8 de maio de 2014

POETAS PÓS-INDEPENDÊNCIA 5: J.A.S. LOPITO FEIJÓO K.


Poeta e ensaísta angolano, João André da Silva Feijóo nasceu a 29 de setembro de 1963, no Lombo, província de Malanje, Angola. Mudou-se para Maquela do Zombo, onde viveu a infância, indo depois para Luanda, onde viveu no Bairro do Cazenga, a partir da sua adolescência.
Licenciado em Direito pela Universidade Agostinho Neto, em Luanda, o autor despertou para a poesia aos 22 anos de idade. Na verdade, já em 1985, publicou o seu primeiro livro de poemas Entre o Écran e o Esperma, que, fruto de grande aceitação por parte dos meios literários, recebeu uma "Menção Honrosa" no concurso de literatura "Camarada Presidente", promovido pelo INALD (Instituto Nacional do Livro e do Disco).
Foi membro da direção da Brigada Jovem de Literatura até 1984. Integrou posteriormente o trabalho coletivo do grupo "Ohandanji", que, a partir daquele ano, começou a publicar os seus textos na página cultural de O Jornal de Angola e na gazeta Lavra e Oficina (da União dos Escritores Angolanos) e que, posteriormente, como forma de ultrapassar as dificuldades provocadas pela ausência de alternativas, recorreu a edições policopiadas. Exemplo destas edições é a coleção "Katetebula/Semi-breve" na qual Lopito Feijóo publicou, s/data, no primeiro número, um texto poético intitulado "Me ditando".
Nome importante da geração de 80, a chamada "Geração das Incertezas", João Feijóo assume a rutura com os cânones semânticos e estéticos tradicionais, propondo uma estética assente numa linguagem dissonantemente metafórica e no experimentalismo visual. Com um estilo simultaneamente satírico e irreverente, a sua poiesis, caracterizada por um profundo teor lírico, é fruto de um sujeito poético revoltado e colérico que assume a melancolia como forma de exprimir a sua frustração e o seu desencanto face à realidade social e política de Angola. Esta cólera, metaforicamente simbolizada por uma descarga biliar produzida por um mal-estar hepático, é o resultado do descontentamento que lhe provocam as permanentes situações de guerra e opressão - "o veneno sorumbático" - que ameaçam, desde há muito, a sua Pátria e que, em permanente vigília, procura combater: "O veneno sorumbático inspira vigília (...)".
Como a grande parte da produção poética da geração sua contemporânea, a poesia de Feijóo recorre à metaforização do mar, enquanto lugar de meditação do "eu lírico", para exprimir o seu "olhar noturno" e insatisfeito sobre uma realidade social e política corrupta que contraria os ideais de justiça e igualdade defendidos e conquistados por gerações anteriores.
Perpassada por um claro ceticismo face aos tempos presente e futuro, a sua obra apresenta, porém, alguns momentos que nos remetem para a constatação da necessidade de repor a capacidade de sonhar e de desejar.
Em colaboração com Luís Kamdjimbo, publicou o ensaio Geração da revolução, novos poetas angolanos em volta, s/d, na qual dá voz a novos poetas, entre os quais Ana Paula Tavares, José Luís Mendonça e João Maimona.
No ano de 1988, organizou, a antologia No Caminho Doloroso das Coisas. Antologia de Jovens Poetas Angolanos, primeira antologia editada depois da independência de Angola, reunindo os textos da jovem geração dos anos 80.
Membro da União de Escritores Angolanos (UEA), escreveu os seguintes livros: Entre o Écran e o Esperma (1985), Menção Honrosa no concurso de Literatura "Camarada Presidente"; Me Ditando (s/d); Doutrina (1987), edição da UEA; Rosa Cor de Rosa (1987); Corpo a Corpo (1987); Cartas de Amor (1990); Meditando. Textos de Reflexão Geral sobre Literatura (1994).
Reconhecido e prestigiado poeta e ensaísta, a sua obra figura em revistas e jornais nacionais e estrangeiros, nomeadamente brasileiros, portugueses, galegos, norte-americanos, etc.

(Retirado Infopédia) 

Obras:

Doutrina (poesia, UEA,1987);

Me Ditando, Rosa Cor de Rosa, Corpo-a-Corpo (plaquetes de poesia, 1987);

No Caminho Doloroso das Coisas — Antologia de Jovens Poetas Angolanos (UEA 1988);

Cartas de Amor (UEA, poesia, 1990);

Meditando (ensaio e crítica, 1994).

Marcas da Guerra Percepção Íntima & Outros Fonemas Doutrinários (Nóssomos).


Três poemas de J.A.S. Lopito Feijóo K.


KURTA ÁFRICA


Não passeia e nunca desce o sol

ilumina alumia e brilha

dá-nos de njamba a ancestral robustez e

o dinamismo de kandimba sempre no auge.

Argumentados com um funge de kandumba

o calculismo e a tranquilidade dos kilambas

os azares dos capazes e a sorte dos audazes rapazes.

Turbulenta auto-estrada e fértil fragrância

alimento sem o qual hoje e depois

não somos o mesmo igual.

Autocratas burocratas tecnocratas ou democratas

aristocratas de sumaúma ou mesmo artistas de rua

com a turva suruma de repetentes olhares!



PURA & MADURA



Para Aminata Goubel

I

Chamam-me África

pari bastardos e bastantes

que mesmo sofrendo além-mar

seu berço pode e significa.

II

Ncundi ou Npangui são tão filhos quanto tu

do Burundi ou Ruanda

tenho-os tão bem em Luanda [no Kwanda ou na Ganda].

III

- Oh feitiço de carne e ossos:

Sincroniza-te

em razão dos nossos

e como sempre imenso multiplica-te-me.

IV

Sou mulher/mãe entre Yorubas e Bambaras

entrego-te-me pouca, louca e madura

PURA ÁFRICA PURA!




POEMA PRIMEIRO DA CAUSA


Não importa a cor não importa a dor

- viva a maciez do oiro.

Não importa a voz não importa a foz

- viva o caudal do riso.

Não importa o berço não importa a bênção

- viva a escavação do incauto.

(Extrair do humano o jorro bicôncavo do bicho-da-seda.

Assumir a sede de um outro irmão. Canalizar o milho

Entre nós abundante reconduzindo a lavoura à idade leal)

Não importa a malha não importa a falha

- importa a função do lema.

Não importa o galardão não importa a geração:

-       importa a assumpção da causa. ÁFRICA!



J.A.S. Lopito Feijóo K.


(CULTURA-Jornal angolano de Artes & Letras-edição XXXI)    

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