Para Midori, a minha netinha!
Quase no final das chuvas e eu choro os desbarulhos da saudade das chuvas futuras que hão-de vir depois do comprido cacimbo.
Em África, as chuvas recriam a vida como se caissem no primeiro dia do Génesis. A cada ano, quando tamborilam as primeiras chuvas, há uma musicalidade mística que habita a alma das gentes. As chuvas trazem um sentido virgem e puro como se o Mundo acabasse de ser inventado.
Aqui, na Europa, as chuvas são simplesmente chuvas, água sem alma, caindo morta e sem um sentido profético de renovação. Não há aquele odor vivo, incaracterístico das chuvas a beijar o chão seco e quente no início de cada estação. A chuva não casa com a terra.
Em África, quando o sémen dos Deuses chove sobre a terra, liberta-se um perfume fresco e telúrico de fartura cozinhada que se come, que se bebe e se respira como se cada pessoa fosse moldada no barro húmido da terra.
Namibiano Ferreira
Março 2012
É belíssimo.
ResponderEliminarObrigada.
Vou carrega-lo na minha viagem.
Abraço.
Esta síntese do último parágrafo (melhor seria dizer, última estrofe pois é poesia pura) é de uma felicidade ímpar. Este é o Namibiano, esta é a sua terra e a sua poesia...
ResponderEliminarLamento, mas só hoje vi o seu comentário. Já retirei a postagem.
ResponderEliminarUm grande abraço!
Páscoa Feliz!