Décio Bettencourt Mateus (DBM) publicou mais um livro de poesia: “Os Portões
do Silêncio”, eis uma breve e pessoal apreciação do mesmo:
1 – Nesta obre sente-se a habitual e tradicional temática social que Décio
já nos habituou, dando voz aos deserdados da fortuna ou às vítimas da inexistência de políticas
sociais de apoio aos mais desfavorecidos da sociedade angolana.
A pesada herança colonial e quase 30 anos de guerra civil são estigmas a
considerar. No entanto, uma década de paz não se tem traduzido numa melhoria
substancial das condições de vida das populações mais carenciadas, esse povo de
musseques que, ainda espera a justiça social, etc, etc...
2 – Em termos de estilo e estética “Os Portões do Silêncio” seguem também
os traços marcados pelo autor desde a publicação, em 2003, do seu primeiro
livro de poemas: “ A Fúria do Mar”. No entanto, se estilo e estética são, nesta
presente obra, o que o autor vem defendendo ao longo da sua produção poética, o
mesmo já não se pode dizer da qualidade que manifestamente progrediu. “Os Poertões
do Silêncio” estão revestidos de uma nova e subtil película poética que nos
remete para o amadurecimento estético do autor.
3 – Neste seu último livro DBM volta, como é seu apanágio, a dar voz ás
gentes sofridas, ao povo que labuta arduamente, a zungueira, o pastor, o
mendigo, o combatente amputado e, a contrapor a estas vozes caladas e sofridas,
as vozes gabarolas da arrogância
daqueles que não vêem o quanto as coisas andam tortas.
DBM é o poeta angolano que, a meu
ver, melhor tem retratado a zungueira, o poema “Vidas Andanças & Zunga” é,
nesse mesmo sentido, uma excelente obra de poesia (Pág. 32/33).
Apesar da voz que o poeta dá aos que não a têm, há também o espaço para o
amor, esse sentimento sublime e humano, contudo “Os Portões do Silêncio” tem
ainda de ser analizado em relação ao poema que dá nome à obra (pág. 46/47). Os
portões são, obviamente, os portões dos palácios do poder. Portas adentro e
ressoa o silêncio, a indiferença. O silêncio de quem não quer ouvir, nem quer
agir e esquece, por exemplo, o que disse o mais-velho, um pouco antes de
morrer: “o que é preciso é resolver os problemas do povo”. “Os portões do
palácio/emudeceram silêncios dolentes”
mas o que salva são, por agora, os protestos “em vozes roucas de silêncios.”
Pois nestes portões ressoam dois silêncios:
I – o silêncio sofrido de vozes
roucas, tolhidas pelo medo e
II – o silêncio corrupto do poder,
um silêncio criminoso e desenvergonhado que o poeta traduz tão bem nos versos:
“no silêncio dos portões de frio/das grades emudecidas das paredes do silêncio!”
Namibiano Ferreira
Gracias Namibiano Ferreira! Kandandu.
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