza...
Dono de musseques
e mais musseques...
Padrinho de
moleques e mais moleques...
Macho de amantes
e mais amantes,
Beça-nganas
bonitas
Que cantam pelas
rebitas:
'Muari-ngana
Santo
dim-dom
ualó banda ó
calaçala
dim-dom
chaluto mu muzumbo
dim-dom...'
Sô Santo...
Banquetes p´ra
gentes desconhecidas
Noivado da filha
durando semanas
Kitoto e batuque
pró povo cá fora
Champanha,
ngaieta tocando lá dentro...
Garganta cansado:
'coma e arrebenta
e o que sobra vai no mar...'
Hum-hum
Mas deixa...
Quando Sô Santo
morrer,
Vamos chamar um
Kimbanda
Para ngombo nos
dizer
Se a sua grande
desgraça
Foi desamparo de
Sandu
Ou se é já
própria da Raça..."
Lá vai...
descendo a calçada
A mesma calçada
que outrora subias
Cigarro apagado
Bengala na mão...
... Se ele é o
símbolo da Raça
ou a vingança de
Sandu...
Viriato da Cruz (1928 - 1973)
1 comentário:
O perfume de Angola num belo poema do Viriato da Cruz.
Bom início de fim de semana, Caro João.
Abraço.
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