2 de fevereiro de 2010

MITO OVIMBUNDU - O PRINCÍPIO DO MUNDO

Em dezembro do ano passado participei numa rifa promovida pela Martha lá no blogue dela http://mariamuadie.blogspot.com/ e acabei ganhando. Na terceira semana de janeiro recebi o livro pelo correio. Adorei a sua leitura. O livrinho escrito de uma forma muito viva e expressiva, conta várias lendas/mitos do povo Yorubá, um povo africano que vive na actual Nigéria, Benim, Togo, Ghana. A maior parte da população afro-brasileira do Estado da Bahia. no Brasil, é de origem yorubá. Para agradecer à Martha e à sua mãe, Iray Galrão, que é a autora do livro, vou contar, para elas e também para todos vocês, uma lenda da Mitologia Ovimbundu. O povo Ovimbundu fala o idioma Umbundu. A língua nacional angolana com o maior número de falantes e vivem no centro-sul de Angola.
Benguela, Bié e Huambo são províncias de língua Umbundu. Mas também se encontram nas províncias limitrofes de Huíla e Kwanza Sul.
Tela de Arlete Marques (Angola)


Lendas Africanas contadas por Iray Galrao



O PRINCÍPIO DO MUNDO

Suku (Deus), criou o homem e colocou-o num paraíso terreste, nas margens de um grande rio, o rio Kunene (ou Cunene). Suku, chamou a esse primeiro homem FÉTI, isto é, O Princípio.
Féti vivia sozinho na imensa floresta-paraíso que Deus lhe deu para viver. Caçava e comia dos frutos abundantes mas com o fluir dos tempos tornou-se um ser triste e rodeado por uma solidão atroz que nem os bichos da floresta e nem Ombwa, o cão, seu fiel amigo de caçadas conseguiam minimizar. Ele era o único ser racional na imensa floresta. Suku, espreitando do Céu, viu a tristeza inconsulável de Féti.
Um dia, quando Féti se preparava para sair em mais uma de suas solitárias caçadas, ouviu uma estranha e suave melodia. A melodia alertou todos os seus sentidos e imediatamente convergiu para o local.
Dirigiu-se para a margem do grande rio, pois era de lá que provinha a melodia que enfeitiçava os seus ouvidos. Quando lá chegou, Féti não pode esconder o seu espanto, o que se lhe deparou, naquele mágico momento, fez brotar em seu peito uma grande alegria e desenhar em seus lábios um iluminado sorriso. Saindo das águas mansas do Kunene, vinha um ser igual a ele e era tanta a beleza e formosura que esse ser irradiava que, logo alí, Féti se apaixonou, e dando-lhe a mão a levou para viver consigo. Féti, encontrou a primeira mulher, que Suku lhe ofereceu para amenizar a sua tristeza e solidão. Féti, a chamou de TCHÓIA, A Perfeição.
Os ventos sopraram, as chuvas cairam e, depois, vieram os cacimbos... o tempo fluiu e Suku abençoou a união de Féti e Tchóia, dando-lhes um filho – Galangue e, mais tarde, uma filha – Vihé.
Dos filhos de Féti – O Princípio e Tchóia – A Perfeição, descendem os povos do Huambu, Sambu, Galangue, Vihé...

*Nota: Na realidade, o povo Ovimbundu, encontra-se dividido nos seguintes sub-grupos (conheço dezoito):
Va-Mbalundu (Bailundos), Va-Vihé (Bienos), Va-Wambu (Huambos), Va- Ngalangi (Galangues), Va-Kimbulu (Quíbolos), Va-Ndulu (Andulos), Va-Kingolo (Quingolos), Va-Kalukembe (Caluquembes), Va-Sambu (Sambos), Va-Kakonda (Cacondas), Va-Kitatu (Quitatos), Va-Sele (Seles), Va-Mbuí (Amboins), Va-Hanya (Hanhas), Va-Nganda (Gandas), Va-Tchikuma (Chicumas), Va-Dombe (Dombes) e Va-Lumbu (Lumbos).
Máscara angolana


Há quem não considere os Va-Sele (Seles) e os Va-Mbuí (Amboins) Ovimbundu nem Ambundu por considerarem que eles se localizam numa zona de confluência de isoglosas, fronteira linguística entre Umbundu e Kimbundo, muitas vezes citados à parte mas eu não sou autoridade linguística para me pronunciar quanto a este assunto, apresento-vos o que sei de ouvir falar e de ouvir contar de outros mais-velhos.
Alguns dos nomes destes sub-grupos Ovimbundu, resultaram o nome de províncias (Huambo e Bié**) e localidades (Bailundo, Andulo, Huambo, Caconda, Ganda, Porto Amboim).


*Entre parêntisses são os nomes aportuguesados.

**Em português, Vihé resultou Bié porque os primeiros colonos portugueses eram do Norte de Portugal onde, a letra v vale b. Creio que se tentou restaurar o nome da província após a independência mas o uso já tinha tomado conta da boca de toda a gente.




Mito Ovimbundu, recontado por Namibiano Ferreira

Mapa da distribuicao geográfica do idioma Umbundu.

13 comentários:

  1. olá, namibiano, adorei o mito, eu que adoro mitos. a máscara, a tela... coisa mais deliciosa...

    um beijo. kandandu :)

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  2. Amei. Posso colocar em meu blog seu post?
    beijo

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  3. Caro amigo já sentia saudades de vir visitá-lo, espero que estaja completamente recuperado.
    Obrigada por esta lição de história.

    Kandandu

    Carmo

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  4. Namibiano esta de volta e traz de volta tembém a boa poesia e cultura angolana. Teu regresso é benvindo mano.

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  5. Olá poeta, bem vindo à blogosfera!
    Bom tê-lo de volta, já estava sentindo tua ausência.
    Achei muito interessante esse mito.
    Simples e muito bonito, sem aqueles
    recursos bíblicos, cheios de punições e ideias de pecado...(?)

    Dandandu

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  6. Nina, eu também gosto de mitos e este é, concerteza muito belo.
    Kandandu

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  7. Martha, claro que pode colocar no seu blog, é uma honra para mim e para a cultura angolana entrar no seu blog.
    Kandandu

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  8. Carmo, um sincero e fraternal abraco, é bom estar de volta e receber os seus comentários.
    Kandandu

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  9. Décio, meu mano, é de facto bom estar de volta ao convívio da blogosfera. Um novo ano de poesia e divulgacao da nossa cultura se extende na nossa frente.
    Kandandu

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  10. Cirandeira, obrigado pela recepcao.
    Este mito é muito belo. Nao há pecado ao Sul do Equador...
    Kandandu

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  11. Namibiano, fiquei muito feliz com a análise que você fez do meu livrinho e também achei o mito que você contou maravilhoso.Sempre que for possível nos conte outros.Como trabalho na Casa do Benin, fico ligada na Africa Ocidental e deixo de perceber o lirismo e a beleza das histórias das outras regiões africanas.
    Iray Galrão

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  12. D. Iray,
    Salvé!
    Obrigado por sua presenca neste blogue,
    Saravá & grande Kandandu!!

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  13. É complicado, porque os Ovimbundu são um povo formado através do cruzamente de vários povos,tal como aconteceu em Cabo Verde.Autores chamam a este processo de crioulização interna. Os Seles, são do grupo Ngoya, embora muitos se considerem Ovimbundu.

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