29 de maio de 2012

UM LIVRO...

Um livro sobre Sita Valles e, de certa maneira,  sobre o 27 de Maio de 1977, essa nódoa negra na jovem História de Angola. "Honramos o passado e a nossa História", um simples verso do Hino Nacional que é preciso honrar também...









Sita Valles, nasceu em Cabinda, angolana de origem luso-goesa. Teve uma vida muito breve (1951-1977). Mas intensa. Desde que tomou consciência das injustiças do mundo, não mais deixou de ser um turbilhão político. Muito activa, quer na clandestinidade, quer em democracia, ela lutou por uma sociedade melhor.
Depois da independência optou pela nacionalidade angolana. No 25 de Abril de 1974 estudava Medicina em Lisboa, mas no Verão Quente regressou à que pensava ser a sua terra. Na República Popular de Angola defendeu a ortodoxia soviética em supostos tempos de democracia. Ali acabou por ser acusada, sem direito a contraditório, de ser um dos cérebros do alegado putsch, do 27 de Maio de 1977. E ali foi fuzilada, pensa-se, em Agosto desse ano.
Três décadas depois da sua execução - juntamente com José Van Dunem, Nito Alves e muitos outros -, a jornalista Leonor Figueiredo, autora de Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola (Alêtheia Editores, 2009), investigou, recolheu testemunhos, procurou memórias antigas de uma jovem mulher e da sua história brutal, que se tornou num mito de uma geração.




Excerto do livro:


Diz-se que Sita Valles foi fuzilada às cinco da manhã do dia 1 de Agosto de 1977. Um tiro em cada perna, um tiro em cada braço. O corpo caiu na vala previamente aberta, antes de desferido o disparo mortal. Ou o que restava de Sita, após as torturas e a orgia de violações pelos homens da Direcção de Informação e Segurança de Angola (DISA), a polícia política do regime. Um tractor aplainou o terreno. Diz-se também que a bela, elegante e inteligente comunista de origem goesa – uma portuguesa de coração africano – se manteve rebelde até ao último momento. Dizia que não tinha medo e que quanto mais depressa a matassem melhor. Ao recusar ser vendada, obrigou os atiradores do pelotão de fuzilamento, a enfrentarem o seu olhar, antes de apertarem o gatilho.




Sita Valles
Revolucionária, Comunista até à Morte (1951-1977)
Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 250
Editor: Aletheia
ISBN: 9789896222949


28 de maio de 2012

27 de MAIO - 35 ANOS




(Na época, uma foto de nitistas publicada pelo Jornal de Angola e recordada pelo semanário Novo Jornal, em 2009**)

Decorrem hoje 35 anos que aconteceu uma das páginas mais negras da história político-social de Angola.



Há 35 anos ocorria, o nunca esclarecido, fratricídio do 27 de Maio entre militantes do MPLA, então MPLA-Partido dos Trabalhadores.

De um lado, apoiantes de Agostinho Neto, à época o presidente da então República Popular de Angola, e do então major José Eduardo dos Santos, relator do Processo movido a Nito Alves.

Do outro, precisamente Nito Alves - a quem se atribui a autoria da famosa carta que conteria as não menos famosas "13 Teses de Nito Alves", embora haja que as mesmas teriam sido escritas por um militante e comissário político em Cabinda de nome Pedro Santos(*) - e de outras personalidades que fomentariam o "fraccionismo", assim então foi descrito pelo apoiantes de Neto, como Zita Valles, Ademar Valles ou José Van-Dunem.

É certo que houveram, esses são pelo menos os diversos testemunhos, mais ou menos credíveis, imensos mortos e centenas de detidos, alguns dos quais continuam desaparecidos.

Oficialmente, só estão referenciados como "mortos oficiais" 7 angolanos entre apoiantes e adversários: os 4 acima citados do "fraccionismo", Saydi Mingas, Helder Neto e Eugénio Veríssimo da Costa "Nzaji".

Esta foi uma crise que ultrapassou a gamela do MPLA. nela intervieram directa e indirectamente soviéticos e cubanos. Com a particularidade de, cada um, apoiar uma das facções. segundo alguns autores e analistas terá sido aqui que começaram a esfriar as relações entre a antiga URSS e Cuba.

Há quem também adiante que foi aqui que Neto começou a perde a "simpatia" de Moscovo e...

35 anos depois ainda há famílias que gostariam de fazer o devido luto.

Só que as autoridades angolanas, ou melhor, as cúpulas do MPLA mantêm um absurdo mutismo sobre o 27M e as suas consequências.

É altura do MPLA abrir-se, de vez, à comunidade e criar, internamente ou mesmo através do Governo nacional, na linha do que fez, e muito bem, a África do Sul e, mais recentemente, o Brasil, uma Comissão de Verdade onde tudo pudesse ser transmitido à comunidade e libertar todos os fantasmas.

Não creio que isso viesse a criar engulhos ao partido maioritário. Pelo contrário. A transpar~encia é o melhor remédio e as famílias respirariam, finalmente, mais facilmente!

Enquanto isso, muitos angolanos vão continuando a olhar para o 27M e esperando...



* Esta matéria pode ser lida no meu livro "Angola, potência regional em emergência", que está - ou pelo menos já esteve - à venda na Livraria da Chá de Caxinde!
** Esta foto também pode ser vista no meu livro!


NOTA: Uma rectificação e uma clarificação. A companheira de Nito Alves é Sita e não Zita como aqui escrevi. As 13 teses de Nito foram reconhecidas como as "13 teses em minha defesa"!
O meu agradecimento a quem me chamou a atenção.



Créditos do texto: Eugénio Costa Almeida no seu blog: http://pululu.blogspot.co.uk/


Nota do Autor do blog:

Sita Valles, nao era, nem nunca foi companheira de Nito Alves mas sim de José Van Dúnem.

25 de maio de 2012

DIA DE ÁFRICA - 25/05/2012


ÁFRICA

Chego à boca de cena
e digo África:
Quando eu morrer
dá-me os teus olhos
 – anjos – de Kilimanjaro;

Monte Kilimanjaro

dá-me os teus beijos
– Tômbua – de Namibe;
dá-me os teus afagos
– sonhos – de Kalandula

Quedas da Kalandula (rio Lucala - Angola)

e deixa-me o dongo flutuar
Kwanza no caminho
verde de Kalunga...

Namibiano Ferreira


19 de maio de 2012

SOFIA ROSA (com saudade)


Sofia Rosa, cantor angolano assassinado em 1975.
Quem matou Sofia Rosa?





12 de maio de 2012

SONA: OS DESENHOS NA AREIA


Os sona (singular lusona) são desenhos feitos na areia pelo povo Tchokwé que habitam o Nordeste e Leste de Angola e países limítrofes (Rep. Democrática do Congo e Zâmbia).  Outrora, os sona eram comuns a outras áreas geográficas de Angola mas foram desaparecendo e também hoje os desenhos na areia dos Tchokwé correm o mesmo destino. Há cada vez menos pessoas a desenhá-los. O matemático Paulus Gerdes,  descobriu neles propriedades matemáticas notáveis, por exemplo no domínio da Análise Combinatória e editou um pequeno livrinho que nos ensina a executar sona e também nos explica esta notável tradição Tchokwé. Eu tenho um exemplar em língua inglesa “Drawings from Angola”, não sei se existe em português mas creio que há uma versão brasileira.


Como se desenha um lusona?

Depois de preparado e alisado o solo, o desenhador  começa pela marcação de uma quadrícula de pontos, marcados a espaços regulares com as pontas dos dedos. Em seguida, à volta dos pontos, vai  traçando  linhas retas e curvas que se mantêm sempre equidistantes dos pontos. As linhas são sempre fechadas, sendo cada uma delas traçada sem levantar o dedo da areia e seguindo regras bem específicas, que são impostas pela tradição. Enquanto vai traçando as linhas o desenhador narra a sua história. Um excelente desenhador tem a admiração e o respeito do seu povo.

Foto blog Angola Rising


Os sona são uma forma de escrita. Nele o desenhador pode contar uma história ou uma outra realidade da vida. Há tempos postei aqui no blogue um mito Tchokwé, para apreciarem a força e a importância cultural dos sona volto a publicar o mesmo mito, primeiro de forma escrita e, depois, utilizando desenhos sona.

O Mito Tchokwé:

Um dia o Sol foi visitar Deus. Deus ofereceu ao Sol uma galinha e disse-lhe: “Regressa de manhã antes de te ires embora”. De manhã a galinha cacarejou e acordou o Sol. Quando o Sol revisitou Deus, ele disse-lhe: “Não comeste a galinha que te dei para o jantar. Podes então ficar com a galinha mas deves regressar aqui todos os dias.” Daí a razão porque o Sol circula a terra e nasce todas as manhãs.

A Lua também foi um dia visitar Deus e também recebeu uma galinha como presente. De manhã a galinha cacarejou e acordou a Lua e Deus voltou a dizer-lhe: “Não comeste a galinha que te dei para o jantar. Podes então ficar com a galinha mas deves regressar aqui em cada vinte e oito dias.” Daí a razão porque a circulação total da Lua dura vinte e oito dias.

Um homem foi visitar Deus recebendo também uma galinha como presente mas o homem estava com fome depois de tão longa caminhada e comeu parte da galinha para o jantar. Na próxima manhã já o Sol estava bem alto quando o homem acordou. Comeu o resto da galinha, visitando Deus em seguida. Deus disse-lhe: “eu não ouvi a galinha cacarejar esta manhã.” O homem com certo receio respondeu: “eu tive fome e comi-a.” “Está bem,” disse Deus, “mas ouve, tu sabes que o Sol e a Lua estiveram aqui e nenhum deles matou a galinha que lhes ofereci.” Essa é a razão que nem o Sol nem a Lua morrerão um dia. Mas tu mataste a tua galinha e assim deves morrer como ela. Porém, à tua morte, deves regressar aqui outra vez.”

"E assim é!" 



No topo está Deus, no lado esquerdo o Sol, no direito a Lua e em baixo um ser humano. Este desenho conta a história do mito publicado acima.
Um outro desenho do mesmo mito:

Aqui, e segundo Mário Fontinha, a linha reta representa o caminho para Deus.

Encontrei na net este blogue que apresenta uma extensa e valiosa  ionformação sobre os sona, aconselho a visitá-lo, caso queiram saber mais: http://amateriadotempo.blogspot.co.uk/2011/05/desenhos-na-areia-em-africa.html

Lusona da Amizade.


ANGOLA VISTA: NAMIBE VASTO - VAST NAMIB

Foto maravilhosa da autoria do fotógrafo portugues Jorge Coelho Ferreira. Um grupo de Mucubais a sombra de uma árvore, observam dois homens jogando wela-na-kulilya (mancala).




"Namibe vasto é um belo livro de fotografias de Jorge Ferreira “sobre paisagens, gentes, animais e plantas da província do Namibe”, com texto e legendas de Cristina U. Rodrigues e design gráfico do João Ribeiro Soares. Trata-se do primeiro volume de um projecto deste autor sobre as dezoito províncias de ANGOLA, com a intenção de procurar o que é único em cada uma delas, o que permaneceu da história antiga e o sobretudo aquilo que permanece actual.
De salientar ainda o facto da imagem de Angola que o Jorge Ferreira nos parecer querer transmitir fugir do estereotipo dos safaris fotográficos e apostar numa visão da actualidade, das actividades, edifícios e diferentes formas de vida que, juntamente com as paisagens, vai encontrando no caminho. Este facto e a boa qualidade gráfica do livro fazem-nos esperar com expectativa os próximos volumes. 
No prelo está já o livro sobre o Kwanza Sul com texto da Ana Paula Tavares e uma viagem pelo Cunene de preparação do livro seguinte. Parabéns e Boas Viagens!"