MAMÃ NEGRA
(Canto de
esperança)
(À memória do poeta haitiano Jacques
Roumain)
Tua presença,
minha Mãe - drama vivo duma Raça,
Drama de carne e
sangue
Que a Vida
escreveu com a pena dos séculos!
Pela tua voz
Vozes vindas dos
canaviais dos arrozais dos cafezais
[dos seringais dos algodoais!...
Vozes das
plantações de Virgínia
dos campos das
Carolinas
Alabama
Cuba
Brasil...
Vozes dos
engenhos dos bangüês das tongas dos eitos
[das pampas das minas!
Vozes de Harlem
Hill District South
vozes das sanzalas!
Vozes gemendo
blues, subindo do Mississipi, ecoando
[dos vagões!
Vozes chorando na
voz de Corrothers:
Lord God, what will have we done
- Vozes de toda
América! Vozes de toda África!
Voz de todas as
vozes, na voz altiva de Langston
Na bela voz de
Guillén...
Pelo teu dorso
Rebrilhantes
dorsos aso sóis mais fortes do mundo!
Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue,
com suor
[amaciando as mais ricas terras do
mundo!
Rebrilhantes
dorsos (ai, a cor desses dorsos...)
Rebrilhantes
dorsos torcidos no "tronco", pendentes da
[forca, caídos por Lynch!
Rebrilhantes
dorsos (Ah, como brilham esses dorsos!)
ressuscitados em
Zumbi, em Toussaint alevantados!
Rebrilhantes
dorsos...
brilhem, brilhem, batedores de jazz
rebentem, rebentem, grilhetas da Alma
evade-te, ó Alma, nas asas da Música!
...do brilho do Sol, do Sol fecundo
imortal
e belo...
Pelo teu regaço,
minha Mãe,
Outras gentes
embaladas
à voz da ternura
ninadas
do teu leite
alimentadas
de bondade e
poesia
de música ritmo e
graça...
santos poetas e
sábios...
Outras gentes...
não teus filhos,
que estes
nascendo alimárias
semoventes, coisas
várias,
mais são filhos
da desgraça:
a enxada é o seu
brinquedo
trabalho escravo
- folguedo...
Pelos teus olhos,
minha Mãe
Vejo oceanos de
dor
Claridades de
sol-posto, paisagens
Roxas paisagens
Dramas de Cam e
Jafé...
Mas vejo (Oh! se
vejo!...)
mas vejo também
que a luz roubada aos teus
[olhos, ora esplende
demoniacamente
tentadora - como a Certeza...
cintilantemente
firme - como a Esperança...
em nós outros,
teus filhos,
gerando,
formando, anunciando -
o dia da
humanidade
O DIA DA HUMANIDADE!...
Viriato da Cruz (1928 - 1973)
1 comentário:
Uma bela poesia, onde o sonho de um mundo melhor e uma Humanidade melhor dão a melodia que toda a poesia possui.
Enviar um comentário