Os meus pés
andantes
Procuram a
palanca real, palanca negra
E desencantam as
quedas de Kalandula
Quedas da minha
terra
Oh é bela Angola
É bela Angola e
são felizes os meus pés caminhantes
Os meus pés
empoeirados
Acariciam subsolo
rico, ouro negro a jorrar no alto mar
Ouro negro a
jorrar no offshore
E no onshore
Ouro negro a
brotar
Das entranhas do
mar, para os meus pés esfomeados!
Os meus pés
garimpeiros
Apalpam tesouros
e mais tesouros
Minas de
diamante, ferro, cobre, prata, ouro…
Debaixo dos meus
pés ásperos
Minas de diamante
debaixo dos meus pés maltratados
Debaixo dos meus
pés esfomeados
Os meus pés
camponeses
Galgam a terra,
terra boa de agricultura
Terra boa de
verdura
E farta de
feijão, mandioca, milho, batata…
Terra boa, terra
farta
Debaixo dos meus
pés famintos e felizes
Os meus pés
pescadores
Banham-se em
mares ricos
Mares de
garoupas, corvinas, carapau, mariscos…
E mergulham em
rios fartos, Kwanza, Kubango
Keve, Bengo…
Águas fartas a
banharem os meus pés sofredores
Os meus bolsos
vazios
Vêem outros
bolsos vazios aterrar desnutridos
E depois, bolsos
cheios
A levantar voo, a
embarcar abastados
Bolsos cheios a
embarcar com sorrisos
A embarcar
abarrotados, oh que paraíso!
Os meus pés
descalços
Clamam por
migalhas, clamam por pedaços
Os meus bolsos
vazios
Não clamam por
milhões, não clamam por rios
Os meus bolsos
vazios e os meus pés famintos
Clamam somente
por migalhas de alimentos!
Décio Bettencourt Mateus
in "Os Meus
Pés Descalços"
Lindo poema,
ResponderEliminarTriste povo,
Hoje mais um,
Dos ricos povos,
Que adornam alguns,
Com as lágrimas de sangue,
Do seu povo.
Um grande abraço.
Gia,
ResponderEliminarSem dúvida um poema muito forte e de um cerne profundo...
Décio, é um poeta que escreve coisas doridas, sérias e com muita critica sem usar uma linguagem agressiva.
Para agressividade e destruicao já nos bastaram a guerra.
Décio, dá voz aos que nao tem voz!
Procure o blog do poeta, A Mulembeira.
kandandu
Namibiano