Poeta e ensaísta angolano, João André da Silva Feijóo nasceu a 29 de
setembro de 1963, no Lombo, província de Malanje, Angola. Mudou-se para Maquela
do Zombo, onde viveu a infância, indo depois para Luanda, onde viveu no Bairro
do Cazenga, a partir da sua adolescência.
Licenciado em Direito pela Universidade Agostinho Neto, em Luanda, o autor
despertou para a poesia aos 22 anos de idade. Na verdade, já em 1985, publicou
o seu primeiro livro de poemas Entre o Écran e o Esperma, que, fruto de grande
aceitação por parte dos meios literários, recebeu uma "Menção
Honrosa" no concurso de literatura "Camarada Presidente",
promovido pelo INALD (Instituto Nacional do Livro e do Disco).
Foi membro da direção da Brigada Jovem de Literatura até 1984. Integrou
posteriormente o trabalho coletivo do grupo "Ohandanji", que, a
partir daquele ano, começou a publicar os seus textos na página cultural de O
Jornal de Angola e na gazeta Lavra e Oficina (da União dos Escritores
Angolanos) e que, posteriormente, como forma de ultrapassar as dificuldades
provocadas pela ausência de alternativas, recorreu a edições policopiadas.
Exemplo destas edições é a coleção "Katetebula/Semi-breve" na qual
Lopito Feijóo publicou, s/data, no primeiro número, um texto poético intitulado
"Me ditando".
Nome importante da geração de 80, a chamada "Geração das
Incertezas", João Feijóo assume a rutura com os cânones semânticos e
estéticos tradicionais, propondo uma estética assente numa linguagem
dissonantemente metafórica e no experimentalismo visual. Com um estilo
simultaneamente satírico e irreverente, a sua poiesis, caracterizada por um
profundo teor lírico, é fruto de um sujeito poético revoltado e colérico que
assume a melancolia como forma de exprimir a sua frustração e o seu desencanto
face à realidade social e política de Angola. Esta cólera, metaforicamente
simbolizada por uma descarga biliar produzida por um mal-estar hepático, é o
resultado do descontentamento que lhe provocam as permanentes situações de
guerra e opressão - "o veneno sorumbático" - que ameaçam, desde há
muito, a sua Pátria e que, em permanente vigília, procura combater: "O
veneno sorumbático inspira vigília (...)".
Como a grande parte da produção poética da geração sua contemporânea, a
poesia de Feijóo recorre à metaforização do mar, enquanto lugar de meditação do
"eu lírico", para exprimir o seu "olhar noturno" e
insatisfeito sobre uma realidade social e política corrupta que contraria os
ideais de justiça e igualdade defendidos e conquistados por gerações
anteriores.
Perpassada por um claro ceticismo face aos tempos presente e futuro, a sua
obra apresenta, porém, alguns momentos que nos remetem para a constatação da
necessidade de repor a capacidade de sonhar e de desejar.
Em colaboração com Luís Kamdjimbo, publicou o ensaio Geração da revolução,
novos poetas angolanos em volta, s/d, na qual dá voz a novos poetas, entre os
quais Ana Paula Tavares, José Luís Mendonça e João Maimona.
No ano de 1988, organizou, a antologia No Caminho Doloroso das Coisas.
Antologia de Jovens Poetas Angolanos, primeira antologia editada depois da
independência de Angola, reunindo os textos da jovem geração dos anos 80.
Membro da União de Escritores Angolanos (UEA), escreveu os seguintes
livros: Entre o Écran e o Esperma (1985), Menção Honrosa no concurso de
Literatura "Camarada Presidente"; Me Ditando (s/d); Doutrina (1987),
edição da UEA; Rosa Cor de Rosa (1987); Corpo a Corpo (1987); Cartas de Amor
(1990); Meditando. Textos de Reflexão Geral sobre Literatura (1994).
Reconhecido e prestigiado poeta e ensaísta, a sua obra figura em revistas e
jornais nacionais e estrangeiros, nomeadamente brasileiros, portugueses,
galegos, norte-americanos, etc.
(Retirado Infopédia)
Obras:
Doutrina (poesia,
UEA,1987);
Me Ditando, Rosa
Cor de Rosa, Corpo-a-Corpo (plaquetes de poesia, 1987);
No Caminho
Doloroso das Coisas — Antologia de Jovens Poetas Angolanos (UEA 1988);
Cartas de Amor
(UEA, poesia, 1990);
Meditando (ensaio
e crítica, 1994).
Marcas da Guerra
Percepção Íntima & Outros Fonemas Doutrinários (Nóssomos).
Três poemas de
J.A.S. Lopito Feijóo K.
KURTA ÁFRICA
Não passeia e
nunca desce o sol
ilumina alumia e
brilha
dá-nos de njamba
a ancestral robustez e
o dinamismo de
kandimba sempre no auge.
Argumentados com
um funge de kandumba
o calculismo e a
tranquilidade dos kilambas
os azares dos
capazes e a sorte dos audazes rapazes.
Turbulenta
auto-estrada e fértil fragrância
alimento sem o
qual hoje e depois
não somos o mesmo
igual.
Autocratas
burocratas tecnocratas ou democratas
aristocratas de
sumaúma ou mesmo artistas de rua
com a turva
suruma de repetentes olhares!
PURA & MADURA
Para Aminata
Goubel
I
Chamam-me África
pari bastardos e
bastantes
que mesmo
sofrendo além-mar
seu berço pode e
significa.
II
Ncundi ou Npangui
são tão filhos quanto tu
do Burundi ou
Ruanda
tenho-os tão bem
em Luanda [no Kwanda ou na Ganda].
III
- Oh feitiço de
carne e ossos:
Sincroniza-te
em razão dos
nossos
e como sempre
imenso multiplica-te-me.
IV
Sou mulher/mãe
entre Yorubas e Bambaras
entrego-te-me
pouca, louca e madura
PURA ÁFRICA PURA!
POEMA PRIMEIRO DA
CAUSA
Não importa a cor
não importa a dor
- viva a maciez
do oiro.
Não importa a voz
não importa a foz
- viva o caudal
do riso.
Não importa o
berço não importa a bênção
- viva a
escavação do incauto.
(Extrair do
humano o jorro bicôncavo do bicho-da-seda.
Assumir a sede de
um outro irmão. Canalizar o milho
Entre nós
abundante reconduzindo a lavoura à idade leal)
Não importa a malha
não importa a falha
- importa a
função do lema.
Não importa o
galardão não importa a geração:
- importa a assumpção da causa. ÁFRICA!
J.A.S. Lopito
Feijóo K.
(CULTURA-Jornal
angolano de Artes & Letras-edição XXXI)
Obrigado por partilhar. belos poemas.
ResponderEliminarAbraço.