20 de setembro de 2021

MUSSOSSOEMA

 


Foto da net. Autor desconhecido



Há esse impregnado mistério que te acompanha a mudez pelos trilhos da vida. Nsituazola recorda as labaredas em cascata sobre a varanda. Era um fogo só de queimar os olhos. Eram roxas, loucas, vermelhas flores escorrendo uma cascata incendiada pelo caramanchão que coroava a varanda. As flores da buganvília eram a cabeleira de fogo descendo pela varanda que rodeava o velho sapalalo.


Em frente o Rio, sólida fluidez correndo as suas águas musculosas para o ventre marinho de kalunga. Ao longo das margens, uma verde aflição, um monstro verde querendo devorar a força hídrica do Rio, era a selva, a selva equatorial.

O sapalalo, velho e carunchoso, olhava estático o drama entre o fluir do Rio e a loucura verde da selva. No vagar do tempo, o sapalalo soprava estórias assobiadas por entre os inúmeros orifícios das suas paredes de madeira carunchosa. Através desses mágicos orifícios, Nsituazola podia observar as chuvas e as trovoadas antigas e aquelas que haveriam de acontecer. Quando os orifícios do sapalalo lhe mostraram o futuro que estava para vir, a Guerra, o menino deixou de falar. Nunca ninguém entendeu a razão do menino do Soyo ter deixado de falar...


Namibiano Ferreira 

17 de setembro de 2021

A PINTURA DE CRISTIANO MANGOVO


Cristiano Mangovo



Avaliação
 

Menina com picareta

“Vejo a arte como o meu mundo”, exalta Cristiano. “É só aí que tenho a sensação de me sentir um peixe dentro de água. Imagine um peixinho sem água! Vejo a arte como uma forma pacífica de combater a ignorância. Vejo-me como um orador a quem faltam palavras para se expressar. A quem faltam meios de expressão para narrar sobre aqueles que estão na escuridão, ignorados ou esquecidos pelos olhares de alguns. Sinto-me um pequeno deus quanto estou perante a tela”.

13 de setembro de 2021

AD AETERNUM

 

Foto de Aurélio Baptista - xamalundo.blogspot




Além, na margem esquerda do Curoca,
as dunas fulvas do Namibe
galopam as asas ocultas do vento
e o vento adormece e desperta
preso ao génio eterno do Tempo...


Namibiano Ferreira 

2 de setembro de 2021

TELHADO DE ZINCO


 Foto da net. Autor desconhecido



Brincam anharas

sobre os lábios hialinos

dos meus olhos

iluminados de lírios 

e eu deixo os pássaros

poisarem sobre os caniços 

do canavial  a baloiçar 

junto ao rio.


Lá fora, o azul a fugir do céu,

a vestir-se de algodão cinzento

e o vento, em crescendo,

sopra um misto arrepiado 

de calor e frio...

e nos sulcos súbitos de nada 

a chuva canta aguarulhos 

sobre o meu telhado

tambor 

de zinco ondulado.


Namibiano Ferreira