28 de abril de 2014

POETAS PÓS- INDEPENDÊNCIA 1: JOÃO TALA



Biografia:

João Tala nasceu em Malanje a 19 de Dezembro de 1959. É médico exercendo a profissão como interno em alguns hospitais de Luanda. Iniciou a sua actividade literária na cidade do Huambo, onde cumpria o serviço militar e foi co-fundador da Brigada Jovem de Literatura – Alda Lara. Apesar de ter frequentado círculos literários daquela cidade, de que despontaram ainda na década de 80 importantes nomes da novíssima poesia angolana como João Maimona, o seu primeiro livro de poesia sai a público apenas em 1997. Arrebatou o prémio Primeiro Livro da União dos Escritores em 1997 e o primeiro lugar dos Jogos Florais do Caxinde em 1999. Parecendo justificar o respeito que nutre pela poesia, o seu livro de estreia é, apesar dos cerca de 15 poemas, uma auspiciosa contribuição para a renovação e diversidade do discurso poético angolano. O segundo livro voltou a merecer um acolhimento encomiástico da parte de José Luís Mendonça, outro expoente da sua geração, que o considera como uma vocação poética a irromper no universo das letras angolanas com soberania inerente aos grandes criadores.

Poesia:

A Forma dos Desejos (1997);
O Gasto da Semente (2000);
A Forma dos Desejos II (2002);
Lugar Assim (2004);
A Vitória é uma Ilusão de Filósofos e de Loucos (2004);
Forno Feminino (2009).

Ficção:

Os Dias e os Tumultos (2004);
Surreambulando (2007).

POEMAS:

ALÉM DA FORMA DAS SEMENTES

Todas as palavras de um ngoma são
lamentos da civilização. Tudo o que
pronuncio é um continente sobre
a memória dos ngomas

mas cada língua é uma nação de conversas
fortalece a raça do espírito o poema da
plebe

e este povo-irmão dissemina na minha
memória o continente erguido da semente


OBITUÁRIO

Onde ouvidos repetem pequenas ruínas
sobra o revólver sobre dias túmidos
para decretar morte é como ninguém
para aumentar áfricas laboratoriais e
o latifúndio;

depois dá um tiro na cabeça da história
tal como tropeça no meu palavrão
sem nada para acrescentar à morte
sem nada para contar à vida
sem ser nunca o nome da multidão.


TONTURA

Ainda apagam pálpebras de volta à tontura
ainda o sentimento da nossa longa história
a ruína vai da notícia à revolução

palavras mortas nunca mais preenchidas
os rios demorados no sintoma dos países
e tudo passa e o poema indaga
o dia que acontece como uma ruína.


TUAS PALAVRAS MÁGICAS

São estas diferenças que partilho:
eclesiástica palavra tu és uma igreja

nutrida uma palavra
espiga outra palavra

levantas-me escolástica o nervo
com a tua dor;
aurora com o teu lume,

álgebra inquieta não somarias
o tempo que não partilho


João Tala

3 comentários:

  1. Bom conhecer um novo poeta.
    Obrigado por partilhar.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  2. Obrigada, digo eu, Nami! É sempre muito bom vir aqui, pois me dá a oportunidade de conhecer os poetas e escritores da minha Mãe África, tão desconhecida por seus filhos brasileiros. Gostei muito, e vou leva-lo, brevemente, para os blogues que administro.

    Kandandu

    ResponderEliminar
  3. Caro Namibiano Ferreira
    Gostei imenso de visitar o seu blog.
    Viajei no universo do imaginário literário angolano, vendo as paisagens angolanos ilustradas com a pureza e a ternura da sua flora.
    Ideia genial, a escrita colorida com a flora angolana.
    Bebe-se da terra o que nos vai a alma, a pena dos autores exalta o que de melhor vivifica a poesia.
    Parabéns Namibiano Ferreira

    ResponderEliminar

Obrigado pela visita e comentário!