Algumas pessoas têm perguntado se se festeja o Natal em Angola ou se eu comemoro o Natal. Vai daí, resolvi fazer esta postagem.
Sim, eu comemoro o Natal, sou católico. O Natal é amplamente festejado em Angola. A maioria da população é cristã. Mas não se festeja um Natal consumista, como aqui na Europa pois a maioria da nossa gente vive, infelizmente, com muito pouco, muito pouco mesmo.
Durante o regime marxista era feriado também, com o nome de Festa da Família. Segundo dados da Embaixada de Angola a religião encontra-se assim distribuída: Católicos 51%; Protestantes 17%; Tradicional (Animista) 30%; Outras 2%.
Há que referir aqui uma Igreja Protestante de cariz essencialmente nacional, a Igreja Tocoísta, fundada por Simão Toco e que actualmente está em expansão fora de Angola. Nesta postagem vou dar-vos mais informações sobre Simão Toco, um profeta angolano, um homem de paz, ele viveu em Tômbwa, com residência fixa, no Farol da Ponta Albina.
Em Angola, em casa dos meus avós em Tômbwa, era hábito celebrarmos o Natal da seguinte forma: na véspera celebrávamos na tradição católica portuguesa, bacalhau de consoada e missa do galo. Já o dia de Natal era celebrado com uma fausta muamba de galinha acompanhada por fúndji de fuba bombó e como lá, em dezembro, é calor, comíamos a muambada debaixo de uma parreira de videiras. Para os que não sabem, no Namibe, as culturas mediterrânicas dão-se muito bem, é como se estivessem em casa, nomeadamente as videiras e oliveiras.
Actualmente, embora católico, tenho uma visão independente em relação à religião, não só sobre o catolicismo mas a religião em geral. Acredito em Deus, mas não acredito na religião. Deixo-vos um poema:
PAGANUS
Adoraria o Sol o Mar
e o murmúrio da Natureza.
O correr infinito dos rios
e toda a fremente beleza
da Vida e do luar beijando
prata nos lábios azeviche da Noite.
Morreria pagão, assim,
sem nenhum deus por definição
não fosse este acreditar
num Deus do perdão...
num Deus do perdão...
mas hoje, morto, assassinado
no altar profano da religião.
Namibiano Ferreira
Simão Toco, o Profeta Angolano
Simao Toco
Simão Toco nasceu em Fevereiro de 1918, no norte de Angola, em Quisadi Quibango e é considerado um profeta africano. Iniciado muito jovem no culto baptista, numa linha de pensamento próxima de Simão Kimbangu. Ele funda um movimento religioso inicialmente denominado “Kitawala” e que persegui-a sobretudo o poder colonial Belga no Congo, onde vivia pouco antes da independência deste.
Fundação da igreja tocoísta, ocorre em 25 de julho de 1949 e o que assinala o nascimento deste movimento, é a narrativa da descida do Espírito Santo sobre Simão Toco e seus companheiros, numa noite de oração, quando estes começaram a tremer, falar em línguas desconhecidas e citar passagem da Bíblia, notadamente Actos I e II.
Uma vez presos e deportados pelo regime belga e entregues ao governo Português, em 1950, o movimento tocoísta adquiriu uma nova dimensão. Simão Toco e seus aderentes foram espalhados por diversas partes do território angolano, no intuito português de enfraquecer o movimento. Todavia, este espalhamento (que incluiu sucessivas transferências de Simão Toco para várias regiões do país) resultou na disseminação da doutrina tocoísta, tornando o movimento trans-étnico e nacional e não apenas de carácter bakongo/angolano.
As características da doutrina tocoísta eram basicamente a da recusa do regime colonial, sem no entanto estabelecer uma ruptura a nível político com este regime, adoptando uma postura de obediência às autoridades e de dedicação ao trabalho e aos estudos, com ênfase no aprendizagem da língua portuguesa. A separação (espiritual) operada pelo grupo religioso do “mundo dos brancos” foi acompanhada do rompimento com alguns valores tradicionais, sobretudo relacionados às autoridades tradicionais.
Esta atitude indica a vontade de alheamento do grupo religioso tanto do sistema burocrático colonial (mundo dos brancos) como do sistema “costumeiro” (poder tradicional).
Neste caso, a importância dada às mulheres na hierarquia da igreja, a proibição da poligamia e a adopção de algumas regras de vestimenta (à ocidental), corte de cabelo e uso de símbolos de identificação indicam esta posição refractária ao sistema tradicional e de criação de um grupo à parte.
De acordo com alguns relatos, Simão Toco, seria portador de alguns poderes sobrenaturais, o que teria motivado o Papa João XXIII a enviar um emissário para se encontrar com ele em 1962. Outro facto referido, seria a afirmação nos anos 80 de João Paulo II, de que “Cristo é Africano e vive no norte de Angola”
Simão Toco morre na noite de 31 de Dezembro a 1 de Janeiro de 1984.
É de referir a implantação do movimento tocoísta no Japão.
Para saber mais ler: "Simão Toco - A Trajectória de um Homem de Paz" editor: Editorial Nzila – Angola.
Retirado do Blog: http://isafromaveiro.blogspot.com
PONTA ALBINA
Nzambi:
–São muitos os caminhos
para te encontrar…
sendeiro longo, muita Leba,
ondjira de subir e descer,
Kalunga de muito remar
e em Tômbwa
o Farol que vivia no farol
encontrou um caminho
de afirmação, paz e liberdade
Namibiano Ferreira
PARA TODOS OS VISITANTES E LEITORES DE ONDJIRA SUL, OS MEUS SINCEROS VOTOS DE FELIZ NATAL & PRÓSPERO 2010.
Caro Nami,
ResponderEliminarComo te compreendo!
Lá em casa era a velha mandioqueira, adequadamente iluminada, durante a noite que abrigava os muitos convivas pelo dia de Natal adiante...
Não me quero lembrar... lá entre a Paiva Couveiro e os Combatentes...
Morreria pagão, assim,
sem nenhum deus por definição
não fosse este Deus do perdão...
mas hoje, morto, assassinado
no altar profano da religião.
Também aqui estou contigo.
UMAS FESTAS MUITO FELIZES para ti e para aqueles que amas.
Um abraço
Como leitor de seu blogue, grato pelas precioas informações sobre o Natal. Gostei também dos poemas editados.
ResponderEliminarUm grande abraço natalino.
Namibiano, da minha nuvem vim lhe desejar um Natal alegre, mágico, e dizer que gostei muito da descrição dos seus natais angolanos.
ResponderEliminarCaro irmao de Angola
ResponderEliminarDeixo aqui o meu desejo
de festas felizes e um novo
cheio poesia encantada da terra
Forte Kandandu
Jamour
Nas asas do amor
NF: venho desejar um Natal feliz. Receba um beijo da Bahia.
ResponderEliminarPara todos voces votos de Boas Festas e muito obrigado pela vossa presenca neste blogue, espero continuar a merecer as vossas visitas e comentários em 2010.
ResponderEliminarKandandu mwangolé!!!
Feliz Natal!
Namibiano é um prazer ler a sua poesia e ter acesso a informações que eu até agora era uma leiga.
ResponderEliminarObrigada por todos os ensinamentos, pela cultura angolana.
O Feliz Natal e um 2010 cheio de poesia com a mesma musicalidade.
Beijinhos
Carmo
Tenho estado ausente e assim continuarei até meados de Janeiro, Namibiano. Visitei agora a sua página. Admiro a riqueza do seu conteúdo em todas as dimensões. Gostava de saber e ter disponibilidade para trabalhar assim na minha. Não tenho mas as páginas dos amigos internautas vão-me enchendo o coração.
ResponderEliminarFelicito a formatura da filha e o poema lindíssimo que lhe dedicou. E as buganvílias de que tanto gosto...
Um ano de 2010 muito Belo e cheio de inspiração e saúde, para si e família.
Um abraço.
Madalena
Carmo, retribuo os votos e muito obrigado pelas suas visitas e comentários. Espero continuar escrevendo até morrer... se calhar alguns versos nao vao ser bem vindos pelos politicos da minha terra mas que hei-de fazer se o sentir do Povo vem primeiro?
ResponderEliminarKandandu e bom ano!
Madalena, o meu sincero obrigado pelas suas palavras e visitas, sempre que puder espero-a aqui nem que seja para uma rápida leitura silenciosa.
ResponderEliminarBom ano novo.
Kandandu