José Luís Mendonça nasceu em Novembro de 1955, na comuna da Mussuemba,
município do Golungo Alto, Angola. Licenciou-se em Direito pela Universidade
Católica de Angola. A sua participação mais visível na construção da polis
angolana tem-se cingido, até ao momento, aos andaimes do jornalismo, paixão
esta que lhe valeria a atribuição do Prémio “Notícias Gerais da Lusofonia”, no
Concurso CNN-Multichoice Jornalista Africano do Ano 2055. Em 1998, elaborou e
implementou com o apoio do Ministério da Educação e do Instituto Nacional do
Livro e do Disco, o projecto intitulado “Ler é crescer”, na vertente de
bibliotecas manuais, com o objectivo de incentivar o gosto pela leitura e
aprimorar a capacidade de redacção e compreensão da língua portuguesa,
principalmente entre as camadas mais jovens (dos dez aos catorze anos), em
escolas nas províncias de Luanda. Bié e Moxico, projecto que teve o suporte
bibliográfico da União dos Escritores Angolanos, da UNESCO e do Instituto
Camões. Dirige, actualmente, o jornal “CULTURA” suplemento do Jornal de Angola,
Luanda.
Para além de tudo,
o seu verdadeiro reino é a “poesia descida/das embarcações futuras movidas só
de pensar”, como esclarece em “Poesia”.
O autor arruma a sua produção poética da seguinte forma:
1. Ciclo da poesia experimental iniciado com Chuva Novembrina (INALD, 1981)
e fechado pelo caderno Gíria de Cacimbo (UEA, 1987).
2. Ciclo do lagarto: começa com Respirar as Mãos na Pedra (UEA, 1990) e vai
até 1995, quando o INALD fez publicar Quero Acordar a Alva.
3. Ciclo da ascensão à raiz: de Logaríntimos da Alma (UEA, 1998) até Ngoma
do Negro Metal (Chá de Caxinde, 2000). A antologia Cal & Grafia (vinte Anos
de Poesia) encerra estes três ciclos.
O ano de 2002 inaugura um quarto período ainda não caracterizado.
Algumas Obras:
Chuva Novembrina, edição do INALD, 1981, Luanda.( Prémio de poesia
"Sagrada Esperança" - 1981,)
Gíria de Cacimbo, União de Escritores Angolanos, 1986; (Prémio Sonangol de
Literatura)
Respirar as Mãos na Pedra; União de Escritores Angolanos; 1989, (Prémio
Sonangol de Literatura de 1988)
Quero Acordar a Alva; INALD 1997, (prémio "Sagrada Esperança -
1996" (ex-aequo com Se a Água Falasse, de João Maimona)
Logaríntimos da alma. 1998
Poemas de amar, 1998
Ngoma do Negro Metal (2000), Edições Chá de Caxinde
Poemas:
NO ÓVULO DAS CIDADES
Começaram as
chuvas.
O dia caminha mole
e cinzento
dentro da tromba do
elefante.
Nosso rio
estruturou no céu
seu caudal pleno de
batuques e ferreiros.
Mais altas que o
vento voam as mulheres
de seios sangrando
o sono azul dos pássaros.
A cabeça da terra
irriga os lábios da infância.
As madeiras
suspensas da fala estão húmidas.
Amanhã vamos levar
nossas enxadas e depor
uma lágrima de
esperma no óvulo das cidades.
José Luís Mendonça
In Não Saias Sem Mim à Rua Esta Manhã
UM CANTO PARA MUSSUEMBA
Ó mãe dos gafanhotos
sentados na lavra da boca deserta:
quantos comboios pariu a tua fome
sobre tijolos gravados ao corte da língua?
O abecê do tempo sangra no pilão
e a chuva de Abril nos cafeeiros
é a mulher kilombo, dizem
morreu um leão no fogo do teu ventre
onde caminhei de animais na mão.
José Luís Mendonça
SUBPOESIA
Subsaarianos somos
sujeitos
subentendidos
subespécies do
submundo
subalimentados
somos
surtos de
subepidemias
sumariamente
submortos
do subdólar somos
subdesenvolvidos
assuntos
de um sul
subserviente
José Luís Mendonça
In Chuva Novembrina
POESIA VERDE
(Para Carlos Drummond de Andrade)
No meio do caminho nunca houve uma só pedra
As pedras nascem na boca e a boca é o seu caminho
Das pedras que comemos as cidades ainda falam
pelos cotovelos da noite Não eram pedras eram pedras
com cabeça tronco e sexo Pariram fábricas
de pedras montadas sobre a língua E as pedras comeram
a pedra que restou no meio do caminho
José Luís Mendonça
DONGOS*
Mulher pequena,
descobres no sal
dos meus ombros o
suave gotejar
dos mitos
incinerados na batalha de Ambuíla
com a sua longa
sede de dongos submersos.
Dongos? Sim, dongos
é o que crias
sobre a pele dos
séculos nunca ressequida
de dizer sou povo.
À luz dessa janela
vista assim de um ângulo rente ao chão
te amo outra vez
olhando a copa dos mamoeiros no auge do verão.
O sol é o mesmo cão
rafeiro castanho muito claro com
manchas brancas no
pescoço
comendo da sua lata
o tutano das promesas.
E eu vi-te desceres
do céu. E a terra tremeu.
José Luís Mendonça
* Canoa
Belas poesias.
ResponderEliminarObrigado por partilhar.
Bom fim de semana.
Abraço.