26 de novembro de 2014

OS PORTOES DO SILENCIO


Décio Bettencourt Mateus (DBM) publicou mais um livro de poesia: “Os Portões do Silêncio”, eis uma breve e pessoal apreciação do mesmo:

1 – Nesta obre sente-se a habitual e tradicional temática social que Décio já nos habituou, dando voz aos deserdados da fortuna  ou às vítimas da inexistência de políticas sociais de apoio aos mais desfavorecidos da sociedade angolana.
A pesada herança colonial e quase 30 anos de guerra civil são estigmas a considerar. No entanto, uma década de paz não se tem traduzido numa melhoria substancial das condições de vida das populações mais carenciadas, esse povo de musseques que, ainda espera a justiça social, etc, etc...

2 – Em termos de estilo e estética “Os Portões do Silêncio” seguem também os traços marcados pelo autor desde a publicação, em 2003, do seu primeiro livro de poemas: “ A Fúria do Mar”. No entanto, se estilo e estética são, nesta presente obra, o que o autor vem defendendo ao longo da sua produção poética, o mesmo já não se pode dizer da qualidade que manifestamente progrediu. “Os Poertões do Silêncio” estão revestidos de uma nova e subtil película poética que nos remete para o amadurecimento estético do autor.

3 – Neste seu último livro DBM volta, como é seu apanágio, a dar voz ás gentes sofridas, ao povo que labuta arduamente, a zungueira, o pastor, o mendigo, o combatente amputado e, a contrapor a estas vozes caladas e sofridas, as vozes  gabarolas da arrogância daqueles que não vêem o quanto as coisas andam tortas.
DBM é o poeta angolano  que, a meu ver, melhor tem retratado a zungueira, o poema “Vidas Andanças & Zunga” é, nesse mesmo sentido, uma excelente obra de poesia (Pág. 32/33).
Apesar da voz que o poeta dá aos que não a têm, há também o espaço para o amor, esse sentimento sublime e humano, contudo “Os Portões do Silêncio” tem ainda de ser analizado em relação ao poema que dá nome à obra (pág. 46/47). Os portões são, obviamente, os portões dos palácios do poder. Portas adentro e ressoa o silêncio, a indiferença. O silêncio de quem não quer ouvir, nem quer agir e esquece, por exemplo, o que disse o mais-velho, um pouco antes de morrer: “o que é preciso é resolver os problemas do povo”. “Os portões do palácio/emudeceram silêncios dolentes”  mas o que salva são, por agora, os protestos “em vozes roucas de silêncios.”
Pois nestes portões ressoam dois silêncios:
 I – o silêncio sofrido de vozes roucas, tolhidas pelo medo e
 II – o silêncio corrupto do poder, um silêncio criminoso e desenvergonhado que o poeta traduz tão bem nos versos: “no silêncio dos portões de frio/das grades emudecidas das paredes do silêncio!”

Namibiano Ferreira


Nota Final: que o poder venha viver nos musseques, talvez assim resolva ou saiba resolver os problemas do povo.

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