Foto: Jorge Coelho Ferreira

Ondjira - A Rota do Sul (o livro - compre aqui)

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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28 de dezembro de 2021

RIP - DESMOND TUTU

 

   

"Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor."

Desmond Tutu

20 de setembro de 2021

MUSSOSSOEMA

 


Foto da net. Autor desconhecido



Há esse impregnado mistério que te acompanha a mudez pelos trilhos da vida. Nsituazola recorda as labaredas em cascata sobre a varanda. Era um fogo só de queimar os olhos. Eram roxas, loucas, vermelhas flores escorrendo uma cascata incendiada pelo caramanchão que coroava a varanda. As flores da buganvília eram a cabeleira de fogo descendo pela varanda que rodeava o velho sapalalo.


Em frente o Rio, sólida fluidez correndo as suas águas musculosas para o ventre marinho de kalunga. Ao longo das margens, uma verde aflição, um monstro verde querendo devorar a força hídrica do Rio, era a selva, a selva equatorial.

O sapalalo, velho e carunchoso, olhava estático o drama entre o fluir do Rio e a loucura verde da selva. No vagar do tempo, o sapalalo soprava estórias assobiadas por entre os inúmeros orifícios das suas paredes de madeira carunchosa. Através desses mágicos orifícios, Nsituazola podia observar as chuvas e as trovoadas antigas e aquelas que haveriam de acontecer. Quando os orifícios do sapalalo lhe mostraram o futuro que estava para vir, a Guerra, o menino deixou de falar. Nunca ninguém entendeu a razão do menino do Soyo ter deixado de falar...


Namibiano Ferreira 

17 de setembro de 2021

A PINTURA DE CRISTIANO MANGOVO


Cristiano Mangovo



Avaliação
 

Menina com picareta

“Vejo a arte como o meu mundo”, exalta Cristiano. “É só aí que tenho a sensação de me sentir um peixe dentro de água. Imagine um peixinho sem água! Vejo a arte como uma forma pacífica de combater a ignorância. Vejo-me como um orador a quem faltam palavras para se expressar. A quem faltam meios de expressão para narrar sobre aqueles que estão na escuridão, ignorados ou esquecidos pelos olhares de alguns. Sinto-me um pequeno deus quanto estou perante a tela”.

13 de setembro de 2021

AD AETERNUM

 

Foto de Aurélio Baptista - xamalundo.blogspot




Além, na margem esquerda do Curoca,
as dunas fulvas do Namibe
galopam as asas ocultas do vento
e o vento adormece e desperta
preso ao génio eterno do Tempo...


Namibiano Ferreira 

2 de setembro de 2021

TELHADO DE ZINCO


 Foto da net. Autor desconhecido



Brincam anharas

sobre os lábios hialinos

dos meus olhos

iluminados de lírios 

e eu deixo os pássaros

poisarem sobre os caniços 

do canavial  a baloiçar 

junto ao rio.


Lá fora, o azul a fugir do céu,

a vestir-se de algodão cinzento

e o vento, em crescendo,

sopra um misto arrepiado 

de calor e frio...

e nos sulcos súbitos de nada 

a chuva canta aguarulhos 

sobre o meu telhado

tambor 

de zinco ondulado.


Namibiano Ferreira 



28 de agosto de 2021

PARECER SOBRE O MEU LIVRO

Parecer de Manuel Andrade sobre o livro Ondjira - A Rota do Sul: "achei-o, do ponto de vista cultural muito rico. Há uma linguagem africana que  nos é oferecida abertamente, com recurso à língua corrente, aproveitando o seu ritmo natural para a composição de uma bela sonoridade poética. É por isso um livro muito seguro, mesmo quando se aventura a expressar sensações e emoções. Tem métrica (solta, mas com rédeas quase invisíveis) e o texto é equilibrado."

24 de agosto de 2021

LEOPARDO

 





na noite
do leopardo
só se vê os olhos

A. Barbeitos


A noite da escuridão
tem os olhos do leopardo
faiscando diamantes.
Leopardo: fere o meu coração;
aguça os meus sentidos;
crava, usa tuas garras;

não deixes o sal
arrefecer o sangue da poesia;
não deixes a rocha
tecer o casulo da ignorância;
não deixes o cacimbo
cristalizar a alma do poeta.

Viverei eu, assim, eternamente cantando
estes e outros versos insanos e selvagens
trucidando meus sentidos,
dispersando a alma nos teus olhos leopardo,
no fulgor suave das noites
e na fúria brava das calemas.


Namibiano Ferreira, in Ondjira - A Rota do Sul/ChiadoBooks 

10 de agosto de 2021

FIRMAMENTO

    A propósito de uma postagem do blog "A Matéria do Tempo", lembrei-me deste poema de 1998.


No Curoca Norte, Namibe, Angola (Foto: Pedro Klecius)

https://amateriadotempo.blogspot.com/?m=0/


 Firmamento



Até este céu nocturno é de uma
tristeza sem par...


Nas noites mágicas do Sul, no céu,
tem meninas-de-fogo
dançando as constelações mais formosas
 brincando no luando 
negro
veludo de carvão.


Namibiano Ferreira

4 de agosto de 2021

REGRESSANDO... COM LIVRO.

 



Caros Leitores,

Por motivos diversos e de saúde tenho andado, como é fácil de constatar, ausente deste blog por vários anos. Resolvi regressar e podeis dizê-lo, "ressuscitei".

Acabo de publicar o meu primeiro livro de poemas que organizei no final dos anos de 1980. 

Ondjira - A Rota do Sul, não pode, de momento e devido às restrições da Covid19, ser apresentado presencialmente. Por esse motivo venho apresentá-lo neste blog.

O livro encontra-se à venda no site da Chiado Books em Portugal e no Brasil.


https://www.chiadobooks.com/livraria/ondjira7a-rota-do-sul 



Sinopse

Ondjira – A Rota do Sul – é uma estrada do Sul que vai na direcção do Sul. Parte da infância e percorre a terra angolense e a sua história recente trazendo como grande protagonista Angola e as suas gentes. Há neste caminho uma estreita relação do poeta com a sua terra e o povo com o qual conviveu e aprendeu coisas que não vêm escritas nos livros. O autor, bisneto de colonos, soube não erguer muros e deixou entrar na sua alma os sentidos e os sabores da terra/povo que o viu nas­cer. Ondjira é, também, o testemunho de uma vivência pessoal, um tes­temunho de passagem que não esquece os sofrimentos, as aspirações e a guerra fratricida que tanto sofrimento trouxe ao povo angolano.

Esta é a Rota

Ondjira de árduas jornadas

fragmentos de muitas dores

onde balas não viram massambalas

e a hiena vem gulosa

comer a vida do Povo

caminhando cansado

à sombra de poentes macerados

e nas lavras imprecisas do sonho

Espera Novembro florir açucenas.