12 de dezembro de 2013

Soweto, Mandela e uma Lição para Angola

Durante a minha adolescência, as imagens da repressão policial contra manifestantes negros, no Soweto, na África do Sul, tinham um profundo impacto sobre mim. Cogitava sempre sobre como aquela população, indefesa, continuava a enfrentar – com danças, marchas e cânticos – o ódio mortal dos racistas do apartheid.

Essas imagens justapunham-se às de Nelson Mandela, o símbolo maior da resistência que o regime do apartheid mantinha encarcerado na prisão de máxima segurança de Robben Island.

Havia ainda uma terceira imagem, mais aterradora: a guerra em Angola. O exército sul-africano era uma força invasora no país e apoiava a guerrilha da UNITA. O governo de Angola, com o essencial engajamento das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, afirmava-se na linha de fogo contra o apartheid. Era o tempo da guerra fria, de alianças complexas, da divisão mortal dos angolanos. Para um adolescente, a questão era mais simples. Era a perspectiva do serviço militar obrigatório e a participação directa na luta, de armas na mão.

No funeral do Manuel Hilberto Ganga, o activista político assassinado pela guarda presidencial de José Eduardo dos Santos, a 22 de Novembro deste ano, vi um momento de Soweto. Às duas primeiras granadas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia de Intervenção Rápida (PIR) contra a procissão fúnebre, realizada a pé, houve pânico e dispersão. À terceira granada, a maioria tinha regressado para junto da viatura que transportava o morto e da família que havia permanecido ali, resistente. Por muitos anos guardarei a fotografia do motorista do carro funerário, firme ao volante, protegendo-se dos efeitos da intoxicação, tapando o nariz e a boca com um lenço branco.

O funeral de Manuel Ganga passou a ser a expressão máxima da segregação política, económica e social que cada vez mais divide os angolanos. Nesse contexto, a oposição política serve apenas para legitimar o certificado de democracia, que o regime adquiriu na escola das democracias de fachada. A oposição serve apenas para enfeitar o parlamento. Nesse contexto, o povo angolano é apenas aquele que, mesmo esfomeado e espoliado, vai aos comícios do MPLA, onde desfilam orgulhosos alguns dos maiores ladrões em África e, actualmente, dos mais sofisticados opressores no continente. O povo angolano são apenas aqueles grupos que apoiam e votam no MPLA. Os outros são estranhos, excluídos, quando não são perigosos e alvos a abater, como Manuel Ganga, pela ousadia de colar uns cartazes a exigir justiça!

Dias antes do funeral, de visita à África do Sul, fui ao Soweto e revisitei as minhas imagens da adolescência, através dos memoriais, sobretudo o de Hector Peterson. A 16 de Junho de 1976, a polícia do apartheid abriu fogo contra centenas de estudantes que protestavam. Há uma foto de um adolescente a levar o corpo de Hector, de 13 anos, nos seus braços, e a irmã deste atrás. A polícia matou-o a tiro.

No funeral de Manuel Ganga vi, naquele momento, um ajuntamento de pessoas dispostas a resistir e, com os mesmos olhos, vi uma Polícia de Intervenção Rápida disposta a matar cidadãos indefesos que, pacificamente, entoavam cânticos de protesto contra o presidente, o responsável moral pela morte de Ganga.

Depois de tudo o que os angolanos passaram, incluindo a sua participação sangrenta na luta contra o apartheid, e a trajectória actual da África do Sul, pensei como a opressão continua a dominar a relação entre o governo e o povo angolano.

No memorial dedicado a Hector Peterson, no Soweto, inaugurado por Nelson Mandela, há uma inscrição “em memória de Hector Peterson e todos os outros jovens heróis e heroínas da nossa luta, que deram as suas vidas pela paz, liberdade e democracia”.

Na sua mensagem de condolências pela morte de Mandela, o presidente José Eduardo dos Santos descreveu-como como aquele que “foi e é ainda símbolo carismático de todos os povos amantes da Paz, da Liberdade e da Democracia”.

Num momento em que o mundo inteiro presta homenagem a Nelson Mandela, e celebra a sua vida e obra, devemos aproveitar o momento para reflectir sobre o legado deste ícone da humanidade.

Pude entender as inscrições, no memorial de Hector Peterson, sobre a paz, a liberdade e a democracia, na África do Sul. O povo negro sul-africano sempre manifestou um grande sentido de esperança e, independente dos movimentos de libertação, sempre se manifestou nas ruas para transformar essa esperança em realidade.

Mandela, com os seus actos de resistência, antes e durante a sua detenção, foi o símbolo maior da esperança dos sul-africanos pela liberdade. Com a sua libertação, Mandela serviu como o maior catalisador para o perdão, a unidade, a reconciliação, a humildade política, a democracia e a liberdade. Acima de tudo, Mandela empoderou o seu povo com ideais e valores políticos e morais que sobreviverão aos tempos e aos políticos predadores.

Os angolanos nunca tiveram esse grande sentido de esperança, para além da sua militância em torno dos movimentos de libertação que, por sua vez, eram monolíticos e exclusivistas. O regime do MPLA mantém, em 38 anos de poder, essa cultura monolítica e de exclusão. José Eduardo dos Santos, nos seus 34 anos como presidente, apenas exigiu e sacrificou o povo. Despojou-o do poder da cidadania, de valores políticos e morais, e corrompeu profundamente a sociedade. Hoje, o angolano não consegue contemplar uma vida melhor sem ser corrupto. Dos Santos tornou-se o símbolo maior, o exemplo a seguir nos caminhos obscuros e destrutivos da corrupção e da violência política. Os políticos e intelectuais que o seguem são formatados, unidimensionais, desligados da realidade do povo, resignados e contentes por estarem do lado do opressor e das riquezas. Pior ainda é a promoção e a celebração da mediocridade, como métodos populistas de mostrar à população que não precisam de boa educação e de valores. Qualquer um pode ser dirigente, rico e poderoso como Bento Kangamba e Bento Bento, figuras extraordinárias do MPLA de hoje. É assim que se aniquila a inteligência de todo um povo, o crime maior da actual liderança angolana, que continua o seu trabalho de inferiorização do povo, a mesma estratégia usada pelos então colonialistas portugueses. Hoje, os discursos nacionais cingem-se a números, estatísticas e edifícios. A insensibilidade dos dirigentes há muito que os cegou na sua visão sobre o que é liderar e educar um povo. Por isso temem o povo e julgam poder controlá-lo apenas através da divisão e da violência.

Por isso, as palavras de paz, liberdade e democracia, no tributo de Dos Santos, não reflectem o seu comportamento ou os valores em que acredita. São apenas palavras diplomáticas.

Na África do Sul, a esperança tem estado a dar lugar a uma crescente frustração por causa do aumento das injustiças económicas e do distanciamento da elite negra governante do povo em geral. Infelizmente, muitos políticos sul-africanos seguem agora os exemplos das lideranças corruptas africanas. Hoje, na cerimónia fúnebre de Mandela, os milhares de cidadãos presentes ovacionaram, com grande emoção, vários líderes mundiais, mas vaiaram o seu próprio presidente. Todavia, os profundos alicerces da paz, da liberdade e da democracia garantem aos sectores descontentes da população a tradição e o direito de se exprimirem e de continuarem a manifestar-se sem medo.

Em Angola, os excluídos e os descontentes, que são a maioria, carecem de sentido de esperança e solidariedade colectiva. Remetem-se à sobrevivência individual, à margem da sociedade, perpetuando os ciclos da exclusão, do medo e da corrupção. Acima de tudo é uma questão de liderança.

Mandela foi uma inspiração para a bondade entre os homens. Como bem disse Barack Obama, “nós perdemos um dos mais influentes, corajosos e profundamente bondosos seres humanos”.

Angola, no seu espectro social e político, é um deserto no que toca a homens corajosos e bondosos, capazes de corporizarem o sofrimento da maioria dos angolanos e mostrar-lhes outros caminhos que não os da corrupção e das políticas de exclusão e do medo.

Todavia, situações extremas como a de Angola e a do povo angolano tendem a produzir também soluções extremas e inesperadas.

Que a vida de Nelson Mandela seja um apelo aos homens e mulheres, em Angola –
tocados pelos espíritos da bondade e da coragem – para que se levantem na defesa de uma Angola onde os cidadãos sejam humanizados e educados para o bem comum. Só assim os conceitos de paz, liberdade e democracia terão significado real e prático na vida de todos os angolanos e Nelson Mandela viverá entre nós, feliz.


By Rafael Marques de Morais - December 10, 2013 
Retirado de Maka Angola, com a devida permissao dos responsáveis do site.

11 de dezembro de 2013

TUNDAVALA



Tundavala - Angola 


Tundavala

é a vagina da Huíla

fértil

que o Namibe fálico fecunda

ejaculando

ventos, cacimbos e tempos.


Namibiano Ferreira

6 de dezembro de 2013

O LEÃO DORME – NELSON MANDELA FALECEU

Canção Zulu, da África do Sul, "Mbube" (Leão), em inglês tem o nome "The Lion Sleeps Tonight" mas é mais do que isso, é uma profunda espiritualidade que só se encontra em África.

Hoje, o Leão partiu, o  Leão Dorme esta Noite, foi para Casa, ele voltará!!

Voltará para de novo lutar pela Liberdade onde ela estiver amordaçada. 

Hoje, nos céus, riscaram os Deuses

a Constelação nova

a Constelação Mandela

a única que viaja no céu dos Hemisférios…

Namibiano Ferreira

 

Viva Nelson Mandela, O Madiba!

(1918 - 2013)

RIP!

Amandla
Ngawethu!






O homem que tira a liberdade de outro homem, é um prisioneiro do ódio, está aprisionado atrás das barras do preconceito e da estreiteza de espírito. Não sou completamente livre se tirar a liberdade de outrém e, concerteza, também não sou livre quando a minha liberdade me é retirada. Tanto o oprimido quanto o opressor são roubados da sua humanidade... Para ser livre não basta apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que se respeite e melhore a liberdade dos outros.
NELSON MANDELA

4 de dezembro de 2013

SALFABETIZANDO

Foto: Kindala Manuel 



Sentado no chão

rabiscando no pó

um grupo escutando

sentado no chão

um grupo escutando

rabiscando

com o dedo

com um pau

sem papel, e sem lápis

um grupo

salfabetizando



Carlos Pimentel

(Nasceu no Namibe em 1944) 

2 de dezembro de 2013

O QUE É A POESIA?

O que é a poesia?

A poesia é um espanto!


 

Ouço o vento, esse mesmo vento que assobia no deserto e não sabe o que nos pede.

Perguntas-me o que é a poesia, esperas ávido a resposta e, como o vento no deserto, eu também assobio e não sei o que me pedes, perguntando. Ao fim de todo este tempo eu ainda não sei que mistério é este que se entranha, como o vento, invisível pelos sulcos de todas as coisas, de todos os sentimentos, de todas as palavras. É a poesia este mistério profundo como a aurora do mundo. Está em todo o lado como se fosse uma centelha que um deus soprou e é dado ao homem captar, não na totalidade, mas em pequenas e misteriosas gotas que, do invisível ou do Logos, constrói o poeta, o poema que lhe acontece, num acontecimento também ele carregado de vetusto mistério, como se fosse uma casa erguida com tijolos de palavras, símbolos, metáforas e todas essoutras particularidades que conhecemos com a designação de poesia.

Mas saber, saber de concreto, de forma visível o que é a poesia, este mistério semi-revelado á nossa humana condição, eu não sei, eu ainda não sei o que é a poesia. E também não sei completamente como ela acontece, embora tenha uma certa fórmula que encontrei igual ou parecida à minha, nas palavras de um outro poeta, muito parecidas àquilo que se passa comigo quando a poesia me acontece. São as palavras de Sophia na sua Arte Poética IV:

“o poeta é um escutador. É difícil descrever o fazer de um poema. Há sempre uma parte que não consigo distinguir, uma parte que se passa na zona onde eu não vejo.
Sei que o poema aparece, emerge e é escutado num equilíbrio especial da atenção, numa tensão especial da concentração. O meu esforço é para conseguir ouvir o «poema todo» e não apenas um fragmento. Para ouvir o «poema todo» é necessário que a atenção não se quebre ou atenue e que eu própria não intervenha. É preciso que eu deixe o poema dizer-se. Sei que quando o poema se quebra, como um fio no ar, o meu trabalho, a minha aplicação não conseguem continuá-lo.
Como, onde e por quem é feito esse poema que acontece, que aparece como já feito? A esse «como, onde e quem» os antigos chamavam Musa. É possível dar-lhe outros nomes e alguns lhe chamarão o subconsciente, um subconsciente acumulado, enrolado sobre si próprio como um filme que de repente, movido por qualquer estimulo, se projecta na consciência como num écran. Por mim, é-me difícil nomear aquilo que não distingo bem. É-me difícil, talvez impossível, distinguir se o poema é feito por mim, em zonas sonâmbulas de mim, ou se é feito em mim por aquilo que em mim se inscreve. Mas sei que o nascer do poema só é possível a partir daquela forma de ser, estar e viver que me torna sensível — como a película de um filme — ao ser e ao aparecer das coisas. E a partir de uma obstinada paixão por esse ser e esse aparecer.
Deixar que o poema se diga por si, sem intervenção minha (ou sem intervenção que eu veja), como quem segue um ditado (que ora é mais nitido, ora mais confuso), é a minha maneira de escrever.”

E quantas, quantas vezes o poema chega aos meus sentidos como uma comunicação sensorial através de um odor, de uma memória, de um som, de uma lembrança, de uma palavra, de qualquer outra actividade, tão simples como comer, ler, sorrir, ou um sentimento  que pode ir do amor á indignação, ira ou mesmo revolta. Uma vez que esse misterioso algo se instala, numa parte de mim (que não sei onde é), de imediato se inicia um processo do fazer acontecer o poema e neste quase transe, o silêncio e a concentração são fundamentais, tal como Sophia esse fio, essa misteriosa sintonia não pode ser quebrada e tem de ser logo imediatamente registada, caso haja uma quebra na sintonia, o poema nunca mais acontece ou fica mutilado, por vezes, mais tarde é possível recuperá-lo, mas nunca é mais aquele poema de um dado e particular momento. Não é um poema acontecido mas um poema escrito, forçado (por vezes também sei fazer desses poemas). Quando um poema me acontece, posso vos dizer que me sinto um outro, eu mesmo diria que me sinto uma espécie de cavalo-de-santo, há o trespasse em mim de uma certa aura de mediúnica revelação, às vezes um êxtase ou uma pequena epifania. Quando o poema termina, é como se eu acordasse e, quantas vezes, a minha primeira leitura do poema revela-se, para mim próprio, um espanto. Creio, então, que a poesia é este espanto e que uma vez escrito e dado a ler a outros vai, de cada vez que é lido, permitir o acontecimento da poesia e dessoutro espanto para muito além do processo criativo. Os leitores, cada um a seu jeito, fazem reacontecer o poema e o espanto intemporalmente.


Namibiano Ferrreira 

1 de dezembro de 2013

OS MEUS PÉS DESCALÇOS



Os meus pés andantes
Procuram a palanca real, palanca negra
E desencantam as quedas de Kalandula
Quedas da minha terra
Oh é bela Angola
É bela Angola e são felizes os meus pés caminhantes

Os meus pés empoeirados
Acariciam subsolo rico, ouro negro a jorrar no alto mar
Ouro negro a jorrar no offshore
E no onshore
Ouro negro a brotar
Das entranhas do mar, para os meus pés esfomeados!

Os meus pés garimpeiros
Apalpam tesouros e mais tesouros
Minas de diamante, ferro, cobre, prata, ouro…
Debaixo dos meus pés ásperos
Minas de diamante debaixo dos meus pés maltratados
Debaixo dos meus pés esfomeados

Os meus pés camponeses
Galgam a terra, terra boa de agricultura
Terra boa de verdura
E farta de feijão, mandioca, milho, batata…
Terra boa, terra farta
Debaixo dos meus pés famintos e felizes

Os meus pés pescadores
Banham-se em mares ricos
Mares de garoupas, corvinas, carapau, mariscos…
E mergulham em rios fartos, Kwanza, Kubango
Keve, Bengo…
Águas fartas a banharem os meus pés sofredores

Os meus bolsos vazios
Vêem outros bolsos vazios aterrar desnutridos
E depois, bolsos cheios
A levantar voo, a embarcar abastados
Bolsos cheios a embarcar com sorrisos
A embarcar abarrotados, oh que paraíso!

Os meus pés descalços
Clamam por migalhas, clamam por pedaços
Os meus bolsos vazios
Não clamam por milhões, não clamam por rios
Os meus bolsos vazios e os meus pés famintos
Clamam somente por migalhas de alimentos!


Décio Bettencourt Mateus

in "Os Meus Pés Descalços"

29 de novembro de 2013

ALMAS DE PORCELANA

Painel de azulejos da Fortaleza de Luanda.


Do forno ao desejo
simétricas
almas
de porcelana

É a linha
exterior
que revela
mais que qualquer
configuração
no centro
dos azulejos

Um em si
não cabe
de quadrado
tão pequeno

Daí galgar
de costas para o chão
onde renasce
em forma de mulher
fecundos cacos de gume e
verniz.

Gociante Patissa,

 in «Guardanapo de Papel», livro de poemas com edição em curso sob chancela da NósSomos, Lisboa, Portugal. 

27 de novembro de 2013

ORGASMO

   Para Dinah                                                         


Cantei o teu nome no burburinho de pérolas
balbuciando o rufar das manhãs lascivas de prata.
Toquei o teu corpo, guitarra de curvas-enseadas,
eu pescador lançando rede no mar do teu sargaço
aberto como ventre de algas ao fluxo da maré.
Nos lábios tesos, órficos da noite, plantei a brasa
que lança a asa do meu querer a rogar teu corpo
púlpito de aras mansas e claras de um templo
consagrado a escorrer vermelhas buganvílias
com que visto o prelúdio quente do meu desejo.
Navego teu corpo, nua humidade de um búzio,
concha rosada e aberta para receber a seiva
a descer, a cair do remo fálico a remar-te
timoneiro num grito de estretor  e prazer
de nossos corpos saciados mar de calemas
marulhando o verbo amar na nudez ao luar.



Namibiano Ferreira

25 de novembro de 2013

NAMIBE - VÍDEO

Conhecer o Namibe e o povo Mukubal (Ovakuvale, da etnia Ovahelelo)

21 de novembro de 2013

CAIM


E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.
Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.

Génesis 4:3, 5


Arei o chão estéril e vazio.
Dos frutos colhidos de meu suor
fiz meu sincero sacrifício,
colocando devoto,
sobre as aras de Deus,
meus trigos, centeios e cevadas
(pão de minha boca e minha casa).
Deus, porém, me ignorou
injustamente
olvidando meu tão casto sacrifício
e despertou em mim
o crime roxo de sangue.


(O que Caim desconhecia, meus amigos,
é que Deus, afinal, não é vegetariano.)


Namibiano Ferreira 

13 de novembro de 2013

A CANTORA TCHININA



Cantora Tchinina marca uma época

Altiva e irreverente, Tchinina teve o mérito de romper com o preconceito de mulher cantora, arraigado na época colonial, fazendo ouvir a melodia da sua voz de norte ao sul de Angola, em umbundo, destacando-se num universo feminino dominado pela música da capital, interpretada em quimbundo.

Quando saiu pela primeira vez da sua terra natal, em 1952, com apenas dois anos de idade, Tchinina foi para o Lobito, onde viveu em casa de um tio, José Mangenge, irmão do pai. Depois, em 1958 entrou para o internato da Missão católica da Babaera, adstrita ao município da Bela Vista, hoje Catchiungo, a cerca de 62 quilómetros a leste da cidade do Huambo, município onde aprendeu a tradição do cancioneiro local, e frequentou o Colégio da Nossa Senhora do Carmo, até ao quarto ano do ensino liceal.

Filha de Pereira Chipenda Manjenje e de Rosária Simbaluca, separados quando a cantora tinha apenas dois anos de idade, Teresa da Cruz Manjenje, Tchinina, nasceu no Huambo, Município do Ucuma, situado a 92 quilómetros da capital provincial, a 19 de Setembro de 1950. Em consequência da separação dos pais, teve uma infância atribulada e difícil, tendo sido obrigada a ser criada por um segundo tio, Padre Jorge Mangenge, e viveu depois no internato das madres do Bairro Canhe, desta vez mais próximo da cidade do Huambo.

Em 1970, rompeu voluntariamente com um casamento precoce e efémero, engravida aos 15 anos de idade, e decide fugir do Huambo para Malange, onde se junta ao conjunto Ndimba Ngola que, na altura, estava em digressão prolongada, num espectáculo realizado no Atlético Clube de Malange.

Aí, começa a primeira grande aventura musical de Tchinina, que interpreta a canção, “Mulata é a noite”, música de Conchinha de Mascarenhas, sobre um poema de Adelino Tavares da Silva, uma forma de teste, solicitado por Dominguinhos, do conjunto Ndimba Ngola: “Como eu/ a noite nasceu mulata/na escuridão da cubata/ é pecado do subúrbio/ Mulata / é distúrbio no musseque /e a lua é pé de moleque/ que adoça a provocação/ A noite /é como pano de chita/ que foi esteira de rebita/ deixou missanga no chão/ Como eu/ a noite é bronze maciço/ liga de prata e feitiço/ gosto de açúcar/ mascavo/ A noite/ é um travo de maboque/e a mulata é um/retoque/na polpa da natureza/Mulata/ é estrela de bairro pobre/ é barro que imita o cobre/ torneado de surpresa.”

Ante a surpresa de todos, Tchinina encantou quem a ouviu, com uma belíssima interpretação de “Mulata é a noite”, tendo sido convidada, logo depois, para acompanhar a digressão do Ndimba Ngola, que durou quatro meses, desta vez para Saurimo, Lunda-Sul, Cuango, Cafunfo, Cangula, Camaxilo, Marco 27, Moxico, Camacupa, Bié, Huambo, Gabela e Dondo. Depois da digressão, Tchinina parte do Dondo para Luanda, em 1972, e conhece, através do cantor e compositor Dominguinhos, dos Ndimba Ngola, o empresário Luís Montez, promotor dos “kutonocas”, espectáculos itinerantes de rua realizados nos bairros periféricos de Luanda.

No auge do sucesso das canções: “O amor é como as rosas”, e “Utima ua teka teka”, temas do seu primeiro single, gravado em 1973, multiplicam-se os convites para cantar. É assim que passa pelo Maxinde, Marítimo da Ilha, Kudissanga kuá makamba, Salão do Braguês, Giro-giro, Festas da Feira Popular, Chá das Seis, no Cinema Restauração, e Mandarim, na Ilha de Luanda, onde dividiu o palco com Milá Melo, Teta Lando, Mário Gama, Quarteto 1111, do cantor português José Cid, Lourdes Van-Dúnem, Belita Palma, Elias diá Kimuezo, António Paulino, David Zé, Urbano de Castro, Artur Nunes, Cirineu Bastos, Zé Viola e Sofia Rosa.

Canções

Em 1973 e 1974, Tchinina cantou, enquanto compositora, a desilusão amorosa em “O amor é como as rosas”, “Otchiliochlili”, e “Utima ua teka teka” (coração partido). Sofrida, falou das ocorrências e desencantos da vida em “Lamento”, “Alundu” e “Teia teia”, das crenças e do poder das tradições em “Somaiangue” e “Ngangaté”, da nostalgia em “Saudades de mãe”, e da intervenção política em “Maia Ngola”. Ao longo da sua carreira, Tchinina gravou pela Valentim de Carvalho e Fadiang, e foi acompanhada pelos conjuntos África Ritmos, África Show, Gingas, Cabinda Ritmos e Bongos do Lobito, e a banda Black Power, com a qual gravou, em Portugal, o LP “Folclore Angola, afro folk beat África”.

Um disco com 12 faixas representativas da carreira de Tchinina, “Mana”, “Tukina”, “Yolela”, “Saudades de mãe”, “Uteque”, “Okufá”, “Somaiangue”, “Cassinha”, “Mucanda”, “Ekumbi”, “Taté”, “Hossi” e “Quidalé” fazem parte da colectânea “Angola anos d’ouro”, da série reviver.

Portugal

Com o encerramento das principais gravadoras em Angola, no período da independência, e com a intenção de prosseguir a sua carreira musical, Tchinina foi ainda secretária de Relações Públicas do Governo de transição, e parte para Portugal no dia 28 de Março de 1976, onde viveu 34 anos. Em Portugal enfrentou outros desafios, viveu na Covilhã, Lisboa, Setúbal, Portimão, Vila Nova de Mil Fontes e Águeda. Ainda em Portugal, de 1977 a 1979, foi acompanhada pela banda África Star, formação de músicos provenientes do Lubango, constituída por Victor (bateria), Octávio (saxofone), José Maria (viola ritmo), e João de Almeida (viola baixo).

Homenagem

Tchinina foi homenageada no dia 29 de Julho de 2013, no auditório da Direcção Provincial da Cultura do Huambo, pelo reconhecimento do conjunto da sua obra e pelos esforços de internacionalização da música angolana em Portugal, nos primeiros anos depois da independência de Angola.

Participaram na homenagem o poeta Chico Pobre, as cantoras Edna Mateia e Lili de Vasconcelos, os grupos de teatro Morro do Moco e Vozes d’África, o grupo de música gospel Raiar da Luz e o cantor Skil One.

Tchinina está incluída no CD “Vozes do Planalto, relíquias do passado”, a sair brevemente, com as canções, “Utima ua teka, teka” e “Quidalé”, colectânea onde figuram os cantores Bessa Teixeira, Justino Huandanga, Zé Cathiungo, e João Afonso.



Jornal de Angola, 4 de novembro de 2013 

ANGOLA: OS POETAS (BLOG)

Quero  apresentar-vos este magnífico blog ANGOLA: OS POETAS, onde tudo o que se publica são poemas de poetas angolanos, imagens de Angola e, de quando em vez, um vídeo musical. Aconselho-vos a visitá-lo. http://angolapoetas.blogspot.co.uk/
Eis alguns dos poetas recentemente publicados:


E OS HOMENS DA TERRA...

e os homens da terra
sentaram-se! frutos silvestres
emprestaram sabedoria e sombra
poeiras campestres
abençoaram papeladas
e acordos nos matos das picadas!

um vento a soprar agreste
as terras do leste
falou-me d' homens sentados
em troncos e pedras
a falarem acordos e palavras
e obuses de canhões silenciados!

a taça do sangue das armas
entornou-se! batuques e lágrimas
das gentes magricelas
a espreitar homens da terra
sentados, a falarem de paz em palavra
e sonhos e acordos d' estrelas!

a tumba dos homens apagados
em camuflados e botas
aplaudiram palmas
kazumbis e almas
dançaram alegria na matas
e homens sentaram pedras d'acordos!

e as patentes da terra
conversaram! calaram-se ruídos
e fuzis d' homens fardados
a barulhar palavras e guerras
conversam os homens nas pedras
e nos troncos dos acordos!

e os homens da terra conversaram!

Décio Bettencourt Mateus



NOVEMBRO É QUANDO

novembro é quando
o silêncio ajoelha
nos homens
o beijo de duas faces
comovido

(lágrima de
orvalho que
o cacimbo
esqueceu)

novembro é nem
saudade
pelos braços
todos
acima

David Mestre

11 de novembro de 2013

DIPANDA, UM BOM DIA PARA TODOS


1975 - 2013 - VIVA O 11 DE NOVEMBRO



REFLEXÃO PARA HOJE



Não é o poder que corrompe, mas o medo. O medo de perder o poder corrompe aqueles que  o exercem e o medo do açoite do poder corrompe aqueles que estão sujeitos a ele (...) em qualquer sociedade onde o medo é frequente, a corrupção grassa em todas as formas tornando-se profundamente enraizada.



Aung San Suu Kyi 

(Do discurso "Freedom from fear", proferido in 1991.)

5 de novembro de 2013

POEMA DE NOK NOGUEIRA


Se me vierem saudar à porta deixá-la-ei entreaberta
para que o vento a feche as mãos são por de mais
puras para que se fechem diante dos homens
não entendo como fora difícil decifrar que o tempo
é um extracto do que se considera como sendo um
preciso compor de velhos instantes
alguém me seguirá caso a porta se mantenha
entreaberta entre o corredor e o acesso dos degraus
das escadas cuja cor se confunde com o castanho
e o vermelho do barro e a secular pintura dos homens
inscritas em velhos jornais
se crescem plantas entre as avenidas é porque alguém
as jogou primeiro como vivas sementes em terreno
nacional e em praça municipal
se colho de tarde restos de brilhos do sol onde nasce
a lua continua o arquivar da luz para que as noites
nunca se esgotem em nós para que as palavras nunca
se nos pereçam e para que sejamos nós mesmos diante
de um acordeão em bailes de rebita
se me vierem saudar à porta deixá-la-ei entreaberta
para que o vento a feche pois as mãos são por demais
puras para que se fechem diante dos homens



Nok Nogueira, in Jardim de Estações.

29 de outubro de 2013

KIANDA


 
Imagem retirada de Malembe Malembe


Nua, vestida de vento e purpurina
a Kianda penteava o mar
nas tranças maresia do cabelo
e trazia pedacinhos de salsugem
no fogo pétala dos beijos.
Kianda nua, pele luzidia a cantaromar
a chuva mística do semba da lua
o meu corpo afagava e eu, quase a morrer,
desejava tocar seu corpo intocável e puro:

Kianda nua, vestida de vento e purpurina...


Namibiano Ferreira

UM CAFUNÉ MÃEZINHA!


À memória de Luzia Bettencourt M., minha mãe.



Um cafuné mãezinha
Um cafuné na minha carapinha
Mimos e carícias nos meus cabelos
Numa brincadeira de assim
Meu cabelo ruim
E teu cafuné a embalar meus pesadelos!

Um cafuné na minha carapinha
Teus dedos mãezinha, rios
E estrelas nos receios
E caminhos dos meus cabelos
Teus dedos tranquilos
A me afagarem assim mãezinha!

Um cafuné a embalar meus medos
E o amor a brotar e a jorrar
Na minha carapinha
Que eu oiço a voz do luar
Mãezinha
Oiço o luar nos teus dedos!

Um cafuné e conta-me estórias
E sabedorias:
“Era uma vez, o coelho e o macaco…”
Uma estória de carapinha
A adormecer noitinha
E eu durmo o embalo do teu cântico!

Os caminhos do dia correm pantanosos
Os silêncios da noite misteriosos
Eu em medos e manias
À espera das tuas estórias
Teu cafuné mãezinha
A adormecer-me a carapinha!

Oh! A noite é dura
E eu durmo insónias na noite escura
A sonhar teu cafuné mãezinha
Minha carapinha castanha
Meu cabelo ruim
À espera mãezinha, num cafuné de assim!

Um cafuné mãezinha
Um cafuné na minha carapinha!

Luanda, 20 de Janeiro de 2007.

Décio Bettencourt Mateus

in Xé Candongueiro!




A MÃO DO VENTO NA SAVANA

Mais de três décadas depois de surgirem Vinte Canções para Ximinha, (1971) e Caderno dum Guerrilheiro, chegou a hora da republicação desta poesia de João-Maria Vilanova. Um acto de justiça elementar a um injustiçado poeta angolano da modernidade. A poesia de Vilanova pela mão de Luandino Vieira.

Poesia - João-Maria Vilanova
Edição/reimpressão: 2007
Editor: Editorial Caminho
ISBN: 9789722116220
10,90€




Que voz perpassa
em teu dorso quando
a noite
passos-de-onça
se aproxima?
Memória de areais
Negras falésias?
Se te escutando
paciente é o trabalhar
de onda.
Eflúvios frémito
um deus muíla que subisse
monandengue
só da raiz do sangue.


João-Maria Vilanova 

22 de outubro de 2013

QUEM MATOU SOFIA ROSA - ÁFRICA TENTACAO

Homenagem ao Sofia Rosa (assassinado em 1975, no Lobito) dos África Tentacao.



NO ÓVULO DAS CIDADES



Começaram as chuvas.
O dia caminha mole e cinzento
dentro da tromba do elefante.

Nosso rio estruturou no céu
seu caudal pleno de batuques e ferreiros.

Mais altas que o vento voam as mulheres
de seios sangrando o sono azul dos pássaros.

A cabeça da terra irriga os lábios da infância.
As madeiras suspensas da fala estão húmidas.

Amanhã vamos levar nossas enxadas e depor
uma lágrima de esperma no óvulo das cidades.


José Luís Mendonça

POEMA DE JOAO-MARIA VILANOVA

Quimbo!
Foto: Nelson Viegas


Kimbo solitário coxilando
sob o lado oculto da Lua

Esse kimbo aí
não tem mais gente
nem bicho
pé da porta não
Ngulu que tu não
comeu
onça ela comeu
cabrito & sanji
que tu não
comeu
onça ela comeu
e povo do lá
e povo do lá
sem nadica do nada
para
comer
imabamba dele
cambeza dele
surruu
aiuê
na mata
quando que
sem galinha ciscando
sem galinha ciscando
galo negro
todo chapado em ferro
hela
ele chegou


João-Maria Vilanova


Sobre Joao-Maria Vilanova (texto retirado do site da UEA-Uniao de Escritores Angolanos)



João Maria Vilanova, poeta da geração de 70, é um nome que esconde o maior enigma da literatura angolana, um heterónimo que encobre muito bem o seu autor biológico-histórico, continua fictício até hoje.

Na linha do pensamento teórico que vai de Stephane Mallarmé a Jonathan Culler “interessa reflectir sobre a teoria da textualidade: a noção de que é a palavra que constrói a realidade, e, portanto, é responsável pela criação daquele espaço criador que é o autor. Nesta linha de pensamento, o autor desaparece para dar lugar a palavras, cuja acção não só cria a obra, mas também o próprio autor. Roland Barthes identifica esse fenómeno como o “espaço discursivo de individuação” o qual estabelece certa unidade textual que nos permite ultrapassar as contradições, nas quais se neutralizam os dados biográficos (Barthes, Roland, «Roland Barthes par lui-même», Paris: Seuil (1975)”, teorização desenvolvida pela ensíata Joanna Courteau (Ames), ler o texto intitulado «D´A varanda do frangipani à morte dos heterónimos», in Lusorama, nr. 50 (Juni 2002).

Jorge Macedo garante que conheceu o poeta quando esteve a trabalhar no Kuanza Norte, ou seja, suspeita que tenha sido “um juiz branco que gostava da poesia angolana, que conhecia as diversas propostas poéticas”. Muitos são os escritores dessa geração que lançam suspeitas para todas as direcções.

Galadoardo em 1971 com o Prémio Mota Veiga, atribuído a «Vinte canções para Ximinha», nunca apareceu para receber o merecido prémio. Mas não deixou de aparecer, em 1974, através da revista Ngoma, mantendo-se na mesma no meio de uma «grande nuvem». Em 1974, edita «Cadernos de um guerrilheiro».

João - Maria Vilanova é um poeta que usa o bilinguismo como seu recurso de escrita e por ser assim “marcadamente bilinguista, regionalista, vanguardista, intraduzível, e, portanto, inequivocamente pré-angolana, a poesia de João Vilanova paga o preço do desconhecimento mundial, enquanto a poesia de Agostinho Neto, retórica, grandiloquente, alegórica, aristotélica, aspirante ao universalismo, aufere fama de múltiplas traduções. Vilanova realiza na poesia algo como José Luandino Vieira na prosa: retira à História da Literatura Portuguesa poder de anexação”, são palavras do crítico Pires Laranjeira.

O ensaísta vai mais longe na sua análise estrutural quando afirma que “Não há recorrência ao empolamento do metaforismo e da ruptura abrupta da ritmia do discurso, como seria usual nas concepções poéticas latino-europeias. As rupturas e empolamentos situam-se em níveis do discurso diferentes da literatura portuguesa. A inovação é, por isso, de sinal radicalmente anticolonialista. O discurso não pode ser apropriado pelas instâncias colonialistas por se inscrever nos antípodas da sua boa consciência. A forma dialógica é também inalienável da condição de herdeiro da estrutura da narrativa bantu.”.

Pires Laranjeira não deixa de realçar na sua crítica o apuramento estilístico de Vinanova que foge do discurso directo: “A denúncia do paternalismo, como de outras sequelas do colonialismo, quase nunca se faz em linguagem expositiva, panfletária. A força, o propósito do discurso poético não é do mesmo género do discurso político.”

Os quimbos quietos pensados no silêncio (...) Da Envagélica os cânticos se derramando na voz do vento: povo

Excerto de um poema in Vinte Canções para Ximinha.

Para o professor Manuel Ferreira, o poeta anónimo "será o que mais conscientemente prolonga e renova as experiências dos poetas da Mensagem e da Cultura (II). Tudo leva a crer que Vilanova venha dos tempos da Mensagem, notadamente quando o seu enunciado é a expressão de um certo quotidiano povoado de rememorações; nelas e na narração evocativa um mundo de anseios e suspensões significativas nos povoa a imaginação".


Ainda segundo Manuel Ferreira, em Caderno de um guerrilheiro, o poeta elege como temática "o povo angolano crescendo na luta armada." e considera-o como o poeta do "rigor e da elaborada interiorização da gesta do povo angolano, com uma fala para cada tema, uma gramática pessoal na fusão de níveis e áreas linguísticas, mesmo quando o real é momentâneo e no seu verbo se trtansfigura e dimensiona".