21 de março de 2012

PAULO FLORES & CARLOS BURITY - POEMA DO SEMBA -

 
 
 
 


POEMA DO SEMBA
 
Hum... HumO semba semba é canto de AvenidaÉ chuva de primavera!!Semba é morte semba é vida
Hum... Hum
O semba semba é meu choro dolenteOlhar nossa vida de frenteSemba é suor semba é gente
O canto do sembaO canto do semba ele é nobreO canto do semba ele rico O canto do semba ele pobreO canto do semba ele rico O canto do semba ele pobre
O semba no morro O semba no morro é fogueiraO semba que trás liberdadeO semba da nossa bandeiraO semba que trás liberdadeO semba da nossa bandeira
Hum.. Hum...
O semba semba é canuco de ruaNa escola da vida ele cresceDe tanto apanhar se habituaNa escola da vida ele cresceDe tanto apanhar se habitua
A voz do meu semba A voz do meu semba urbano É a voz que me faz suportarOrgulho em ser angolanoÉ a voz que me faz suportarOrgulho em ser angolano
O semba é nossa alegria PauloO semba é a nossa bandeiraÉ esperança é amor
O Semba à tua maneira mucotaSemba é nossa bandeiraNossa forma de cantar
O Semba à tua maneira mucotaSemba é nossa bandeiraNossa forma de cantar
O semba semba é nossa alegria PauloO semba é a nossa bandeiraÉ esperança é amor




 

20 de março de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA - 21 DE MARÇO


Aos dez anos de idade li o poema  A Mulemba Secou da autoria do poeta angolano, Aires de Almeida Santos. Foi o descobrir da Poesia de temática e raiz angolanas. Uma poesia que ecoava pela alma as vozes da terra. Mais tarde vieram Viriato da Cruz e Agostinho Neto, marcos importantes no meu “escrevinhar” poesia mas nunca consegui esquecer o dia primeiro em que li A Mulemba Secou. Quando mais tarde comecei a escrever, Aires de Almeida Santos estava, consciente e incosncientemente presente. Ele foi a minha fonte primária, a minha mais directa influência. Neste Dia Mundial da Poesia deixo aqui o poema que há mais de 40 anos me abriu o caminho da Luz e da Poesia:
Aires de Almeida Santos



A MULEMBA SECOU


No barro da rua,
Pisadas
Por toda a gente,
Ficaram as folhas
Secas, amareladas
A estalar sob os pés de quem passava.
Depois o vento as levou...


Como as folhas da mulemba
Foram-se os sonhos gaiatos
Dos miúdos do meu bairro.


(De dia,
Espalhavam visgo nos ramos
E apanhavam catituis,
Viúvas, siripipis
Que o Chiquito da Mulemba
Ia vender no Palácio
Numa gaiola de bimba.


De noite,
Faziam roda, sentados,
A ouvir,
De olhos esbugalhados
A velha Jaja a contar
Histórias de arrepiar
Do feiticeiro Catimba.)


Mas a mulemba secou
E com ela,
Secou também a alegria
Da miudagem do bairro:


O Macuto da Ximinha
Que cantava todo o dia
Já não canta.
O Zé Camilo, coitado,
Passa o dia deitado
A pensar em muitas coisas.
E o velhote Camalundo,
Quando passa por ali,
Já ninguém o arrelia,
Já mais ninguém lhe assobia,
Já faz a vida em sossego.


Como o meu bairro mudou,
Como o meu bairro está triste
Porque a mulemba secou...


Só o velho Camalundo
Sorri ao passar por lá!...


Aires de Almeida Santos
(Meu Amor da Rua Onze)

5 de março de 2012

O PERFUME DAS CHUVAS


Para Midori, a minha netinha!

Quase no final das chuvas e eu choro os desbarulhos da saudade das chuvas futuras que hão-de vir depois do comprido cacimbo.

Em África, as chuvas recriam a vida como se caissem no primeiro dia do Génesis.  A cada ano, quando tamborilam as primeiras chuvas, há uma musicalidade mística que habita a alma das gentes. As chuvas trazem um sentido virgem e puro como se o Mundo  acabasse de ser inventado.

Aqui, na Europa, as chuvas são simplesmente chuvas, água sem alma, caindo morta e sem um sentido profético de renovação. Não há aquele odor vivo, incaracterístico das chuvas a beijar o chão seco e quente no início de cada estação. A chuva não casa com a terra.

Em África, quando o sémen  dos Deuses chove sobre a terra,  liberta-se um perfume fresco e telúrico de fartura cozinhada que se come, que se bebe e se respira como se cada pessoa fosse moldada no barro húmido da terra.

Namibiano Ferreira
Março 2012