Foi ontem apresentado em Lisboa o livro
Os Donos Angolanos de Portugal, uma obra que denuncia a crescente influência dos investimentos angolanos em Portugal, encabeçados por Isabel dos Santos (filha primogénita de JES), Manuel Vicente (vice-presidente da República e ex-director da Sonangol) e pelo general Vieira Dias “Kopelipa” (ministro de Estado e chefe da Casa Militar do presidente da República).
O livro, da autoria de três dirigentes da formação política Bloco de Esquerda, retrata a teia de interesses e parcerias entre as elites político-empresariais angolanas e portuguesas, numa altura em que a tensão entre os dois países se intensifica. O capital angolano investido em Portugal aumentou 35 vezes na última década e, no seu conjunto, os angolanos são os investidores estrangeiros com maior peso na Bolsa de Valores de Lisboa. Interesses angolanos detêm agora posições significativas no sector bancário, nas telecomunicações, na energia e na comunicação social em Portugal.
A acumulação de capital em Angola, resultado de uma década de elevados preços do petróleo e da institucionalização da corrupção, liderada pelo presidente da República, coincidiu com a crise económica em Portugal.
A fragilidade da economia portuguesa, assim como a predisposição da sua classe política e económica para fechar os olhos à proveniência dos capitais angolanos, completaram um quadro em que os interesses das principais figuras angolanas encontraram em Portugal portas abertas para o branqueamento de capitais e para a internacionalização de investimentos obtidos de forma ilícita.
De acordo com Jorge Costa, um dos autores do livro, “Portugal está a transformar-se, fruto da promiscuidade política entre o regime angolano e quase todos os partidos portugueses, numa placa giratória para a aplicação de capitais, que, pela sua origem, teriam muita dificuldade em ser aplicados noutros países europeus”.
Isabel dos Santos, a primeira mulher bilionária africana, cuja fortuna foi acumulada através de decretos presidenciais, é o exemplo máximo do crescente poder angolano sobre a economia portuguesa. A filha de José Eduardo dos Santos é uma das maiores accionistas em empresas portuguesas, com participações na banca (BPI, BIC), nas telecomunicações (ZON) e na energia (Amorim Energia).
Numa sala cheia da livraria FNAC, no centro de Lisboa, o jornalista e director-adjunto do semanário português
Expresso, Nicolau Santos, apresentador do livro, indicou que, para além dos investidores angolanos, ninguém com capital disponível teria interesse em investir na comunicação social em Portugal, sector com pouca ou nenhuma rentabilidade. O interesse angolano neste sector destina-se unicamente a influenciar a cobertura noticiosa sobre Angola.
António Mosquito, um dos investidores angolanos com forte presença em Portugal, adquiriu recentemente uma participação na Controlinveste, grupo de
media que integra importantes órgãos de comunicação social em Portugal, incluindo a estação radiofónica TSF e os jornais
Diário de Notícias e
Jornal de Notícias, entre outros.
De acordo com o jornalista, que afirma desconhecer casos de censura directa, existe agora, nos meios de comunicação portugueses que têm participações angolanas, grande hesitação em publicar notícias negativas sobre Angola. “As oito mil empresas portuguesas em Angola e os 150 mil portugueses que agora trabalham em Angola exercem de igual forma pressão para que não haja cobertura noticiosa negativa sobre Angola, de modo a não prejudicar os seus interesses”, acrescentou Nicolau Santos.
As alianças entre as elites político-empresariais angolanas e portuguesas resultam, segundo Jorge Costa, em “prejuízo para o povo angolano, que vê drenadas do seu país riquezas que poderiam ser usadas em seu benefício, bem como para o povo português, que vê serem entregues ao capital angolano interesses estratégicos de Portugal”.
O livro, que pretende constituir um levantamento exaustivo desta teia de alianças, inclui a listagem de todos os governantes portugueses, desde 1974, com ligações empresariais a Angola, revelando casos de muitos ex-ministros com protagonismo nestes grupos económicos.
Os Donos de Portugal, de autoria de Jorge Costa, Francisco Louçã e João Teixeira Lopes, é uma edição da Bertrand Editora.
Alguns dos gráficos reproduzidos no livro
Os Donos Angolanos de Portugal, ilustrando as participações cruzadas de interesses económicos angolanos e portugueses: