Picada de Marimbondo
(Para o Pila – companheiro de
infância)
Junto da
mandioqueira
perto do muro de
adobe
vi surgir um marimbondo
Vinha zunindo
cazuza!
Vinha zunindo
cazuza!
Era uma tarde em
Janeiro
tinha flores nas
acácias
tinha abelhas nos
jardins
e vento nas
casuarinas,
quando vi o
marimbondo
vinha voando e
zunindo
vinha zunindo e
voando!
Cazuza!
Marimbondo
mordeu tua filha
no olho!
Cazuza!
Marimbondo
foi branco que
inventou...
Ernesto Lara Filho
Biografia:
Poeta angolano, Ernesto Pires Barreto de Lara Filho nasceu a 2 de novembro
de 1932, em , Angola. Era irmão da escritora Alda Lara.
Depois de concluir o ensino secundário, escolheu Portugal para continuar a
sua formação académica, tendo terminado, em 1952, o curso de regenteagrícola,
na Escola Nacional de Agricultura de Coimbra.
Deambulando por vários países da Europa, trabalhou muitas vezes em
restaurantes e na construção civil, como operário, para fazer às
dificuldadeseconómicas.
Depois de uma estadia mais prolongada por terras da contracosta africana,
em Moçambique, regressou a Angola.
Fixando-se em Luanda, aí exerceu o jornalismo, paralelamente com a sua
atividade de quadro especializado dos serviços de Agricultura e Florestas
deAngola.
Jornalista prestigiado, assinou diversas reportagens e crónicas no Jornal
de Angola, na página "Artes e Letras" do jornal A Província de
Angola, no Diário deLuanda, no ABC, na revista Mensagem da CEI (Casa dos
Estudantes do Império) e na revista Cultura(II).
Antes da independência do seu país, foi preso pela PIDE (Polícia Política
de Intervenção do Estado) devido à sua atividade política e cultural de apoio
aomovimento independentista, apoio esse bem patente na sua escrita jornalística
e literária.
Em colaboração com Rebello de Andrade, dirigiu a Coleçcão Bailundo da qual
foram publicados três livros de poesia.
Tendo sido extinta pela mão repressiva do regime colonial a revista
Mensagem (1951-1952), não foi destruído, contudo, o desejo de continuar a dar
voz àsmanifestações de carácter nacionalista. Então fechadas as janelas abertas
pelos "mensageiros" outras se abriram, de imediato, através da
criação darevista Cultura II, publicada entre 1957 e 1961 e da qual foram
publicados doze números.
Na verdade, esta geração, conhecida como a "Geração da Cultura",
vai retomar e aprofundar as temáticas empenhadas dos seus
antecessores,continuando a denúncia da escravidão e da miséria.
Integrado nesta corrente, Ernesto Lara Filho, como muitos outros
intelectuais angolanos seus contemporâneos, vai constituir-se como um
importante pilarna luta contra o domínio colonial.
Preocupado e empenhado com os problemas da sua terra, cada vez mais
agudizados, o autor entende ser necessário criar as condições para que
todospossam, através da palavra literária, do estudo, da análise e da crítica,
equacionar a realidade angolana.
Através de uma escrita eufemística e caracterizada por uma simbiose do
português padrão e do português dos musseques, Ernesto Lara Filho
vaiconstruindo um edifício literário, assente nas traves mestras da
angolanidade, enquanto produto de uma cultura viva e que vive das tradições
africanas.
O reconhecimento da sua obra é consagrado pela presença de muitos dos seus
textos em diversas antologias literárias, publicadas entre 1957 e 1976,entre as
quais destacamos Antologia da Poesia Angolana (1957); O Corpo da Pátria -
Antologia Poética da Guerra do Ultramar,1961-1971 (1971) e No Reinode Caliban.
Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa (1976).
Poeta cofundador da União dos Escritores Angolanos, escreveu os seguintes
títulos: Picada de Marimbondo(1961); O Canto de Martrindinde e OutrosPoemas
Feitos no Puto (1964); Seripipi na Gaiola(1970); O Canto de Martrindinde
(compilação das três obras anteriores, 1974).
As suas crónicas jornalísticas foram compiladas em 1990 sob o título
Crónicas da Roda Gigante.
Um brutal acidente de viação, no Huambo, roubou-lhe a vida a 7 de fevereiro
de 1977.
Trata-se de uma bela poesia.
ResponderEliminarAbraço.