26 de maio de 2014

POEMA DE SANGWANGONGO MALAQUIAS


1
Lancei os dados
no pano verde
de uma floresta
de bambus.
Aqui nem a chuva
tamborila
nem a zebra corre
por correr.
Há um rio sem margens
no caminho verdejante
onde os elefantes vão morrer.
2
Metemos o mundo
em trabalhos
só porque sonhámos
e fomos insubmissos.
Pusemos à lapela
os brilhos da lua cheia
nas facas longas
que degolaram a claridade.
Tenho na garganta um travo amargo a liberdade.
3
A cabeça virada
à cabeçada
e a voz das zaragatas.
Um semba vadio
grita gestos lancinantes
de ciúmes e facadas.
4
Se te perdi, meu amor,
encontro-te nos caminhos
onde me movi
apenas para me perder.
Quem perde os seus amores
colhe tempestades
de violinos e flores.
5
Ainda estou à tua espera
neste cemitério de navios,
na colina que o vento fustiga
às portas da foz do Bengo.
Espero por ti na lagoa
onde o sol faz ninho
e o mar se derrama em mangonha
no meu copo de vinho.
Estou à tua espera meu amor derradeiro…


Sangwangongo Malaquias

Poema retirado de Cultura - Jornal Angolano de Artes e Letras

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