16 de abril de 2014

ESTE CHOCALHAR DE PÉS







Este chocalhar revolto
em pés empoeirados
e cacimbados
no quente do asfalto
vem do longe dos musseques
e traz o som dos batuques.

Este chocalhar de pernas femininas
a lutar bagatelas
e gritarias
em pedaladas fugidias
vem do longe das sanzalas
e foge a dança das minas.

Vêm perdidas das matas
perdidas das kubatas
estas chocalhadas em chão quente
de sol arrogante
vêm corridas das lavras
e trazem a fome das terras.

Este arrastar de pés zungueiras
com falas de asneiras
em conversa matumba
vem do longe dos musseques
e dança a dança dos batuques
a resmungar o chão da Mutamba.

Este fedor forte
conhece os grãos da estrada
os grãos da caminhada
e vem d’alguma parte
escapulido das minas
vêm d’alguma parte estas chocalhadas femininas.

Esta catinga fedeu-se distante
fugidia deslocada
do kimbo aos gritos mãos na cabeça
desesperançada
sem graça
esta catinga fedeu-se em andanças galopantes.

Este chocalhar em pés encardidos
e rachados
este chocalhar revolto
em pés de zungueira no quente do asfalto
vem do longe dos musseques
e dança a dança dos batuques!

  
Décio Bettencourt Mateus.

in Gente de Mulher.


Luanda, 5 de Agosto 2006. 

3 comentários:

  1. Belo, sem dúvida. Dá para sentir a vibraçao.

    Obrigado pelo comentário e visita.

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  2. «Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

    Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela?»

    Chico Buarque

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  3. Mano Namibiano muito obrigado. Sempre um prazer.
    António Eduardo, agradecimentos. Saudações.

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Obrigado pela visita e comentário!