20 de março de 2014

AS HIENAS


descem nos kimbos

quando que inerme a noite dorme

e dos monas

seu chorado

sabem

roçam nas portas

roçam nas portas

condevagar

(da morte
na roça
eriçado rumor)
e o luto kukunam
e o luto kukunam
na terra violada

João-Maria Vilanova
in Caderno dum Guerrilheiro

Monas  - Crianças, filhos.
Kukunam - Semeam, espalham, de kukuna, semear (Kimbundu).

3 comentários:

  1. O poema é muito belo e sugestivo, sem sombra de dúvida, mas tem um erro gramatical. Kukuna significa semear, é verdade que sim, mas o primeiro ku (salvo seja) é um prefixo que indica apenas o infinitivo do verbo e mais nada, tal e qual como a partícula to em inglês. O radical do verbo é kuna e é em torno dele que toda a conjugação do verbo se faz. João-Maria Vilanova (pseudónimo de alguém que não se sabe ao certo quem é), portanto, deveria ter escrito «e o luto kunam», em vez de «e o luto kukunam». Mas isto viria estragar completamente o ritmo do poema. Então, mesmo com erro, é melhor deixá-lo assim.

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  2. Caro Fernando,

    Exactamente como diz, ku + radical para a formação do infinitivo.
    Como proceder quando um autor pretende aportuguesar um verbo do kimbundu ou de outra língua nacional angolana? Confesso que não sei se existe regra, nem nunca vi questionada esta temática.
    O poema é em português, o autor pegou no infinito de um verbo kimbundu (kukuna) e conjugou-o como se fosse um verbo da primeira conjugação (kukunar). Mais fácil se passa quando se criam verbos a partir de substantivos e, mesmo assim, alguns trazem o prefixo de classe agarrado (muxima – muximar, semba – sembar, muxoxo – muxoxar).
    Penso que, mais ou menos, é isto o que se vem fazendo quando se aportuguesam palavras das línguas africanas. Às vezes com erros mas que entram na língua portuguesa dessa forma e ficam para a vida, por exemplo, jinguba ou ginguba, é, como sabe, o plural de nguba, que significa amendoim. A palavra plural kimbunda, faz o plural jingubas, o mesmo se passa com jindungo, imbamba (plural de kimbamba).
    Quanto ao nosso kukunam, também concordo que iria estragar o ritmo, e pois claro vamos deixar como está. E kunar, até faz lembrar uma asneira....
    Obrigado pela sua sempre útil presença neste blogue.

    Kandandu

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