19 de novembro de 2009

HOSPITALIDADE

Tela de Neves e Sousa (Angola)


Irmão,
a noite cai no caminho
da tua viagem.
Ofereço-te meu fogo
e meu lar.
Longa é a noite
na ronda de mabecos
e chacais.
Entra, chega-te
à fogueira
trazendo a paz
no pó dos teus pés
sendeiros
e abraça a paz
da minha oferta.
Sobre o luando
a partilha
do que nos dão
os Deuses:
fundji bombó
feijão d’óleo de palma
kissângua
de refrescar a alma
frutas suculentas
coloridas
sape-sape gajajas
mangas
maboques pitangas.
Depois...
dançaremos roda
nos olhos quentes
da noite
à fogueira
do ritmo muxima
dos tambores
e das palmas cadentes
das mulheres
a dançar
o semba desejo
do corpo másculo
homem sendeiro
a desejar
o mistério quente
sumaúma do amor
e do corpo húmido
de uma mulher...


Namibiano Ferreira
Tela de Ducho (Angola)

14 comentários:

  1. Ótimo poema,
    meu caro,
    ótimo poema.

    Kandandu/abraço.

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  2. Nami,

    Um poema cheio de ritmo, e de gajajas, palavra que lembro da minha infância - à sobra duma enorme gajajeira foram muitas as brincadeiras infantis...
    E o Neves e Sousa...as telas quentes do Neves e Sousa.

    Um abração para ti,


    ps: O meu obrigada pela visita e comentário no post do Nozes Pires, no Experimentalidades. Kandandu

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  3. Oi,
    Como, no Brasil, hoje
    é o Dia da Consciência Negra,
    publiquei no Balaio um
    poema bastante conhecido
    de Agostinho Neto.
    Ah, sim,
    tinha me esquecido de
    dizer que as ilustrações
    - maravilhosas pinturas -
    são emocionantes.

    Kandandu.

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  4. É isso mano. É isso mesmo, as nossas fogueiras de tradição oral, as conversas, as estórias, O Leão e o Macaco, a nossa comida, fundji bombó, feijão d’óleo de palma e a nossa kissângua! É isso mano. Deve até dar vontade de chorar, um poema desses aí na terra alheia e fria dos brancos. Maravilha mano.

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  5. Namibiano maravilhoso poema. Que sensibilidade. O mundo seria definitivamente melhor com a pureza existente na sua poesia.

    Kandandu

    Carmo

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  6. Moacy, obrigado pelo elogio.
    Kandandu

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  7. Meg, de facto é um poema cheio de ritmo eu comia agora era umas gajajas e ou maboques.......
    Bjs
    Nami

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  8. Décio.... xé mano!! Ficas assim só a falar essas coisas na boca de muxima e eu vou chorar mesmo. Obrigado pelos elogios, os poetas tambem sao mortais e gostam de ouvir elogios destes.
    Kandandu, mano!

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  9. Maria Muadie, o seu "lindo" a dobrar soa bem, obrigado.
    Kandandu

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  10. Carmo, um sincero obrigado. Os poetas sao homens como os outros, com defeitos e qualidades mas que tentam ser melhores, pelo menos através da sua poesia e quantos pagaram essa ousadia com a própria vida? Lembro-me de Lorca, por exemplo.
    Kandandu

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  11. Bom dia Namibiano,

    Belíssimo poema, e a hospitalidade é mesmo uma característica nossa.

    Sobre aquela pesquisa, até agora
    ninguém pôde dar-me um significado a altura, talvez os que me circundam não sejam especialistas conhecedors do kimbundo, vou aprofundar a procura.

    Kandandu!

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  12. Rosa, ainda bem que gostou deste poema porque a ideia do título surgiu exactamente a lembrar a nossa lendária hospitalidade, repartindo, muitas vezes, o que já é pouco. Será vaidade de minha parte dizer que gosto muito deste poema? E gosto por essa hospitalidade mwngolé que encerra.
    Obrigado pelo trabalho de pesquisa, se nao conseguir nao se preocupe.
    Kandandu

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  13. Olha que poeta maravilhoso.
    A riqueza de Angola está debaixo do solo e na poesia dessa gente linda.
    Voltarei mais vezes.
    Beijos do Brasil.
    Juracy Ribeiro.

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Obrigado pela visita e comentário!