Apresento-vos o IMBONDEIRO, uma árvore que simboliza a africanidade. O imbondeiro é uma árvore mítica e mística, um verdadeiro símbolo de Angola e tantas vezes mencionada neste blogue e na minha poesia.
Imbondeiros ao por-do-sol
O seu nome científico é Adansonia Digitata, mas é também conhecida como Baobá Africano. O imbondeiro possui um tronco muito espesso na base, chegando a atingir até nove metros de diâmetro. O seu tronco vai-se estreitando em forma de cone e apresenta grandes protuberâncias. As folhas brotam entre os meses de julho e janeiro. Em geral, o imbondeiro floresce durante uma única noite, apenas, no período de maio a agosto. Durante as poucas horas da abertura das flores, os consumidores de néctares nocturnos - particularmente os morcegos -, procuram assegurar a polinização da planta.
Tudo no imbondeiro serve para a sobrevivência do ser humano. Vale ressaltar que esta árvore também se constitui em uma fonte preciosa de medicamentos. As suas folhas são ricas em cálcio, ferro, proteínas e lipídios, para além de serem usadas como um poderoso anti-diarreico e para combater febres e inflamações. Um pó feito de folhas secas vem sendo utilizado para combater a anemia, o raquitismo, a disenteria, o reumatismo, a asma, e é usado, ainda, como um tónico.
Flor do imbondeiro, com duas jovens múcuas.
O seu fruto é denominado múcua. A casca do fruto, é utilizada pelas pessoas como tigelas. A polpa e a fibra de seus frutos são capazes de combater a diarreia, a disenteria e o sarampo. O cerne da fruta combate a febre e inflamações no tubo digestivo; as sementes estão repletas de óleo vegetal, podendo ser assadas, moídas e consumidas como uma bebida que pode substituir o café.
Derrubar um imbondeiro é um sacrilégio em Angola. No que diz respeito à construção e carpintaria, ele só é utilizado quando não há um outro material mais adequado. A sua madeira serve para a construção de instrumentos musicais e o seu cerne rende uma fibra forte usada no fabrico de cordas e linhas.
Múcua, fruto do imbondeiro (aberto ao meio)
No tempo das chuvas
MÚCUAS
As múcuas sempre me fizeram lembrar lágrimas
negras a escorrer de mãos digitais em desespero.
Múcua:
fruto mácula
veludo a pingar
mágoa negra
lágrima seca a chorar
escorrendo nos braços
mãos-imbondeiro
abertas aos céus
anunciando a crescer
desespero da terra
povo inteiro
múcua, mákua, mágoa
lágrima negra imbondeiro
a chorar.
Namibiano Ferreira
As múcuas, parecendo ratos pendurados pelo rabo.
Um bom texto, um bom poema. Espero publicá-lo em breve no Balaio. Em tempo: temos em Natal um famoso baobá, conhecido como o Baobá do Poeta., já que se encontra numa pequena propriedade do poeta Diógenes da Cunha Lima, na própria cidade, que a adquiriu apenas para que a especulação imobiliária não o derrubasse.
ResponderEliminarKandandu/abraço.
Nami,
ResponderEliminarBelíssimo este post sobre os "nossos" imbondeiros.
Não conhecia alguns detalhes e fiquei maravilhada também com as imagens... e o Neves e Sousa sempre presente,
As múcuas sempre me fizeram lembrar lágrimas
negras a escorrer de mãos digitais em desespero.
Se olharmos com olhos de sentir, é isso mesmo, Nami...
Um abraço
Namibiano, já havia lido e vc se garante: é imboeniro, que bom pra nós. Sua árvore-poema grita Angola, camarada.
ResponderEliminarCoincidência ou não, hoje publiquei uma lenda angolana.
Um beijo, visse.
ah, sim: a múcua parece pulmões; já a flor, putamadre! que sensual.
ResponderEliminarbeijo.
Moacy, sei que no Brasil existem alguns imbondeiros, noeadamente um no Recife, creio que na Praca da República.
ResponderEliminarBonita atitude do poeta para sorte do imbondeiro. Das várias coisas que sao sacrilégio em Angola, uma é derrubar imbondeiros e a outra matar andorinhas (piápias, em Umbundu) pois piápia é passarinho de Suku, Deus.
Kandandu
Meg, ainda bem que gostastes da postagem. O imbondeiro é um grande e místico fascínio desde que me sei gente.
ResponderEliminarBjs
Nina,
ResponderEliminarSalvé o IMBONDEIRO!!!
Obrigado pelo comentário.
Kandandu mwangolé!!
Meu caro, em Nambuagongo, alguns quilómetros de Luanda, existe (penso que ainda existe porque não pude lá ir há pouco tempo) um Imbondeiro que tinha mais de 12 metros de diãmetro onde fizeram uma capela.
ResponderEliminarAbraços e felicidades para a nova Antologia
Eugénio Almeida
Meu Caro, obrigado. Estará a falar da capela do Grafanil????
ResponderEliminarAbracos
Achei a múcua e o imbodeiro parecido com o jatobá (nome que se dá à árvore e ao fruto). Tinha um desses na margem do rio da minha cidade. Dava nove ao porto perto da minha casa. Pulava de suas raízes pra dentro do rio, pra dentro da felicidade.
ResponderEliminarMuito lindo Namibiano,
ResponderEliminarGostei imenso deste post.
Parabéns, enfim vejo bem retratada a historia e valor cultural do imbondeiro.
eu sou um apaixonado pelo livro O PEQUENO PRINCIPE, da onde conheci essa arvore maravilhosa que é o baobá. nao a conhecia de fotos, mas agora fiquei encantado em ver a foto da arvore com suas flores e seus frutos. parabens ao proprietario do site.
ResponderEliminarCaro irmão planetário,
ResponderEliminarAchei seu espaço muito diferente e especial. Depois - que lindo esse poema sobre as MÚCUAS. Que profundidade de sentimentos. Parabéns.
Abraços de luz
Hospital Espiritual do Mundo
Namibiano Ferreira,
ResponderEliminarTrabalhei durante 10 anos em Angola. Recentemente iniciei o blog Colheita de Girassóis. Quero mostrar nele um pouco de Angola. Tenho reverência e fascínio pelo imbondeiro (como em Angola). Fui pesquisar na net sobre ele... Encontrei este seu trabalho belo, que explica tudo que gostaria de mostrar, e cuja conclusão é seu poema MÚCUAS, que me emocionou.
Pretendo fazer o link do seu texto com meu imbondeiro. Se houver qualquer problema, por favor, me avise que retiro o link. celinadutra@gmail.com
Obrigada por tudo de belo que você espalha no mundo.
Abraço.
Celina
Prezado Namibiano Ferreira, peço desculpas por ter publicado um dos seus poemas sem pedir a devida permissão [citei a fonte], pois só vi seu aviso após ter feito a publicação. O poema sobre o fruto do Imbondeiro está em minha página no Facebook: Fátima Pereira.
ResponderEliminarAdorei o seu blog. Fez-me reviver os anos da minha infância passados entre Lucira, Moçâmedes (Namibe, Porto Alexandre (Tômbwa) e Benguela... Maravilha!... Vou escolher um dos seus poemas, tão simples quantos intensos, para publicar no meu blog. Posso?
ResponderEliminarFelicidades,
Odete
Parabéns pela poesia, linda!
ResponderEliminarEstou pesquisando sobre os Baobás para um plano de aula. Por acaso você conhece alguma música com o tema da árvore ou seu fruto...agradeço.
cristine
Cristine,
ResponderEliminarObrigado plea visita e comentário, mas infelizmente nao conheco nenhuma musica.
Namibiano