Biografia:
João Tala nasceu em Malanje a 19 de Dezembro de 1959. É médico exercendo a
profissão como interno em alguns hospitais de Luanda. Iniciou a sua actividade
literária na cidade do Huambo, onde cumpria o serviço militar e foi co-fundador
da Brigada Jovem de Literatura – Alda Lara. Apesar de ter frequentado círculos
literários daquela cidade, de que despontaram ainda na década de 80 importantes
nomes da novíssima poesia angolana como João Maimona, o seu primeiro livro de
poesia sai a público apenas em 1997. Arrebatou o prémio Primeiro Livro da União
dos Escritores em 1997 e o primeiro lugar dos Jogos Florais do Caxinde em 1999.
Parecendo justificar o respeito que nutre pela poesia, o seu livro de estreia
é, apesar dos cerca de 15 poemas, uma auspiciosa contribuição para a renovação
e diversidade do discurso poético angolano. O segundo livro voltou a merecer um
acolhimento encomiástico da parte de José Luís Mendonça, outro expoente da sua
geração, que o considera como uma vocação poética a irromper no universo das letras
angolanas com soberania inerente aos grandes criadores.
Poesia:
A Forma dos Desejos
(1997);
O Gasto da Semente
(2000);
A Forma dos Desejos
II (2002);
Lugar Assim (2004);
A Vitória é uma
Ilusão de Filósofos e de Loucos (2004);
Forno Feminino
(2009).
Ficção:
Os Dias e os
Tumultos (2004);
Surreambulando (2007).
POEMAS:
ALÉM DA FORMA DAS
SEMENTES
Todas as palavras
de um ngoma são
lamentos da
civilização. Tudo o que
pronuncio é um
continente sobre
a memória dos
ngomas
mas cada língua é
uma nação de conversas
fortalece a raça do
espírito o poema da
plebe
e este povo-irmão
dissemina na minha
memória o
continente erguido da semente
OBITUÁRIO
Onde ouvidos
repetem pequenas ruínas
sobra o revólver
sobre dias túmidos
para decretar morte
é como ninguém
para aumentar
áfricas laboratoriais e
o latifúndio;
depois dá um tiro
na cabeça da história
tal como tropeça no
meu palavrão
sem nada para
acrescentar à morte
sem nada para
contar à vida
sem ser nunca o
nome da multidão.
TONTURA
Ainda apagam
pálpebras de volta à tontura
ainda o sentimento
da nossa longa história
a ruína vai da
notícia à revolução
palavras mortas
nunca mais preenchidas
os rios demorados
no sintoma dos países
e tudo passa e o
poema indaga
o dia que acontece
como uma ruína.
TUAS PALAVRAS
MÁGICAS
São estas
diferenças que partilho:
eclesiástica
palavra tu és uma igreja
nutrida uma palavra
espiga outra
palavra
levantas-me
escolástica o nervo
com a tua dor;
aurora com o teu
lume,
álgebra inquieta
não somarias
o tempo que não
partilho
João Tala
Bom conhecer um novo poeta.
ResponderEliminarObrigado por partilhar.
Abraço.
Obrigada, digo eu, Nami! É sempre muito bom vir aqui, pois me dá a oportunidade de conhecer os poetas e escritores da minha Mãe África, tão desconhecida por seus filhos brasileiros. Gostei muito, e vou leva-lo, brevemente, para os blogues que administro.
ResponderEliminarKandandu
Caro Namibiano Ferreira
ResponderEliminarGostei imenso de visitar o seu blog.
Viajei no universo do imaginário literário angolano, vendo as paisagens angolanos ilustradas com a pureza e a ternura da sua flora.
Ideia genial, a escrita colorida com a flora angolana.
Bebe-se da terra o que nos vai a alma, a pena dos autores exalta o que de melhor vivifica a poesia.
Parabéns Namibiano Ferreira