5 de março de 2012

O PERFUME DAS CHUVAS


Para Midori, a minha netinha!

Quase no final das chuvas e eu choro os desbarulhos da saudade das chuvas futuras que hão-de vir depois do comprido cacimbo.

Em África, as chuvas recriam a vida como se caissem no primeiro dia do Génesis.  A cada ano, quando tamborilam as primeiras chuvas, há uma musicalidade mística que habita a alma das gentes. As chuvas trazem um sentido virgem e puro como se o Mundo  acabasse de ser inventado.

Aqui, na Europa, as chuvas são simplesmente chuvas, água sem alma, caindo morta e sem um sentido profético de renovação. Não há aquele odor vivo, incaracterístico das chuvas a beijar o chão seco e quente no início de cada estação. A chuva não casa com a terra.

Em África, quando o sémen  dos Deuses chove sobre a terra,  liberta-se um perfume fresco e telúrico de fartura cozinhada que se come, que se bebe e se respira como se cada pessoa fosse moldada no barro húmido da terra.

Namibiano Ferreira
Março 2012

3 comentários:

  1. É belíssimo.
    Obrigada.
    Vou carrega-lo na minha viagem.
    Abraço.

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  2. Esta síntese do último parágrafo (melhor seria dizer, última estrofe pois é poesia pura) é de uma felicidade ímpar. Este é o Namibiano, esta é a sua terra e a sua poesia...

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  3. Lamento, mas só hoje vi o seu comentário. Já retirei a postagem.
    Um grande abraço!
    Páscoa Feliz!

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