Mukuroka Piriquito - Gravura de Mário Tendinha (Angola)
Este poema foi inspirado nesta gravura da autoria do meu conterrâneo e amigo Mário Tendinha, que inaugurou no dia 1 de Outubro do corrente, em Luanda, a exposição NgolaMirrors que podem ver aqui http://www.ngolamirrors.com Mukuroka Piriquito, aqui retratado é um conterraneo lá do Sul, de Tombwa. Nao é personagem inventada, nem pelo pintor nem pelo poeta. Ele existe mesmo. É um homem que foi guia de cacadores e turistas, conhece o deserto e a regiao do Parque Nacional do Iona sem precisar de uma bússula. Ele é a própria bússula e palmilha o deserto, grandes distáncias, a pé. Um grande e forte kandandu para Mukuroka Piriquito, vivam as gentes do deserto do Namibe!
MUKUROKA PIRIQUITO
Cansado, talvez de trazer nos pés o vento de pentear os dias
e o tempo das rotas esquecidas de muitas ondjiras do sul
Mukuroka Piriquito descansa no lar da fogueira acesa
no Omauha com o sol de lembrar Tchitundu-Hulu e a espiar
olho no Mukuroka Piriquito ave de voar na asa palmilhando
areias milhas e poeiras ventos e canseiras nas miragens da sede
do nosso Sul encharcado de amarelo a morrer luminoso
no afago abraço do sol derretendo welwitschias gazelas
e Tômbwa que resiste no abraço velho das casuarinas heroínas
que se cansaram de lutar contra as areias que andam sob os pés
de Mukuroka Piriquito descansando à fogueira do Omauha
naquele dia que o Mário o viu e depois, talvez, o desenhou
como se fosse uma gravura perdida de Tchitundu-Hulu.
Sentado à fogueira do Omauha, Mukuroka Piriquito, descansa
do palmilhar dos dias sol-fadiga de Namibe deixando-se cobrir
de gloriosa poeira ouro que vem, como renda preciosa e ouro sobre azul
levemente poisar sobre a nudez dos seus nonkakos a mostrar
sabedoria de quem sabe ler o sol e o brilho lúcido das estrelas do sul
sempre tão belas nas noites do deserto e os nonkakos de Mukuroka Piriquito
são luandos de cartografar mapas escritos e desenhados no céu sendeiro
sem tempo dos astrolábios presos como toninhas nos olhos vento
que se bebem nas margens sedentas do Kuroka do março da fartura.
Namibiano Ferreira (K.Lynn, 02/10/2009)
Ondjira - palavra Tchiherero que significa caminho, ela aqui está com o plural feito á maneira portuguesa.
Omauha - significa pedra, no mesmo idioma, mas refere-se a um lodge que existe no Parque Nacional do Iona, Namibe, Angola.
Tchitundu-Hulu - é um local no mesmo Parque (Iona) que possui belas gravuras rupestres, representando animais e astros, como o sol, por exemplo. O seu nome significa "Gruta Sagrada do Céu" e é um lugar de culto para os Kwisses, um outro povo do deserto.
Nonkakos - sandálias que se fazem artesanalmente, se observarem os pés de Mukuroka podem ver os seus nonkakos.
Luando - esteira.
Kuroka ou Curoca - rio do deserto, que desagua perto de Tombwa. Este rio só tem água na época chuvosa e em especial entre Fevereiro e Abril. O Kuroka é um pequeno Nilo que atravessa a aridez do município de Tombwa.
Aprendi. E obrigado pela visita do outro dia. Desejo de todos teus dias poesia enorme; e a leveza da tua poesia a latejar igualmente em mim.
ResponderEliminarJ. Tala
Bem, eu li o poema todo e estou aqui, muda diante de tanta beleza e mistério. Obrigada.
ResponderEliminarSempre que venho aqui aprendo. Meu caro, obrigado pela visita.
ResponderEliminarOlá!
ResponderEliminarTens um belo Blog por aqui...
É com satisfação que aporto e aprendo sobre sua cultura...
Abraços
Saudações Poéticas
Everaldo Ygor
Isto tem que ser lido com calma.
ResponderEliminarMas a primeira impressão é de maravilha ...
Até já.
Meu caro,
ResponderEliminarhoje é dia de poesia angolana no Balaio. E você, claro, está presente.
Kandandu/abraço.
Joao Tala, poeta. Obrigado pela visita e retribuo o mesmo desejo.
ResponderEliminarN. Ferreira
"Bem, eu li o poema todo e estou aqui, muda diante de tanta beleza e mistério."
ResponderEliminarJanaina, suas palavras sempre me deixam sem jeito...
Obrigado!
Kandandu
Jamour, ninguém sabe tudo. Estamos sempre em aprendizado uns com os outros.
ResponderEliminarKandandu
Everaldo, seja bem vindo.
ResponderEliminarKandandu
Amigo José Torres (Xistosa),
ResponderEliminarSempre uma grande alegria te-lo por aqui. Entao, já leu com mais calma? Continua achando uma pequena maravilha?
Kandandu
Moacy, obrigado pelo carinho com que vem tratando a Poesia angolana. Como se diz em Umbundu, Twapandula! (Obrigado).
ResponderEliminarKandandu, meu caro.
Namibiano, como não encontrei no seu perfil nenhum endereço de e-mail, vou escrever aqui mesmo: recebi sua informação sobre a antologia de poetas lusófonos. Vou divulgá-la, enviando diretamente o endereço eletrônico, por e-mail, para todos os poetas que conheço, junto com o texto explicativo da antologia.
ResponderEliminarGostaria de dar uma sugestão: que vc. criasse um selo, no qual se clicaria, para cair diretamente no site da antologia e seu regulamento.Não sei fazer isso (sou anarfanet, não consigo passar desse estágio, rs), mas você ou algum amigo seu deve saber como se faz. Esses selos são comuns na net, no enredosetramas mesmo há atualmente um, chamando para uma blogagem coletiva. A vantagem do selo é tanto eu quanto outros blogs literários poderem expor o selo, que ali fica, ajudando a divulgar a antologia.
PS: Eu mesma não vou participar, porque não me considero poeta. Cometo uns versos de vez em quando, mas sou prosadora.