5 de abril de 2010

A PALAVRA NAMIBE



A palavra Namibe, segundo uns deriva do idioma falado pelo povo Khoi, um povo não-bantu da África Austral. Namib, significaria, na sua língua, “deserto” ou “lugar sem gente”.
Para outros, a palavra tem origem no idioma de outro povo não-bantu, os dâmaras, povo que habita a Namíbia e significaria “imenso”, “enorme”.
Seja qual for a sua origem etimológica, o Namibe é um dos mais antigos desertos do mundo e que se mantem em condições áridas ou semi-áridas há mais de 80 milhões de anos.
Namibe, é o nome da cidade angolana capital da mesma província. Foi aí, na cidade de Tômbwa, o meu local de nascimento, como já estão fartos de saber os frequentadores assíduos desta Ondjira.
Muita gente tem aqui chegado pensando que o meu pseudónimo, Namibiano, tem a haver com a República da Namíbia, país que se situa ao Sul de Angola. Não, puro engano, o nome foi escolhido quase instintivamente no primeiro poema que fiz há quase 33 anos, não sei a data certa e nem esse poema existe mais. Intitulava-se o poema: “Sou Namibiano”. Assim era por ser natural da província do Namibe. Ainda me lembro do final do poema, mais ou menos assim: “sou namibiano e trago no peito/ uma welwitschia a sangrar”. Lá por volta de 1980 ou 82 comecei a assinar todos os meus textos com o meu actual pseudónimo. Portanto, muitos anos antes da independência da Namíbia e que nessa altura se chamava Sudoeste Africano e estava sob a administração do regime raciasta da África do Sul, o Apartheid.
Pinda - Namibe (Angola)

Namibiano é uma homenagem à terra natal e ao povo mas é também uma espécie de pacto escrito no pergaminho invisível do tempo que me mantem preso a uma das maiores aventuras desta minha vida: ter nascido em África, Angola.



REGRESSAR DE NOVO

Partir no rio de Kalungangombe*
e, depois, quando voltar de novo,
hei-de vir montado na garupa
viva das boiadas andarilhas
pele a cantar ngomangombe**
levantando no peito do ar
um mar de poeiras a festejar
e eu, calçando meus nonkakos,***
serei um pastor Ovakuvale****
conduzindo meus bois
na árida oferta da terra Namibe.




Namibiano Ferreira
 
* Aglutinação de duas palavras: kalunga + ngombe (boi). Neste sentido é um ente espiritual que acolhe o espírito dos mortos no outro mundo.
** Ngoma (tambor) e ngombe (boi), aglutinacao feita pelo poeta.
*** Sandálias feitas com pneus de automóveis e usadas pelo povo mukubal e outros do deserto.
**** Povo (mucubal, kuvale) do deserto do Namibe do grupo etno-linguístico dos Hereros/Helelos.

5 comentários:

  1. Este seu poema é lindo. Li-o primeiro sem o glossário, e ele me pareceu muito sonoro e cheio de imagens, que se tornaram belas depois que conheci o significado de algumas palavras.
    Gostaria de conhecer "Sou Namibiano", no original ou reescrito hoje.

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  2. Bom dia.
    Nossa, cheguei num lugar maravilhoso, que cantinho magnífico. Bravo !
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... deseja uma boa semana para você.
    Saudações Educacionais !
    em http://www.silnunesprof.blogspot.com

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  3. Ainda bem que gostou Silvana, espero-a de volta.
    Kandandu

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  4. Namibiano:
    parabéns, pelo poema, blog(ue),informação, tudo.
    aqui há uns anos conheci uma pessoa que foi cooperante em Angola, nos meados de 80. em conversa falei-lhe na minha infância no deserto do Namibe, mais concretamente no Karakulo e não é, que a pessoa em questão, me desmentiu dizendo que em Angola não havia nenhum deserto? Que tinha estado no Namibe e que era uma cidade... pois também é, disse-lhe eu, mas para além da antiga Moçamedes há muito mais coisas, entre elas areia, welwitchias,gado,mukubalas, praias lindíssimas (lembrei-me agora do Baba) etc e tal.
    enfim!

    beijinho

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  5. Conheci o Baba, a Baía das Pipas... e o deserto, claro!!!
    Kandandu

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