Os sona (singular
lusona) são desenhos feitos na areia pelo povo Tchokwé que habitam o Nordeste e Leste
de Angola e países limítrofes (Rep. Democrática do Congo e Zâmbia). Outrora, os sona eram comuns a outras áreas
geográficas de Angola mas foram desaparecendo e também hoje os desenhos na
areia dos Tchokwé correm o mesmo destino. Há cada vez menos pessoas a
desenhá-los. O matemático Paulus Gerdes, descobriu neles propriedades matemáticas
notáveis, por exemplo no domínio da Análise Combinatória e editou um pequeno
livrinho que nos ensina a executar sona e também nos explica esta notável tradição
Tchokwé. Eu tenho um exemplar em língua inglesa “Drawings from Angola”, não sei
se existe em português mas creio que há uma versão brasileira.
Como se desenha
um lusona?
Depois de preparado e alisado o solo, o desenhador começa pela marcação de uma quadrícula de
pontos, marcados a espaços regulares com as pontas dos dedos. Em seguida, à volta
dos pontos, vai traçando linhas retas e curvas que se mantêm sempre
equidistantes dos pontos. As linhas são sempre fechadas, sendo cada uma delas
traçada sem levantar o dedo da areia e seguindo regras bem específicas, que são
impostas pela tradição. Enquanto vai traçando as linhas o desenhador narra a sua história. Um excelente desenhador tem a admiração e o respeito do seu povo.
Foto blog Angola Rising
Os sona são uma
forma de escrita. Nele o desenhador pode contar uma história ou uma outra
realidade da vida. Há tempos postei aqui no blogue um mito Tchokwé, para
apreciarem a força e a importância cultural dos sona volto a publicar o
mesmo mito, primeiro de forma escrita e, depois, utilizando desenhos sona.
O Mito Tchokwé:
Um dia o Sol foi
visitar Deus. Deus ofereceu ao Sol uma galinha e disse-lhe: “Regressa de manhã
antes de te ires embora”. De manhã a galinha cacarejou e acordou o Sol. Quando
o Sol revisitou Deus, ele disse-lhe: “Não comeste a galinha que te dei para o jantar.
Podes então ficar com a galinha mas deves regressar aqui todos os dias.” Daí a
razão porque o Sol circula a terra e nasce todas as manhãs.
A Lua também foi
um dia visitar Deus e também recebeu uma galinha como presente. De manhã a
galinha cacarejou e acordou a Lua e Deus voltou a dizer-lhe: “Não comeste a
galinha que te dei para o jantar. Podes então ficar com a galinha mas deves
regressar aqui em cada vinte e oito dias.” Daí a razão porque a circulação
total da Lua dura vinte e oito dias.
Um homem foi
visitar Deus recebendo também uma galinha como presente mas o homem estava com
fome depois de tão longa caminhada e comeu parte da galinha para o jantar. Na
próxima manhã já o Sol estava bem alto quando o homem acordou. Comeu o resto da
galinha, visitando Deus em seguida. Deus disse-lhe: “eu não ouvi a galinha
cacarejar esta manhã.” O homem com certo receio respondeu: “eu tive fome e
comi-a.” “Está bem,” disse Deus, “mas ouve, tu sabes que o Sol e a Lua
estiveram aqui e nenhum deles matou a galinha que lhes ofereci.” Essa é a razão
que nem o Sol nem a Lua morrerão um dia. Mas tu mataste a tua galinha e assim
deves morrer como ela. Porém, à tua morte, deves regressar aqui outra vez.”
"E assim é!"
No topo está Deus, no lado esquerdo o Sol, no direito a Lua e em baixo um ser humano. Este desenho conta a história do mito publicado acima.
Um outro desenho do mesmo mito:
Aqui, e segundo Mário Fontinha, a linha reta representa o caminho para Deus.
Encontrei
na net este blogue que apresenta uma extensa e valiosa ionformação sobre os sona, aconselho a visitá-lo, caso queiram
saber mais: http://amateriadotempo.blogspot.co.uk/2011/05/desenhos-na-areia-em-africa.html
Lusona da Amizade.
Olá , quero dizer eu foi ótimo encontrar est material sobre o desenho sona, porque na obra da artista Iris Buchholz Chocolate, atualmente esta em exposição na 11º Bienal do Mercosul em Porto Alegre / RS tem este desenho e estou pesquisando para saber o significado.
ResponderEliminaratenciosamente
Maria José Alves