28 de março de 2014

MÚCUAS


Publicado hoje, no blogue: Angola: Os Poetas (http://angolapoetas.blogspot.co.uk/ )


Imbondeiro


Múcua:
fruto mácula
veludo a pingar
mágoa negra
lágrima seca a chorar
escorrendo nos braços
mãos-imbondeiro
abertas aos céus
anunciando a crescer
desespero da terra
povo inteiro
múcua, mákua, mágoa
lágrima negra imbondeiro
a chorar.


Namibiano Ferreira

 Flor e fruto do imbondeiro (múcua)

24 de março de 2014

A CULTURA NOK - HISTÓRIA DE ÁFRICA



Civilização Nok

Nok era uma civilização existente no norte da Nigéria que, no século V a.C. dominava a metalurgia.
O seu extenso legado constitui aquilo que se chama a Cultura Nok. Por razões desconhecidas, esta cultura desvaneceu-se por volta do século II ou III da nossa era.

Eram principalmente agricultores sedentarizados que cultivavam o inhame (para alimentação) e produziam óleo de palma, sendo provável que não criavam gado. Parecem ter sido pioneiros também na metalurgia, já que foram os primeiros ao sul do Sara a fundir o ferro. “A língua Nok estava possivelmente ligada à dos Protobantos, que enxameavam toda a África Central e Meridional.

Nada se sabe sobre como terá desaparecido esta cultura, se de forma brutal ou na sequência de um progressivo declínio.” Os Nok habitaram uma ampla área de “480 quilómetros por 160 quilómetros” a norte da confluência do rio Níger com o Benué, entre cerca de 500 a.C. e 200 d. C.






Cultura Nok

Desenvolveu-se durante a Idade do Ferro no período de 500 a.C. e 200 d.C.
Na Idade do Ferro usavam cobre, estanho, bronze e ferro para produzirem seus artefactos com mais resistência, na Civilização Nok não foi diferente, fabricavam lanças, machados, vasos, esculturas, estátuas e outros de barro e cerâmica. A sua arte tem algumas características que se devem assinalar. Os Nok representaram pessoas e animais. As cabeças humanas são modeladas segundo as formas geométricas em uso: esféricas, cónicas e cilíndricas; são em tamanho quase natural e as feições são estilizadas. “As cabeças humanas, mesmo quando mostram alguma tendência para o naturalismo, nunca são retratos. Em contrapartida, os animais são tratados de forma realista, o que leva a pensar que as representações humanas se afastam da realidade voluntariamente e não por falta de habilidade dos artistas.” De facto, há estudiosos que sugerem que existia uma recusa em fabricar retratos, pois o modelo poderia ficar exposto à acção de forças maléficas. Ainda assim, há uma preferência pela representação humana, embora tenham aparecido elefantes, macacos, serpentes etc.


 


A Cabeça de Jemaa

A peça considerada mais importante da cultura Nok é a Cabeça de Jemaa, descoberta em 1942. Modelada em forma esférica, a cara é uma superfície lisa, com olhos triangulares e nariz pouco saliente a que adere o lábio superior; os olhos, o nariz e a boca são perfurados e as orelhas estão “no ângulo do maxilar”.


File:El Pensador (Cultura Nok).jpg

O Pensador Nok.


Fonte Wikipédia e Armarium Libri.


Para saber mais há o livro: "The Nok Culture - Art in Nigeria 2500 Years Ago"
Gert Chesi





A TUA VOZ ANGOLA


Nos tribos
E assobios
Dos pássaros bravios
Ouço a tua voz Angola.

Dos fios
Esguios
Em arrepios
De mulembas sólidas
Escorre a tua voz Angola.

Nas ondas calemas
Barcos e velas
Dongos traineiras
Âncoras e cordas
Freme a tua voz Angola.

Em rios torrentes
Regatos marulhentos
Lagoas dormentes
Onde morrem poentes
Brilha a tua voz Angola.

No andar da palanca
No chifre do olongo
No mosqueado da onça
No enrolar da serpente
Inscreve-se a tua voz Angola.

No acordar dos quimbos
Nos cúmulos e nimbos
Nos vapores tímidos
Em manhãs de cacimbo
Flutua a tua voz Angola.

Na pedra da encosta
No cristal de rocha
Na montanha inóspita
No miolo e na crosta
Talha-se a tua voz Angola.

Do chiar dos guindastes
Do estalar dos braços
Do esforço e do cansaço
Emerge a tua voz Angola.

No ronco da barragem
No camião da estrada
No comboio malandro
Nos gados transumantes
Ecoa a tua voz Angola.

Dos bongos e cuicas
Concertinas apitos
Que animam rebitas
Farras das antigas
Salta a tua voz Angola.

A flor da buganvilia
A rosa e o lírio
Cachos de gladíolos
O gengibre e a cola
Perfumam a tua voz Angola.

Ouve-se e sente-se e brilha
A tua voz Angola

Inscreve-se nos seres talha-se nas rochas
A tua voz Angola

Vai com o vento goteja com o suor
A tua voz Angola

Por toda a parte por toda a parte
A tua voz Angola

Que voz é essa tão forte e omnipresente
Angola?

Que voz é essa omnipresente e permanente
Angola?

É a voz dos vivos e dos mortos
De Angola
É a voz das esperanças e malogros
De Angola
é a voz das derrotas e vitórias
De Angola
É a voz do passado do presente e do porvir
De Angola
É a voz do resistir
De Angola
É a voz dum guerrilheiro
De Angola
É a voz dum pioneiro
De Angola.



Antero Abreu

in "A Tua Voz Angola"

21 de março de 2014

PARA O DIA MUNDIAL DA POESIA: DISCURSO NO PARLAMENTO

Assembleia Nacional de Angola - Luanda


DISCURSO NO PARLAMENTO

Um dia, encho-me de coragem
E vou mesmo discursar no parlamento
Confesso que fiz juramento
De ir a pé até lá
De entrar naquela sala,
Para discursar a minha mensagem

Um dia, apareço nas câmaras da televisão
Verdade mesmo, não é ilusão
Apareço com o meu rosto maltratado
Com o meu rosto de drogado
Para pedir um ponto de ordem
Aos senhores deputados,
Eu mesmo que vivo do outro lado da margem

Ja sei que vão olhar com indignação
Para os meus pés descalços
Para os meus calções rotos
E para os meus magritos braços
Já consigo imaginar os vosso rostos
De indignação e estupefacção

Mas mesmo assim eu vou mesmo discursar
Em plena assembleia nacional
Assim mesmo, com este meu visual
De menino de rua votado ao abandono
De menino de rua cão sem dono
Eu vou à assembleia nacional falar

Assim mesmo, sem convite
E sem ser chamado
Eu, que não sei falar português de escola
Vou entrar naquela sala
Para falar com os senhores deputados
Eu vou lá sem convite, acredite!

E antes de me porem andar à paulada
Antes de me mandarem calar à porrada
Vou rasgar o meu peito
Para vocês escutarem o grito
De tanto sofrimento vivido
De tanto sofrimento bebido

E enquanto estiver a ser arrastado
Para fora da assembleia nacional
Eu, menino de rua cão sem dono e drogado
Eu, menino de rua marginal
Ainda terei coragem
Ainda serei capaz
De trovejar a minha mensagem:
POR FAVOR, PÃO, TECTO E PAZ!

Não levem a mal
Mas eu vou mesmo discursar em plena assembleia nacional!


Décio Bettencourt Mateus

in "A Fúria do Mar" 

20 de março de 2014

AS HIENAS


descem nos kimbos

quando que inerme a noite dorme

e dos monas

seu chorado

sabem

roçam nas portas

roçam nas portas

condevagar

(da morte
na roça
eriçado rumor)
e o luto kukunam
e o luto kukunam
na terra violada

João-Maria Vilanova
in Caderno dum Guerrilheiro

Monas  - Crianças, filhos.
Kukunam - Semeam, espalham, de kukuna, semear (Kimbundu).

19 de março de 2014

D. BEATRIZ KIMPA VITA (Artigo do Jornal de Angola)




No dia 2 de Julho de 1706 D. Beatriz Kimpa Vita, foi queimada na fogueira devido às suas pretensões de ter recebido de Santo António o mandato de resgatar o povo do Reino do Congo do marasmo social, político e religioso em que tinha caído.
Kimpa Vita, disse: No dia do Juízo final Deus não me perguntará se sou do Congo. Olhará, isso sim, para a transparência da minha alma.
A“Joana d’Arc africana”, Profetisa popular, Kimpa Vita foi condenada à morte na fogueira pelo Manikongo (Rei do Congo) Pedro IV a 2 de Julho de 1706 – com a benesse e aprovação dos padres portugueses. Imagino que tudo tenha sido encenado à boa maneira da inquisição...

Consta ainda, que o filho de Kimpa Vita foi atirado para a fogueira com a mãe... Tudo pelo bem da Santa Igreja Católica Romana e claro, dos interesses coloniais. 

***

Eis o artigo publicado no Jornal de Angola - 13 de Novembro de 2011:
Data de nascimento : 1684
Data falecimento: 1706 (Mbanza Kongo)
Naturalidade : Reino do Congo

A polémica instalada em torno do pensamento histórico da profecia de Beatriz Kimpa Vita, figura emblemática da angolanidade, queimada numa fogueira pelos portugueses, em 1706, em Mbanza Congo, no Zaire, é reflectida neste espaço do “Caderno Fim-de-Semana”.

Aos 24 anos de idade, segundo palavras do filósofo angolano José Calhau, professor universitário na província do Zaire, Dona Beatriz Kimpa Vita, como era carinhosamente tratada, foi lançada viva para uma fogueira, na companhia do seu filho, por ter reivindicado de forma resoluta o fim da escravidão a que os negros eram sujeitos pelos colonizadores, na antiga cidade de São Salvador do Congo, hoje Mbanza Congo, capital da província do Zaire.

Fazendo jus às investigações realizadas durante quatro anos, em Mbanza Ngungu, região do Baixo Congo, na República Democrática Congo, onde reuniu todos os legados científicos que serviram de base ao seu trabalho, em potenciais bibliografias, José Calhau fez uma analogia histórica sobre a trajectória da vivência de Kimpa Vita e lembrou as reacções apresentadas pela senhora, a julgar pelas injustiças dos colonizadores, acto que lhe custou a vida muito cedo.

Para Zolana Avelino, sociólogo, falar de Kimpa Vita é fazer recurso a uma história de relevo, versada na cultura Congo. “Os contos dela espelham a profeta que era e que doutrinou e defendeu a revitalização das raízes mais profundas da cultura tradicional do Congo, através da religião “Bundu die Congo”. Era, também, considerada a líder que, na época, inspirou o lançamento, em Mbanza Congo, de um movimento de messianismo virado para a preservação da cultura tradicional africana, que teve uma adesão espectacular por parte dos fundadores da igreja kimbanguista de Simão Kimbangu, na República Democrática do Congo, Simão Gonçalves Toco, em Angola, Simão Mpidi, também na RDC, e André Matsowa, no Congo Brazzaville.

O objectivo central desse movimento de messianismo tradicional, acrescentou o sociólogo, tinha como base fulcral o resgate e o relançamento dos valores dos povos africanos, que na época ressentiam a invasão da acção colonizadora para melhor implantar o cristianismo em África. Após a sua morte, tal como referiu o sociólogo, o movimento do messianismo tradicional perdeu expressão e acção de continuidade. Assim, os colonizadores galvanizaram-se de “pedra e cal” e conseguiram impor o cristianismo até aos dias de hoje.

Depoimentos

Zolana Avelino prosseguiu dizendo que até ao momento a igreja kimbanguista, que tem como líder espiritual o neto do fundador Simão Kimbangu, Kiangani, reconheceu perante o governador do Zaire, Pedro Sebastião, durante a visita que este efectuou recentemente à sede central daquela congregação religiosa, na localidade do Nkamba, na RDC, que o município de Mbanza Congo é tido como sendo a terra das origens de grande parte dos povos de África. O líder espiritual da igreja kimbanguista manifestou a vontade de se deslocar a Mbanza Congo para visitar o local onde repousam os restos mortais de Dona Beatriz Kimpa Vita, para uma homenagem em prol da doutrina e valioso legado que deixou profetizado.

Para Celestina Paixão, estudante universitária, Kimpa Vita desmistificou todas as agruras impostas contra a cultura Congo. Desempenhou importante papel na luta pela pacificação dos espíritos. Prova eloquente disso, sublinhou a estudante, como símbolo de reconhecimento, o seu nome é valorizado. O valor é justificado por ser defensora confessa da paz e do fim da escravidão em Angola. Hoje, o seu nome é atribuído a várias instituições de ensino no país e em Mbanza Congo as autoridades deram o seu nome a uma avenida.
Segundo Celestina Paixão, além de ser, naquela época, uma profeta tradicional, Kimpa Vita, ao que se diz, foi uma jovem mulher temida pelos colonos pela forma frontal e aberta como se dirigia sempre que constatasse actos de violação de direitos humanos contra os seus compatriotas. Abordado pelo Jornal de Angola, o director da Escola Superior Politécnica de Mbanza Congo, Duku de Tshiangolo, defendeu a necessidade da preservação da figura de Kimpa Vita, por tudo aquilo que fez. Explicou que Dona Beatriz Kimpa Vita deixou um legado histórico ao país, revolucionou o pensamento da liberdade do homem angolano e declarou a luta contra a escravidão, a opressão e o divisionismo para pôr cobro às sevícias que o colonialismo português impunha aos povos de Angola.

Igreja

De acordo com o filósofo José Calhau, “foi uma pena enorme porque, após a morte de Kimpa Vita, a região Congo esteve sujeita a abusos redobrados e há quem tenha utilizado a igreja como meio de exploração e opressão, para melhor reinar e causar prejuízos nefastos e perseguições aos fiéis que professavam, às escondidas, a linha de Kimpa Vita, ao passo que outros portugueses revolucionavam a religião como fonte de poder e dominação das pessoas negras de competência rara”.

José Calhau, explicou que “em nome da religião, na época, foram também articuladas guerras injustificáveis para poder abafar a liberdade e a honra do homem angolano, e da etnia Congo em particular, por apresentarem forte resistência às humilhações.”

Profeta tradicional

Kimpa Vita, segundo o professor Calhau, era tida como líder incontestada nas suas posições. “Aquela mulher histórica angolana já escrevia livros que retratavam temas sociais em defesa dos aborígenes da região. Manifestava total indignação nas suas obras literárias contra o espírito católico, que reinava na sua cidade natal, Mbanza Congo, a respeito da continuidade do obscurantismo no seio dos povos da sua região e do tráfico de seres humanos que na altura era prática corrente”.

Ainda muito jovem, aos 18 anos de idade, segundo José Calhau, Kimpa Vita, que nasceu em 1684, já exprimia sentimentos de repulsa contra os sofrimentos e privações dos seus compatriotas submetidos a trabalhos forçados e maus-tratos, vítimas de escravidão. Sobressaía nela a vontade de dirigir uma frente declarada de luta contra o regime colonial, devido à onda de injustiças vividas. Dona Beatriz Kimpa Vita contestava o fanatismo abraçado por alguns compatriotas atraídos por receios e medo. “Os seus ensinamentos continuam patentes na memória dos povos”, disse o professor José Calhau.



Retirado de MRFPress

13 de março de 2014

ONDE O VENTO PASSA



A minha pátria é onde o vento passa
onde o vento manso ou furioso traça
serpentes de mar sobre o areal e a duna.
A rosa-dos-ventos florindo, afortuna
o chão árido, ouro do sul inteiro
silvando um grito hirto, certeiro
para na minha sede a saudade matar
nesse grito alto: meu Namibe,
eterno deserto que ainda não sei cantar.

   

Namibiano Ferreira



Baía do Namibe - fotos Portal de Angola

7 de março de 2014

TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL MEDE A CORRUPÇÃO DO GLOBO



A Transparency International Corruption Perceptions Index para 2013, coloca Angola na 153 posição, num total de 177 países e territórios, com 23 pontos. A pontuação vai de zero (altamente corrupto) até 100 (ausência de corrupção). Segundo a Transparência Internacional, que publica este relatório, nenhum país está isento de corrupção, o que nos diz que ela, a famigerada corrupção, é uma actividade humana universal.  Mas quando comparamos a corrupção que existe na Dinamarca ou na Nova Zelândia, os menos corruptos do planeta, com a pontuação de 91 pontos, verificamos o quanto é catastrófica e altamente poluente a corrupção em Angola. Compare-se outros países africanos, veja-se o caso do Botswana (30 lugar com 62 pontos)  e Cabo Verde (41 lugar com 58 pontos), os dois países menos corruptos em África, Angola está a léguas de distância e o Botswana é o maior produtor de diamantes em África...
Os países da CPLP, estão assim colocados, no total dos 177:

Portugal (33 - 66 pts) 
Cabo Verde (41 - 58pts) 
Brasil e S. Tomé e Príncipe (72 - 42 pts)                        
Moçambique e Timor-Leste (119 - 30 pts) 
Angola (153 - 23 pts) 
Guiné-Bissau (163 -19 pts).

No link abaixo pode verificar estas mesmas classificações:

5 de março de 2014

POLÍCIA LIBERTA REGEDOR CAPENDA-CAMULEMBA

Polícia Liberta Regedor Capenda-Camulemba
Por cwhommes - 28 de Fevereiro, 2014
Por Lusa
O ativista de direitos humanos angolano Rafael Marques afirmou à Lusa que foi libertado o chefe tradicional angolano sua testemunha no processo Diamantes de Sangue, que tinha sido detido hoje de manhã em Angola.

“Mwana Capenda acabou de ser libertado mas está sob termo de identidade e residência e não pode ausentar-se da localidade onde vive, em Angola, sem autorização policial”, disse à Lusa Rafael Marques, jornalista e ativista de direitos humanos que chamou o soba das Lundas, zona diamantífera angolana, como testemunha no caso que está a ser julgado em Portugal.

Nove generais angolanos recorreram à justiça portuguesa para processarem por difamação Rafael Marques, autor de “Diamantes de Sangue”, um trabalho de investigação sobre as Lundas.

De acordo com Rafael Marques, a polícia disse ao soba Mwana Capenda que a detenção está relacionada com um caso que envolveu uma arma de fogo, pouco antes da deslocação do chefe tradicional a Lisboa, este mês.

O caso foi mencionado em Portugal por Mwanda Capenda, que acusou um polícia de o ter ameaçado com uma pistola, numa tentativa de o intimidar para não prestar depoimento como testemunha de Rafael Marques.

O polícia acabou por ser desarmado pelos acompanhantes do soba, que entregaram de imediato a pistola na comissaria da polícia.

Segundo Rafael Marques, durante a detenção, que ocorreu hoje às 09:00 (08:00 em Lisboa) Mwana Capenda foi também questionado sobre a deslocação a Lisboa, onde prestou testemunho em tribunal.

O chefe tradicional angolano esteve presente também num colóquio sobre direitos humanos em Angola que decorreu no dia 07 de fevereiro no Gabinete do Parlamento Europeu, em Lisboa, organizado pela eurodeputada socialista Ana Gomes.

“É muito feio e uma desonra para o país que estas testemunhas estejam a ser estejam a ser perseguidas de forma vil e que a polícia tenha tido a coragem de os questionar sobre o que vieram fazer a Portugal”, disse ainda Rafael Marques, que relatou também hoje alegadas ameaças contra Linda Moisés da Rosa, outra testemunha sua no mesmo caso.

Retirado de Maka Angola (http://makaangola.org/2014/02/28/policia-liberta-regedor-capenda-camulemba/), com a permissao dos autores do site.

4 de março de 2014

SOU UM PÁSSARO...


 

Sou um pássaro
na infinidade do azul claro
na infinidade do azul infinito
meu grito
ecoa a liberdade
das infinidades da infinidade.

Sou vida marinha vida aquática
navego as profundezas
e encantos dos oceanos
revoltos e serenos
navego a força mítica
da força das correntezas.

Sou astro no Universo imensurável
vivo a explosão da vida
no além insondável
das galáxias escondidas
vivo a vida no além empoeirado
do cosmos distanciado.

Sou vulcão sou lava
em fervuras nas entranhas da terra
grito a essência
grito a efervescência
da bravura na rocha viva
grito a explosão da vida na rocha viva.

Sou as ondas do mar
em altas braçadas, Atlântico
Pacífico, Índico
sou a sinuosidade do curso
da imensidão do Universo
em braçadas de expansão, a amar!

Sou um pássaro
na infinidade das infinidades do azul claro!


Décio Bettencourt Mateus

In Gente de Mulher


Luanda, 25 de Novembro de 2005.
 http://mulembeira.blogspot.co.uk/ 

DOIS POEMAS DE COSTA ANDRADE


Francisco Fernando da Costa Andrade ou simplesmente Costa Andrade, também conhecido por Ndunduma wé Lépi, nome de guerra adoptado nos tempos da guerrilha no Leste de Angola, durante os idos anos 60 e 70, é natural do Lépi, localidade situada na actual província Huambo, onde nasceu em 1936. Fez os estudos primários e liceais na cidade do Huambo e Lubango. 

AUTOBIOGRAFIA

Não existe mais
a casa onde nasci
nem meu Pai
nem a mulambeira
da primeira sombra.

Não existe o pátio
o forno a lenha
nem os vasos e a casota do leão.

Nada existe
nem sequer ruínas
entulho de adobes e telhas
calcinadas.

Alguém varreu o fogo
a minha infância
e na fogueira arderam todos os ancestres.


LIMOS DE LUME

conto ainda
e já o conto
ai nos zeros
dos biliões

um milhão trezentos mil
cinco milhões e prossigo
oito milhões
ou dez?
os números também falecem
com o seu tempo a contar
ainda agora há pouco tempo
e tanto tempo passou passa o tempo
passará
passaria doutro modo?

Passe o tempo temporão
somos tantos e tão poucos
vem a paz demora ainda?
Quem espera pela demora?

é tempo de caminha!



Francisco da Costa Andrade