Rio Cuíto - Angola
Conheço chuvas de Nvulombera antigas como a aurora do Mundo!
Chuvas de velho e conhecido crepitar na força máscula do tantã
ngoma de sangue ressoando no suor da alma pela mata de minha
memória diluída em bátegas soltas, na aragem das nuvens, no país
de Xamavú - terra-vermelha - e eu mwangolé no sopro e no fragor
ácido desta diáspora assente nos poros deste cacimbo permanente...
Chuvas antigas latejando sangue nas veias que não esquecem
o chão quente do ventre da terra e na pele curtida dos tambores
a dedilhar desejos e missangas verdes que vão ondulando chanas
na pérola dos bagos de água, chovendo na carícia melancólica
do vento livre do sertão, malembelembe-devagar e morrendo
rendas pardas de cacimbo mas renascendo renovo de chuvas
filhas neófitas das chuvas antigas como a aurora velha do Mundo.
Nvulombera assassinada a cada cacimbo mas a renascer ainda
na fala só de cantar tantã alucinado nas cordas dos meus sentidos,
a vibrar palpitando a taquicardia mística da vida do coração
muximangoma do batuque africano, kazumbi das chuvas antigas
a renovar profundos e novos desejos de futuros verdes de um sol
a baloiçar luzidio na prata Nvulombera dos lábios promessa da lavra.
Namibiano Ferreira
Que belo poema, Nami. te senti um poeta tão forte quanto o pulsar de tua terra!!!
ResponderEliminarBeijo
Cirandeira, o meu muito Obrigado.
ResponderEliminarUma belo texto.
ResponderEliminarAbraço.
António, muito Obrigado.
ResponderEliminarBelíssimo poema, nao conhecia o poeta. Seria possível saber o significado das palavras, creio, angolanas?
ResponderEliminarObrigado
Mário
Mário,
ResponderEliminarAqui estão:
Nvulombera – Esta é uma palavra criada por mim, peguei na palavra nvula (chuva, kimbundu) e na palavra ombera (chuva, tchiherero). No entanto, há que diga ombura, em vez de ombera, mas eu gosto mais de ombera.
Ngoma – Tambor.
Mwangolé – Também muangolé, angolano.
Malembelembe – Devagar, devagarinho.
Muximangoma – Outra palavra criada por mim pela aglutinação de muxima (coração) e ngoma (tambor), kimbundu.
Kazumbi – Espírito. Alma de outro mundo.
Cacimbo – Nome generalizado da estação seca mas também pode ser névoa, nevoeiro.
Amigo
ResponderEliminarAs fotos que apresenta são lindas e no que escreve há um amor muito grande que transparece em todas as suas palavras!
Um abraço a tudo, que nos apresenta
maria Luísa
D. Maria Luísa, obrigado pela sua visita e comentário.
ResponderEliminarNada mais lindo do que esta sensibilidade para cantar e traduzir cada sentimento por nossa terra, nosso chão. Sentir seus sons, cheiros, viajar por suas entranhas e extrair os mais lindos momentos que na poesia faz o encanto.
ResponderEliminarBela construção/inspiração.
Somos filhos da terra e a ela devemos o nosso amor.
Muito bom Namibiano Ferreira, cada vez mais proximo desta poesia que fala da terra, da gente, do coração.
Que bom ter voce para ler e aprender um pouco mais desta minha mãe de além mar.
Abraços amigo.
Agradeço as suas palavras, Toninho.
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