Foto: nguimbangola.blogspot
Nasceu em Menongue, na província do Cuando Cubango. Sobre o ser poeta, o autor diz: “Desde muito
cedo me habituei a ouvir vozes silenciosas no meu interior. Desde muito cedo
compreendi que tinha de colocar estas vozes no papel!”
É licenciado em Geofísica pela Faculdade de Ciências da Universidade
Agostinho Neto. Leccionou em vários estabelecimentos de ensino, com realce para
o IMIL onde ensinou Física. Actualmente trabalha na Indústria Petrolífera.
É membro fundador da Associação de Geofísica de Angola.
Escreve artigos sobre xadrez e outros, na imprensa escrita.
É membro da UEA – União dos Escritores Angolanos.
Regularmente, Décio publica as suas poesias no blogue A Mulembeira: http://mulembeira.blogspot.co.uk/
“Uma poesia de
desafio e de plena esperança em oferta para a reconstrução de Angola. Uma voz
crítica e necessária para concretar um mundo mais solidário e igualitário. Uma poesia
em que o amor predomina como guia de futuro de concórdia e de paz.” Disse o
galego Xosé Lois Garcia, sobre a bela poética deste jovem e promissor poeta mwangole.
Obras Publicadas:
A Fúria do Mar, Editorial
Nzila, 2003;
Os Meus Pés Descalços,
UEA, 2007;
Xé Candongueiro!,
UEA, 2009;
Gente de Mulher, UEA,
2012.
Poemas:
DIALOGANDO COM AS
ESTRELAS
Às estrelas
Vou falar das moças
belas
Algures com um
filho nos braços
No rosto os traços
De uma promessa não
cumprida
Depois do corpo
usado
Às estrelas
Vou falar dos
mutilados
Não terão sido
enganados?
E a angústia
daquelas
Que debalde esperam
pelos maridos
Numa mata qualquer
desaparecidos e esquecidos
Às estrelas
Vou falar das
crianças famintas
E gritar quantas
De entre elas
Morrem de fome
Antes mesmo de
terem um nome
Às estrelas
Vou falar da guerra
Aqui na minha terra
E perguntar se no
mundo delas
Também é assim
Com matanças sem
fim
Às estrelas
Vou falar das celas
Em que aprisionaram
a liberdade
E encarceraram a
felicidade
Numa noite qualquer
Para esquecer
Às estrelas
Vou pedir um
passaporte
Com visto para
marte
Em venturosas
escalas
Rumo ao infinito
universo
Deixando para trás
este mundo perverso
Às estrelas
Vou falar com
elas...
Décio Bettencourt
Mateus
in "A Fúria do
Mar"
POEIRA VOLTOU
Poeira, o chefe do
posto
Voltou
Mudou de
nacionalidade
Cor e rosto
E voltou com sua
brutalidade
Mudou de
nacionalidade e regressou!
Poeira voltou
Para kuatar os
filhos dos outros
Para kuatar os
filhos dos negros
Mudou de rosto
E regressou
Mudou de rosto e
regressou para nosso desgosto!
Poeira voltou
E anda pelos
musseques do Rangel, Sambizanga, Samba…
São Paulo, Baixa,
Mutamba…
Poeira regressou
Para novamente
kuatar os filhos dos outros
Para novamente
kuatar os filhos dos negros!
E andam muitos, um,
dois, três, quatro Poeiras…
Andam em carrinhas
pela cidade
Atrás das
vendedoras
Atrás das
zungueiras, com brutalidade
Poeira voltou
E cabeças a abanarem
de desgosto, hum, hum, Poeira regressou!
Poeira voltou
E desce da carrinha
armado a correr
Desce da carrinha
armado e toca a bater
Porrada na
zungueira
Porrada na
vendedora
E mãos na cabeça em
lamentos, aiué, aiué, Poeira regressou!
Poeira voltou
Recebe o negócio
das zungueiras
Bate nas vendedoras
E corrida com os
ambulantes
Poeira voltou,
kibutos apressados em cabeças descontentes
E pensamentos
revoltados, hum, hum, Poeira regressou!
Poeira voltou
Kibutos espalhados
no passeio
Ponta-pés
impiedosos no negócio da vendedora
Ponta-pés no
ganha-pão da zungueira
Poeira voltou,
ponta-pés implacáveis no suor alheio
E corações
ressentidos, hum, hum, Poeira regressou!
Poeira, o colono
que kuatava os filhos dos outros
O colono que
kuatava os filhos dos negros
Mudou de cor e
voltou
Mudou de
nacionalidade e regressou
Poeira voltou e
bate na vendedora
Poeira voltou e
recebe o negócio da zungueira!
Poeira, o chefe do
posto
Mudou de nome e
nacionalidade e voltou com outra cor e outro rosto!
Kuatar: agarrar,
prender
Zungueira:
vendedoura ambulante
Kibutos: coisas,
pertences
Décio Bettencourt
Mateus
In “Os Meus Pés
Descalços”
Belas poesias.
ResponderEliminarBom início de fim de semana.
Abraço.