O Pensador é a mais famosa estatueta de Angola. É considerada uma obra de arte fidedignamente angolana, figura emblemática, símbolo do país e que aparece, inclusive, na filigrana das notas de kwanza. Segundo algumas fontes, a origem da estatueta do Pensador está ligada aos cestos de adivinhação (ngombo) e nada têm em comum com a estátua do pensador actual. A adivinhação com cestos está ligada ao povo Tchokwé que habita a província das Lundas (Lunda Norte e Sul). Durante a época colonial, a empresa Diamang, que explorava os diamantes da Lunda, criou um Museu Etnográfico e trouxe para esse museu escultores tradicionais tchokwé incumbidos de fazer estatuetas ao gosto estético ocidental, aí teriam nascido e irradiado as actuais estatuetas do Pensador.
Caso seja verdade e assim parece, há que dizer, as estatuetas não perderam de todo o seu vínculo à escultura tradicional angolana.
Na tradição cultural, as estatuetas são usadas em ritos mágico-religiosos, desempenhando a função de amuletos que conteriam forças sobrenaturais. Mutadis mutandis poderemos mesmo afirmar que estamos perante uma espécie de “tarot” angolano.Uma das práticas utilizadas nesses ritos é a adivinhação, em consulta feita por uma pessoa interessada numa intervenção contra um mal, seja ele físico (doença) ou social. O sacerdote (nganga) utiliza vários processos de adivinhação, geralmente com objectos que simbolizam qualquer coisa, como estatuetas.
Ngombo - cesto de adivinhação (nossoskimbos)
No nordeste de Angola, e etnia lunda-tchokwé usa o cesto de adivinhação, chamado de ngombo, do qual o sacerdote adivinhador retira pequenas figuras esculpidas em madeira, as quais irão determinar a sorte do consulente. Foram estas figuras que, como já se disse, resultaram na mais famosa estatueta angolana, “O Pensador”. Se virmos o simbolismo de qualquer uma delas, verificamos que, curiosamente, nenhuma sugere atitude introspectiva, pelo menos na acepção grega clássica.
O Pensador tem a sua origem na figurinha que se chama Kalamba Ka Etho* que representa um momento de lamentação (carpideira). O aparecimento desta figura vaticina infortúnio e se ao lado dela não aparecer uma figura que amenize esse prognóstico são aconselhados o uso de amuletos.
Namibiano Ferreira
Pensador de origem Tchokwé e do lado direito A Pensadora, estatueta menos comum mas que também aparece com alguma regularidade, embora a figura masculina seja predominante.
*“KALAMBA KA ÊTHO - Figura estilizada também designada por lemba, kachakulu e kuku wa lunda (ascendente masculino). Figura antropomórfica sentada em posição típica de sepultura (mãos segurando a cabeça e cotovelos apoiados nos joelhos); antepassado paterno ou materno que personifica o culto ancestral. Quando este espírito provoca doenças exige-se um ritual adequado para se conseguir a cura. Não pode faltar a cerveja de palmeira (maruvo) e o rufar de tambores. É bom presságio aparecer com lukano (pulseira) e outros símbolos de realeza. É usado como amuleto e lembra ao consulente que deve respeitar os parentes falecidos e as tradições.”
(Créditos Multiculturas)
Figuras de Kalamba Ka Etho (Multiculturas)
Gostei imenso deste post. Adoro conhecer estes caminhos surpreendentes da arte, que misturam tradição, mercado, invenção, reinvenção... Como eu gostaria de ter em casa um pensador ou pensadora! Vou ver se consigo, com o marido de uma prima, que tem estado com frequencia em Angola. São caros, Namibiano?
ResponderEliminarAbraços, e obrigada pelo post.
Janaina, na minha postagem sobre o Mercado de Benfica fala-se que os precos podem ir de 500 a 800 Kwnzas ou muito mais tudo dependendo do tamanho do artefacto.
ResponderEliminarKandandu
Fiquei muito mais esclarecida sobre a origem desta estatueta mítica. Já li e ouvi algumas outras interpretações, principalmente por parte de comerciamentes de arte africana, sobre esta peça tão singular, mas acredito que a sua é realmente aquela em que me posso basear para o meu "trabalho", por ser a única que acho credível. Obrigada. Otelinda.
ResponderEliminarKandandu
Ah, e amei a Canção Nostalgia interpretada por Carlos Burity! Grande intérprete.
ResponderEliminarOtelinda
Kandandu
Namibiano, não se ofenda se lhe chamar professor Namibiano? É que tenho aprendido tanto consigo...
ResponderEliminarGosto de tudo o que étnico, e a mistura do sagrado com o profano que tanta alegria dão ás nossas festas populares em honra desde ou daquele Santo.
Um abraço
Carmo
Muito interessante as informações
ResponderEliminarsobre a arte angolana. Achei belíssimas as estatuetas do Pensador e da Pensadora, sobretudo. Só conhecia O Pensador, de Rodin...Acho a Arte Africana de uma riqueza, e quase não é conhecida aqui no Brasil!Lamentavelmente.
Você tem andado "sumido"...já se recuperou dos últimos acontecimentos? Faço votos que sim!
Um abraço, kandandu
Estou adorando estes posts... Esse em especial me interessou
ResponderEliminarNamibiano, fiquei triste porque perdi o prazo para a III Antologia Lusófona...q pena.
Beijo
Ainda bem que gostaram desta postagem.
ResponderEliminarObrigado.
kandandu
Kandandu para você também
ResponderEliminarVoltarei, mal possa
Prometo, porque só conhecia um amigo que diz como você...
kandandu/o
e gosto muito dele.
Ná
Olá Namibiano, sou Bárbara, da misosoafrica. Queria te pedir esse material para traduzi-lo ao espanhol e fazer a publicação no meu site. É possível? aguardo seu comentário.
ResponderEliminarBárbara
Bárbara, você pode. só respeitar as fontes.
ResponderEliminarObrigado