26 de junho de 2008

LAVRA DE MORTE


Tela de Eleuterio Sanches


Lá em baixo
na margem do Cubango
p’rós lados do Cuangar
Karungu João
foi na lavra.
Filho na cacunda
quinda na cabeça
foi na lavra
Karungu João
no Cuando-Cubango
p’rós lados do Cuangar
Karungu João
foi na lavra
procurar mandioca
filho na cacunda
quinda na cabeça
que fome é bicho
roendo, mordendo...
foi na lavra
Karungu João
só encontrou mina
debaixo do pé
as pernas perdeu
e o filho morreu
pequeno, pequenino
na cacunda
de Karungu João
Aiuê, Suku ianguê!












Cacunda - costas.
Aiue, Suku iangue! - ai meu Deus!










NAMIBIANO FERREIRA





NO TO LANDMINES!

NAO AS MINAS ANTIPESSOAIS!

RAÇA: HOMO SAPIENS!

Primeira foto creditos: http://paradoxosdoedu.blogspot.com/










Não creio em raças.

Não há raças!



O que há, o que realmente existe, são culturas, culturas humanas, mais ou menos tecnológicas

mas TODAS são uma resposta humana em relação ao meio ambiente que as rodeiam.


-A minha RAÇA?

elementar meu caro racista, como voce e todos os outros homens,

eu sou, nos somos homo sapiens sapiens...


Namibiano Ferreira






OLOMBERA


Quedas da Kalandula - Malanje - Angola




Ombera, a chuva que nos há-de lavar
a alma roída de balas e sofrimento
é a mesma que nos há-de sarar
o corpo amputado e gretado de feridas
fundas e sentidas de sangue vertido
escorrendo em vão, como acácias rubras
assassinadas, pelo chão macerado de nossa Casa.


Essa é Ombera, a chuva bela
que a Paz, enfim, há-de fazer Olombera!




Namibiano Ferreira

12 de junho de 2008

A ROSITA DE MALANJE


Um velho texto de 1998, depois de ver as notícias da Guerra Civil em Angola. Uma imagem ainda presente de três meninas da cidade de Malanje...




A ROSITA DE MALANJE

Os olhos tristes da Rosita de Malanje, menina e já mulher.
Na verdura dos seus nove anos, mais parecendo cinco ou seis, anda brutalmente arremessada aos deveres e responsabilidades da maternidade não parida.


A imagem fere a televisão: a Rosita, na tristeza dos seus olhos, dá a mão à irmã do meio e no colo transporta a outra irmã, filha caçula: encomenda à espera da morte...






Namibiano Ferreira




Uma pequena nota, a foto que acompanha o poema não retrata, de maneira nenhuma, as imagens que então passaram no noticiário televisivo.

1 de junho de 2008

AINDA A GUERRA NAS MINHAS MÃOS




(Origem nao identificada - parece tratar-se da Serra Leoa - mas infelizmente tambem se aplica a Angola. Esta image dramatica originou este poema.)

*


Construimos a Paz subindo degrau a degrau a construção. E o homem vive ainda a guerra na encruzilhada perene dos dias que lhe faltam para que lhe cantem komba. Acabou a guerra e no entanto, ainda a guerra nestas minhas mãos que não vejo, nestas minhas mãos perdidas em vão numa guerra que nada vos custou, a vós, a não ser as minhas mãos irremediavelmente perdidas e, o prémio ganho, a dependência às mãos e à vontade alheias.




Namibiano Ferreira

Komba - Cerimonias funebres