20 de outubro de 2009

O DESERTO DO NAMIBE

Litoral do Namibe.

Hoje vamos visitar o sul de Angola, província do Namibe de que tanto ouvem falar aqui neste blogue.

As dunas.


O Deserto do Namibe é partilhado por Angola e a Namíbia. Estas fotos são todas em território angolano, província do Namibe, onde nasci.

A região é considerada como sendo o mais antigo deserto do mundo, tendo permanecido em condições áridas ou semi-áridas há pelo menos 80 milhões de anos. A sua aridez é causada pela descida de ar seco arrefecido pela corrente fria de Benguela que passa na costa. Menos de 1 cm de chuva cai anualmente e o comum dos mortais poderá pensar: esta terra desértica é completamente estéril. Mas não, não é estéril, animais e plantas fazem dele há milhões de anos o seu lar e ecosistema favorito tanto que não existem plantas, como por exemplo, a Welwitschia Mirabilis, em mais outro local do planeta. O encontro do ar seco e quente do deserto com o ar frio e húmido da corrente fria de Benguela, junto à costa, trazem uma névoa matinal que localmente chamamos cacimbo, esse orvalho é a água que alimenta plantas e animais e penetra até 50 km a partir do litoral.




Homens Mukubais/Ovakuvale (foto de Alex. Correia).

Os homens também aqui habitam há milhares de anos. As gravuras rupestres de Tchitundu-Hulu, são disso um exemplo e para os especialistas elas foram executadas, provavelmente, há 20.000 anos por um misterioso povo talvez os ancestrais dos Ovasekele (vulgo Bosquímanos).


O litoral do deserto é riquíssimo em peixe e ao longo dos rios de enxurrada (só trazem água no período chuvoso, nomeadamente entre fevereiro e abril) pratica-se a agricultura de subsistência. Essa água não provém de chuvas caídas no deserto mas a centenas de quilómetros, nas terras altas da Huíla. Durante o período colonial os portugueses trouxeram culturas europeias que se adaptaram muito bem. Sobretudo culturas mediterrânicas como a vinha, a oliveira e frutas diversas, como pêssegos, melões, maçãs e ameixas.

Vários povos habitam o deserto. A maioria são bantus, pertencentes ao grupo etnolinguístico dos Hereros ou Helelos, cujos principais subgrupos são Dimbas (Ovandimba), Himbas (Ovahimba), Mukubais (Ovakuvale), Cuanhocas/Curocas/Mukurocas (Ovakwanhoka) e Guendelengos (Ovangendelengu). Nas áreas urbanas, das cidades do Namibe e Tômbwa, vivem os Kimbares, uma mistura de vários povos vindos do centro e norte de Angola porque os Hereros nunca deixaram a sua maneira tradicional de viver, nascem pastores e morrem pastores.




Arco do Carvalhao, onde existe uma lagoa.


Guelengues (Orix), quase nao necessitam de água.



Perto da Lagoa do Arco

Mulheres Himba/Ovahimba, pintam-se de vermelho.


A invulgar Welwitschia/Tombwa rodeada pela aridez.


Os povos não-bantus são pequenos grupos, na sua maioria ainda recolectores que se encontram espalhados pelo deserto e também por outras regiões do sul de Angola: Ovasekele, Ovakwisi, Ovakwepe e Ovakankala. Muitas vezes o mesmo povo é conhecido por diferentes nomes ou nomes deturpados, por exemplo e seguindo a mesma ordem: Camessequéis/Bosquímanes/Cassequéis, Mucuíssos/Cuísses, Cuepes e Mucancalas. A linguagem destes povos tem pequenos cliques.




Welwitschia Mirabilis, a raridade e o exotismo da flora.



Deixo-vos aqui este link de um lodge que se chama Omauha (Pedra) e que se localiza no deserto. Uma maneira de conhecer o meu Namibe é visitá-lo!









E para terminar o poema:

ETERNIDADE



É no SUL
do Sul ao sol
na aridez
de sua concha
que eu quero
fazer o meu fogo,
engordar os meus bois
e bem depois
enroscar-me
no eterno
aconchego
aridez de sua concha.



Namibiano Ferreira

8 comentários:

  1. Olá Namibiano, muito boa tua postagem sobre o deserto da Namíbia
    um lugar pouquíssimo conhecido do
    resto do mundo.As fotos estão belíssimas e tuas informações sobre
    os habitantes de lá são preciosas.
    Aliás, é muito difícil encontrarmos
    alguma coisa fidedigna sobre o continente africano.Mais raro ainda
    é encontrarmos com facilidade, poetas e escritores africanos. Acho muito bom ter a oportunicade de conhecer e aprender um pouco mais sobre a África. Obrigada por isso. Gostaria que me permitisses fazer a utilização de algumas de tuas fotos e também a publicação de
    um de teus poemas lá em "meu espaço".
    Uma boa semana para ti

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  2. Cirandeira, autorizacao dada. A maioria das fotos sao da net, as que tem nome sao desses autores.
    Kandandu

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  3. Estou adorando as "aulas".
    Um presente além dos seus belos poemas.
    kandandu

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  4. Maria Muadié, ainda bem que está gostando das "aulas"! Agora vou intercalando a poesia com pequenas informacoes e imagens, tentando divulgar Angola, sua arte e suas gentes.
    Kandandu

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  5. Eu ha 22 anos que tenho a felicidade de viver nestas encantadoras terras e se pouco conheço o interior desta Provincia, o trajecto Tombwa / Namibe / Tombwa o conheço bem e entao costumo dizer ou fazer esta observaçao. « Podemos ir e vir todos os dias ao Tombwa ou ao Namibe fazendo o memso itenerario a mesma hora e com as mesmas condiçoes climatericas e nunca a mesma paisagem se repete no mesmo local. Este trajecto regista varia cambiantes de tons que sempre diariamente nos surpreende pelo que eu digo que ha 22 anos por aqui ainda nao conheço nada desse trajecto porque cada dia e diferente.
    As fotos sao lindas e retratam a vida deste terra. Um abraço de um admirador

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  6. Armando, tudo o que voce disse é VERDADE!!! Bem haja, o Namibe é esse lugar mágico, sim.
    Espero que volte mais vezes, tenho pena de nao poder contactar consigo pois nao tem blog. Obrigado por ser meu admirador.
    Kandandu.

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